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Millena Marques
Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 11:30
Em 2023, mais da metade de crianças e adolescentes viviam com alguma privação na Bahia. São 2,4 milhões de meninos e meninas, entre 0 e 17 anos, que possuem algum tipo de restrição ou não têm direitos básicos, como acesso à educação, água e saneamento - o segundo maior número do país, atrás apenas de São Paulo (3,3 mi). Os dados são do estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil – 2017 a 2023, divulgado pelo Unicef na última quinta-feira (10). >
O relatório foi elaborado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) e analisa sete dimensões básicas de direitos: renda, educação, informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil. A dimensão de alimentação também foi avaliada a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Esta é a quarta edição desta pesquisa.>
Os piores índices da Bahia estão relacionados com a educação e o trabalho infantil. O estado ocupa a vice-liderança nos dois pilares. Ao todo, 364 mil pessoas, entre 0 e 17 anos, sofriam restrição na educação - não frequentavam a escola ou frequentavam com atraso. No total, 112,4 mil pessoas dessa faixa etária exercem algum tipo de trabalho infantil. >
Para Márcio Lima, presidente da Central Única das Favelas na Bahia (Cufa-BA), os índices negativos quanto ao trabalho infantil na Bahia foram impulsionados pela pandemia da covid-19. "Depois de muito tempo, a gente percebeu o crescimento de crianças e adolescentes nas sinaleiras. Era algo que a gente via há 30, 35 anos atrás. Hoje a gente vê crianças e adolescentes comercializando doces, balas nas sinaleiras, ou como flanelinha, guardando carro, limpando para-brisas...", aponta.>
Ainda conforme Márcio, cidades do interior sofrem ainda mais com esse problema social. "O impacto é maior porque existe o trabalho, exploração infantil e a violência da criança e adolescente. Isso impacta diretamente no desenvolvimento das crianças e é muito preocupante. O reflexo disso é que estamos tendo menos meninos e meninas capazes de ter sua emancipação cidadã garantida", conclui.>
No quesito moradia, a Bahia ocupa a quarta posição: 212 mil crianças e adolescentes tem privação intermediária. Ou seja, residem em com até quatro pessoas por dormitório, ou em moradia cujas paredes e teto são de material inadequado (ex. madeira aproveitada).São Paulo (800 mil), Rio de Janeiro (335 mil) e Pará (265 mil) completam a lista. >
Quando o assunto é saneamento básico, os índices também não alarmantes. O estado baiano tem o segundo pior número, com 1,4 milhão com restrição intermediária. Isso significa que pessoas entre 0 a 17 anos residem em moradinha com banheiro compartilhado com pessoas de fora do domicílio ou com fossa rudimentar. Só está pior que a Bahia, o Pará, com 1,69 milhões de crianças e adolescentes nesta situação.>
Os dados alarmantes exigem políticas que visem mitigar a pobreza do ponto de vista estrutural, conforme aponta Umeru Bahia, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). >
"A solução está em pactos feitos por todos os entes, grupos e pessoas, mirando resolver de modo estrutural, o que só pode ser feito com um projeto de desenvolvimento social onde o suporte direto pelas entidades públicas tem que ser amplo, o trabalho deve ser pleno, justo e valorizado, em que a educação deva ser contundente, a informação seja acessível e a saúde e segurança sejam reais integrais na vida da pessoa", disse. >
Procurada, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH-BA) não havia respondido ao CORREIO até a publicação desta matéria. >