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Larissa Almeida
Publicado em 30 de abril de 2025 às 05:00
Nos últimos anos, o número de doações de órgãos registrou crescimento na Bahia, mas a decisão de doar continua sendo um desafio para muitos baianos. Somente em 2024, um total de 1.583 famílias negaram a doação de órgãos e tecidos de parentes mortos, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A negativa deixou de beneficiar, pelo menos, 3,5 mil pessoas que aguardam na fila de transplante do estado >
Segundo Eraldo Moura, coordenador do Sistema de Transplantes da Bahia, as principais causas que levam a família a optar por não doar é o desconhecimento e a dificuldade de se imaginar passando por uma situação semelhante. “As famílias nem sempre conversam sobre a importância da doação e, no momento que falece um parente, elas não têm a percepção do que aquela pessoa queria fazer em vida. A sociedade em si também não pensa que pode vir a precisar de um transplante”, aponta. >
Apesar da escolha dos entraves, a doação de órgãos vem despontando na Bahia. No ano passado, 2.230 órgãos e tecidos foram doados por 1.030 famílias no estado, após a morte dos entes queridos. O número representou um aumento de 217% em relação a 2023, quando um total de 702 órgãos foram doados, segundo a Sesab. >
Para Eraldo Moura, o aumento de doações é reflexo de um conjunto de esforços, que perpassam pela organização do serviço, pela ampliação do acesso dos pacientes que necessitam de transplante à lista de espera e por iniciativas que visam incentivar a prática. “Está havendo uma conscientização da sociedade quanto a doação e o transplante. Através dessas ações, cada vez mais, temos buscado que a sociedade possa entender a importância da doação”, afirma. >
Para se tornar um doador, é preciso conversar com os familiares e expressar esse desejo. Essa atitude é considerada a primeira etapa porque, após a morte, é a família que fica responsável por autorizar ou não a doação. >
Atualmente, ficou mais fácil se tornar doador no Brasil devido a criação da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aêdo), um documento fruto da parceria entre o Colégio Notarial do Brasil e o Ministério da Saúde. Através dessa autorização, que pode ser preenchida de forma gratuita por meio deste site, a pessoa facilita o processo para a família ao deixar provado o interesse em doar. O documento, no entanto, não exclui a necessidade de autorização familiar. >
É possível escolher qual órgão deseja doar, fazer uma videoconferência para que a vontade seja registrada e, depois, basta assinar a autorização digitalmente. Com isso, o desejo de doar passa a ser oficial em caso de morte. >
No caso de doação em vida, a pessoa juridicamente capaz precisa dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes, para cônjuge ou parentes consanguíneos até o quarto grau. >
Se a doação em vida for para outra pessoa que não seja parente ou amigo próximo, é necessária autorização judicial, além de avaliação da Central de Transplantes e da Comissão de Ética do hospital. Esse procedimento visa descartar a possibilidade de comércio de órgãos. >
Dentre os órgãos e tecidos que podem ser doados após a morte, estão o rim, o coração, o pulmão, o fígado, as córneas, o pâncreas, a pele, as válvulas cardíacas e os ossos. Já em vida, a doação fica restrita ao rim e, somente em alguns casos, ao fígado. >