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Manga barata invade feira de Salvador com caixa a R$ 50

Na Feira de São Joaquim, vendedores relatam movimento histórico de caminhões e compradores. Eles também apontam risco de extinção da manga espada

  • Foto do(a) author(a) Moyses Suzart
  • Moyses Suzart

Publicado em 18 de novembro de 2025 às 05:00

Venda de manga na Feira de São Joaquim
Venda de manga na Feira de São Joaquim Crédito: Arison Marinho

Se o mundo da fruta fosse moda, a tendência para a primavera/verão seria vestir o amarelo manga. Ou chupá-la, com fiapo e tudo, com o devido lá ele. Na passarela dos hortifruti, a manguinha deve reinar para quem gosta das frutas tropicais. Se você acha que está comprando caro no mercado, com o devido respeito, tá vacilando feio. Com o aumento da oferta no fim do ano e uma safra recorde, a fruta está saindo a R$ 50, a caixa com cerca de cem mangas. É fiapo que não acaba mais.

Cinquenta conto por causa do frete e da mão de obra. Sem intermediários, com produtores que se espalham pela Bahia, principalmente em Juazeiro, e em parte de Sergipe e Pernambuco, uma caixa pode sair por R$ 12. “É a fruta que está mais chegando aqui na Feira de São Joaquim. É o dia todo caminhão descarregando e saindo para pegar mais, principalmente em Juazeiro. Daqui a um dia chega a safra da manga espada de Sergipe e Alagoas. Pernambuco, Rio Grande do Norte também. É manga para todo lado”, disse Antônio Santana, que vende manda na Feira de São Joaquim há mais de 30 anos e nunca viu tanta oferta.

Segundo Antônio, essa oferta está equilibrada com a demanda. Chega gente comprando para revender, para fazer suco, de lanchonete e até gente que vai somente para consumir em casa. “Espada e rosa são as que mais saem. Em média, vendo umas 30 ou 40 caixas todo dia. É uma boa quantia, porque nada a nada tem uns 200 vendedores aqui na Feira [de São Joaquim]”. A manga espada está custando R$ 50, mas de outras espécies, como a Rosa e Tommy, podem sair até R$ 10 mais barato.

Seu Antônio tem uma explicação para a Espada ser a menos barata. Para ele, há uma possibilidade desta manga desaparecer do mercado em dez anos. Na Bahia, está cada vez mais raro e Sergipe é o principal meio de abastecimento. “Vai entrar em extinção. Lembra antigamente, na época das chácaras, que esta manga dava em cada esquina em Salvador? Não tem mais”, completa Antônio, que disse que esta espécie já foi a mais barata, mas tem ficado bem difícil de encontrar em municípios baianos. Antigamente, ele lembra que comprava com produtores de Salvador, mas a urbanização acabou com as mangueiras locais, que foram perdendo espaço para as contruções.

Morador de Brotas, Carlos Raimundo diz que a manga é a fruta mais gostosa que ele consome e esta época do ano para ele é uma maravilha. “Já percebi que a manga já está baixando de preço nos mercados, mas continua cara em comparação com a São Joaquim. Vou levar uma caixa aqui, que no mercado não dá nem pra sete mangas. Vou fazer polpa e congelar, fazer geladinho…”, disse.

Por ser uma fruta de estação, que chega ao pico entre novembro e janeiro, o preço acaba caindo, de fato. No meio do ano, na baixa estação, a fruta pode chegar a R$ 90, a caixa. Outro fator do preço da manga despencar é o tarifaço de Trump, que acabou de ser revogado. O Vale do São Francisco é o principal produtor de manga e com o encalhe por conta das tarifas, o jeito foi se voltar para o mercado interno, aumentando a oferta e barateando ainda mais o produto.

Das mangas produzidas no Vale de São Francisco, 92% vão para exportação, segundo o Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina (SPR), que representa o setor. Em 2024, o Brasil exportou 258 mil toneladas de manga, faturando US$ 349,8 milhões (R$ 1,95 bilhão), segundo dados reunidos pelo Observatório da Manga da Embrapa. Isso faz da manga a fruta brasileira mais vendida no mundo. Mas Trump não chega a ser o maior dos problemas, já que a maioria da exportação vai para a Europa e 15% vai até os Estados Unidos. Na Feira de São Joaquim, tem gente que nem sabe quem é Trump.

“Quem é esse corno? Aqui ele não manda em nada. O preço é esse aí mesmo, se ele vier reclamar, a gente tira ele daqui da feira debaixo de porrada. Manga nessa época é barata mesmo, depois sobe, depois desce, o que esse Trump quer embaçando minha venda?”, disse um dos vendedores de manga da feira, que também vende laranja e batata doce. “Bote meu nome não, vai que esse Trump vem atrás de mim”, completou. Melhor não arriscar…

Apesar da popularidade e algumas terem até as cores do Brasil, receba na caixa dos peitos: essa fruta não é brasileira. A manga tem suas raízes no Sudeste Asiático, especialmente na Índia, considerada o berço da fruta, onde há mais de mil variedades cultivadas há cerca de quatro mil anos. Quando os portugueses exploravam rotas comerciais a partir do século XVI, levaram sementes da Índia para a África e, logo em seguida, introduziram a mangueira no Brasil, por volta de 1.700, fazendo da fruta uma das primeiras plantas tropicais transplantadas para o Novo Mundo, dominando as antigas chácaras baianas e quintais de casas. Quem nunca roubou manga no quintal do vizinho que atire o primeiro caroço.

Venda de manga na Feira de São Joaquim por Arison Marinho

Tags:

Fruta Manga