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Larissa Almeida
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 05:30
Em cada canto da Bahia, de norte a sul do mapa, é possível encontrar canteiros de obras, mas somente em 48% deles há construtores trabalhando. Isso porque, 926 das 1.770 obras existentes no estado, que juntas somam R$ 1,5 bilhão em investimento já recebidos, estão paralisadas. As informações são do Painel Acompanhamento de Obras Paralisadas, ferramenta do Tribunal de Contas da União (TCU) atualizada anualmente.
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Das 926 obras paralisadas, o maior gasto foi com o projeto de duplicação, implantação de vias laterais, adequação de capacidade, restauração com melhoramentos e obras de arte especiais da BR-116. Com investimento total de R$ 297 milhões, a obra já teve liberada a quantia de R$ 263,1 milhões, mas está paralisada sem que haja justificativa pública no painel do TCU. >
Embora o maior gasto tenha sido com o setor de transporte, o segmento com maior número de obras paralisadas é a educação básica. Conforme levantamento, são 412 construções congeladas no estado. Os projetos preveem o erguimento de escolas e creches que, em todo o território baiano, exigiriam R$ 508,3 milhões em investimentos. Desse total, R$ 215 milhões já foram disponibilizados, mas uma parcela significativa sequer foi utilizada por dificuldade técnica do tomador, rescisão de contratos, gestão anterior irregular, abandono da empresa, dentre outras razões. >
Já na educação superior, 12 obras que receberam um total de R$ 8,8 milhões em repasses do Ministério da Educação estão paradas na Bahia. Trata-se de reformas, reparos e construções na Universidade Federal da Bahia (Ufba), na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e na Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob). >
Ufba tem obras que estão paradas há 15 anos
No que diz respeito à Ufba, que tem canteiros de obras inativos há 15 anos, o TCU apontou a paralisação de nove construções – que, como o CORREIO apurou em abril, já consumiram R$ 36,1 milhões sem que nenhuma entrega tenha sido concluída. Entre os projetos parados, destacam-se a construção da nova biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, o prédio anexo da Escola Politécnica, o Edifício-Sede da Escola de Música, o complexo do IHAC e a sede do Instituto de Ciência da Informação.>
Em setembro, após ser contemplada com investimentos de R$ 62 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado às universidades brasileiras, a Ufba disse que parte do montante destinado seria utilizado para complementar o orçamento de obras em andamento na Escola de Música (Emus), na Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMVZ) e no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC). Ainda, disse que o Instituto de Ciências da Informação teria sua sede construída e a obra da Escola Politécnica seria finalizada.>
O cenário também é crítico quando se trata de obras na área de saúde. Com R$ 63,2 milhões investidos, 264 construções que contaram com recursos repassados pelo Ministério da Saúde estão paradas no estado, incluindo o erguimento de unidades básicas de saúde, centro de reabilitação, hospitais, centro de atenção psicossocial e academias de saúde. >
O TCU informou que a relatoria sobre obras paradas, especificamente na saúde, está na lista de pautas da sessão plenária da próxima quarta-feira (19), a partir das 14h30. No processo, foi analisado se as unidades básicas entraram em funcionamento, com estrutura adequada, pessoal suficiente e uso correto dos recursos públicos. A auditoria acompanhou cerca de R$ 12,9 milhões investidos em 23 unidades básicas de saúde, em sete estados brasileiros, incluindo a Bahia. >
O setor de infraestrutura e mobilidade urbana, que possui 111 obras paralisadas, por sua vez, já contou com injeção de R$ 82,9 milhões em recursos do Ministério das Cidades (MCid), Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e Ministério do Esporte (MEsp), que até então foram insuficientes para dar continuidade e/ou finalizar os projetos. >
Segundo a auditoria de 2018 sobre obras paralisadas, que analisou as causas registradas no banco de dados do PAC, o mau planejamento dos empreendimentos aparece como o principal fator de interrupção, tanto em obras de baixo quanto de alto valor.>
“Por sua vez, o mau planejamento é decorrente de projeto básico deficiente, falta de contrapartida e falta de capacidade técnica para execução do empreendimento”, aponta o TCU. >
O órgão fiscalizador federal destaca que não há um padrão para as etapas que antecedem a paralisação de uma obra pública. Em geral, ela ocorre por descumprimento contratual ou suspensão das atividades, o que gera impactos significativos ao governo e à população. >
“Sabe-se que uma obra paralisada é responsável por diversos prejuízos de difícil mensuração, tais como os custos relacionados ao desgaste e manutenção das obras, o comprometimento dos serviços já executados e o prejuízo ocasionado pela privação dos benefícios que o empreendimento viria gerar”, enfatiza o TCU. >
Para Antonio Pimentel, especialista em Gestão Pública, ex-prefeito de Governador Mangabeira e consultor em diversos municípios baianos, o número de obras paralisadas é também reflexo da falta de recursos do governo federal diante dos altos gastos públicos. >
“Eles ampliaram demais os programas e já não conseguem mais arrecadar impostos do leque de contribuintes que têm. No início do Plano Real, tínhamos 23% de inflação. Hoje, a inflação é de 33%”, diz ele, que defende reformas econômicas e maior controle do que é gasto pelos cofres públicos. >
Os ministérios da Educação e Saúde foram procurados pela reportagem para se posicionarem sobre o assunto, mas informaram que não conseguiriam responder até a publicação da matéria. O espaço segue aberto. O Ministério das Cidades também foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.>