Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Bruno Wendel
Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 16:46
Sérgio Henrique Lima dos Santos é o nome do motorista por aplicativo que estrangulou até a morte a jovem trans Rhianna, de 18 anos, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, no oeste do estado, no último sábado (6). Sérgio, que tem 19 anos, se apresentou à delegacia no mesmo dia, admitiu ter aplicado um “mata-leão” após uma suposta discussão e responde em liberdade pelo crime de feminicídio. >
Rhianna, que morava em Barreiras, foi estrangulada dentro do veículo. Em depoimento, Sérgio afirmou que havia contratado a vítima para um programa e que, após o encontro, estava levando-a de volta para casa quando a discussão começou, momento em que a vítima teria ameaçado expor o programa contratado. No entanto, a versão sobre prostituição é contestada.>
“Rhianna trabalhava em um supermercado de Luís Eduardo. Eu conversei com outras trans que fazem programa e nenhuma delas reconheceu Rhianna como profissional do sexo. Nada contra o trabalho, mas associá-la a isso é uma forma de reforçar um estigma às mulheres trans”, declara Melyssa Chaves, integrante da Mães da Resistência, organização dedicada ao acolhimento de mães, pais e familiares de pessoas LGBTQIAPN+ e que acompanha o caso.>
Veja quem é a jovem morta com 'mata-leão' por motorista de app
Outro ponto levantado é que Sérgio e Rhianna já haviam se encontrado outras vezes. “Eles tinham um relacionamento antigo”, conta uma moradora. A vítima deu início ao processo de transição há cerca de cinco meses, pouco depois de completar a maioridade.>
Liberdade>
O motorista por aplicativo foi ouvido e liberado pelo delegado de Luís Eduardo Magalhães, Joaquim Rodrigues. A soltura repercutiu na cidade e nas redes sociais, tornando-se alvo de denúncia da deputada Érika Hilton. Em um de seus perfis, a deputada afirmou que denunciou o delegado responsável pela liberação do motorista. “Estou denunciando, ao Ministério Público Estadual, o assassino e o delegado. [...] É inconcebível que um delegado não faça a prisão em flagrante de um assassino que levou um corpo até uma delegacia porque ele foi 'bonzinho', confessou o crime e jurou de dedinho que vai se comportar”, escreveu.>
A parlamentar disse ainda que enviou ofício à Polícia Civil, à Secretaria de Segurança Pública e ao Governo da Bahia cobrando esclarecimentos.>
Procurada, a Polícia Civil da Bahia (PCBA) informou que abriu investigação e que, por o suspeito ter se apresentado espontaneamente e confessado o crime, ele foi liberado e responderá em liberdade.>
Irmã de Rhianna desabafou nas redes sociais
E se fosse o contrário?>
Morador de Luís Eduardo, o advogado criminalista Eronildo Pereira de Queiroz explica que a legislação brasileira prevê que a confissão ou o comparecimento voluntário não obrigam a polícia a manter o suspeito preso em flagrante. Segundo ele, para a prisão preventiva é necessário que faltem certos requisitos, como primariedade, residência fixa e apresentação voluntária.>
“Mas no decorrer da investigação, nada impede que o delegado peça a prisão do investigado, por exemplo, se os laudos periciais divergirem da versão apresentada por ele ou se houver contato ou ameaças às testemunhas”, explica Queiroz.>
No entanto, Melyssa Chaves faz uma reflexão: “Se a vítima fosse uma mulher cisgênero (aquela que nasceu com o órgão feminino e se identifica como mulher), será que o autor teria sido solto? Ou se a autora do crime fosse uma mulher trans, que matasse um homem para se defender das agressões diárias? Haveria esse entendimento para que ela pudesse responder em liberdade?”, pontua.>
10 casos>
Segundo a ONG Mães da Resistência, até agora, pelo menos 10 pessoas LGBT foram assassinadas em 10 anos na cidade de Luís Eduardo Magalhães. A mulher trans Lorena Fox foi encontrada morta no dia 1º de março de 2023. Na certidão de óbito, a causa da morte é citada como “traumatismo e fratura do crânio”. Em julho de 2020, Guilherme de Souza, de apenas 21 anos, foi agredido, apedrejado e queimado vivo.>
“A LGBTfobia está intricadamente ligada ao machismo, à extrema-direita, ao fundamentalismo religioso. Não à toa, há 15 anos, o Brasil lidera o número de mortes de pessoas LGBT”, declara Melyssa Chaves.>