'Minha luta não foi em vão', diz mãe de jovem morto na Gamboa após PMs serem denunciados

Justiça ainda determinou que os três PMs sejam afastados das ruas; três jovens foram mortos

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  • Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2023 às 13:54

Alexandre Santos dos Reis foi uma das vítimas
Alexandre Santos dos Reis foi uma das vítimas Crédito: Reproduçao

A mãe de Alexandre Santos dos Reis, um dos três jovens mortos em uma ação da Polícia Militar na Gamboa em 2022, celebrou nesta sexta-feira (24) o fato de três PMs envolvidos no caso terem sido denunciados pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA). Os cabos da PM Tárcio Oliveira Nascimento, Thiago Leon Pereira Santos e Lucas dos Anjos Bacelar Dias vão responder pelo crime de homicídio qualificado cometido por motivo torpe.

Além disso, a Justiça determinou o afastamento temporário dos três das atividades ostensivas. Silvana dos Santos declara estar contente com a decisão de retirada dos policiais das ruas. “Estou muito feliz, isso está mostrando que a minha luta não foi em vão, apesar de ser pouco tempo, 180 dias. Demorou um pouco, mas eles vão pagar”, celebra.

Os PMs são suspeitos pelas mortes de Alexandre, Cléverson Guimarães Cruz e Patrick Sousa Sapucaia,  este último menor de idade, ocorridas na localidade de Gamboa de Baixo, em Salvador, no dia 1º de março de 2022

Silvana destaca a importância de resolução não apenas para o caso que envolve seu filho, mas de todos os jovens que já foram vítima de disparos policiais. “Espero que a justiça tome tendência não só desse como de muitos casos iguais ao do meu filho, porque isso está trazendo dor para muitas mães”, diz.

Segundo o coordenador do Instituto Ideias, Wagner Moreira, a decisão de afastamento é fruto de uma atuação coletiva da Defensoria Pública, da organização IDEAS Assessoria Popular, dos familiares das vítimas e do Grupo de Atuação Especial Operacional de Segurança Pública do Ministério Público estadual (Geosp). “Eu acho que esse resultado só sai com essa qualidade por essa atuação conjunta. Para nós, demonstra que a participação da sociedade e dos familiares no processo de apuração”, afirmou.

Para o coordenador a reconstituição simulada dos fatos trouxe luz para fatos não contidos nas investigações da corregedoria, incluindo a inexistência de um conflito armado entre os rapazes e os policiais.

“As perícias e os exames feitos pela perícia técnica demonstraram que as armas não funcionavam, não tinha condição de combate, de que a narrativa dos policiais era uma narrativa falaciosa, que o combate aconteceu todo dentro de uma única residência e foi comprovado, foi encontrado diversas manchas de sangue em outros locais que não condizem com a narrativa dos policiais e não condizem com a perícia feita no local do imóvel”, sugeriu.

“Nós temos muita expectativa, inclusive, no procedimento administrativo que está aberto dentro do Ministério Público, encabeçado pelo Geosp para a redução da letalidade policial. Nós confiamos muito de que essa denúncia vai ser acatada e que os policiais vão ser julgados pelos crimes que foram cometidos em tribunal de júri”, concluiu Wagner.

A Polícia Militar foi procurada, mas não confirmou se os PMs já foram afastados das ruas, conforme determinou a Justiça. 

Mortes

Segundo moradores, os policiais chegaram na Gamboa na madrugada do dia 1º de março de 2022 atirando e jogando bombas de gás lacrimogêneo. Alexandre Santos dos Reis, Cléverson Guimarães Cruz e Patrick Sousa Sapucaia foram baleados e levados ao Hospital Geral do Estado (HGE), onde tiveram as mortes confirmadas. 

Na época, a Polícia Militar alegou que houve uma troca de tiros e que os três teriam feito uma pessoa refém, o que foi contestado por testemunhas e familiares das vítimas.

Segundo a denúncia do MP, os PMs abordaram e perseguiram as vítimas para logo depois atirarem com submetralhadora contra os jovens que participavam de uma festa na comunidade, “sem que houvesse qualquer conflito armado no local no momento dos fatos”. Com base nas informações da perícia técnica, a denúncia aponta que dois deles foram atingidos em via pública nas proximidades de uma casa abandonada, onde foi alvejada a terceira vítima.