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Maysa Polcri
Publicado em 19 de junho de 2025 às 05:15
Desde que a requalificação da estrada que liga a cidade de Palmeiras ao Vale do Capão, na Chapada Diamantina, foi finalizada, moradores sentem o aumento do fluxo de turistas. A via de 19 quilômetros, antes esburacada e depósito de lama, ganhou asfalto e sinalização em maio deste ano. De lá para cá, pessoas de cidades próximas visitam o lugar com cada vez mais frequência. O receio, agora, é que a infraestrutura do lugar não suporte o número ainda maior de visitantes no primeiro São João com a nova via. >
Josane Silva Souza mora no Vale do Capão há cinco anos. Durante esse período, perdeu as contas de quantas vezes percorreu o trajeto a 20 quilômetros por hora. "Já tiveram dias que a situação da estrada estava tão ruim, que demorou mais de uma hora e meia para chegar em Palmeiras", relembra. Esse tempo ficou no passado. Ela, que é professora em Seabra, cidade vizinha, não demora mais de 25 minutos para percorrer a estrada sinuosa. >
A pavimentação do trecho da BA-849 foi autorizada em junho de 2022 pelo ex-governador Rui Costa (PT). A obra foi interrompida no ano seguinte por recomendação do Ministério Público da Bahia (MP-BA), após a Prefeitura de Palmeiras emitir um licenciamento irregular para o início das intervenções. O serviço foi retomado e entregue em maio deste ano. >
Ludmila Cunha, moradora do Vale, tem percebido o aumento do número de visitantes com o avançar da obra. "As reservas em pousadas e casas já estão esgotadas há tempos, acredito que há três meses. Mesmo assim continuamos recebendo solicitações diariamente", conta. A expectativa é que nos próximos dias, o distrito de Caetê-Açu fique ainda mais cheio. Os indícios dão pistas de que o São João será maior do que os dos últimos anos. >
"Sem dúvidas o número [de turistas] será muito maior. Até a estrutura de palco e atrações do São João aumentaram por aqui", revela Ludmila. Por lá, serão seis dias de festa, com shows de atrações como Targino Gondim, Rachel Lessa e Fábio Carneirinho. Na Pousada do Capão, uma das mais tradicionais da localidade, os 30 quartos estão com reservas fechadas há mais de um mês. >
Estrada pavimentada no Vale do Capão
"Com a estrada asfaltada e o acesso facilitado ao Vale do Capão, mais pessoas que vivem em cidades próximas viajam para aproveitar o final de semana e feriados", diz Emmanuel Requião, dono da pousada. >
O problema, segundo os moradores, é a infraestrutura da cidade, que não suporta o fluxo intenso de visitantes. Registros de falta de energia elétrica e de água são comuns nos períodos de mais movimento no Vale, como São João e Ano Novo. "Não sou contra a estrada, mas acredito que o Vale do Capão não comportará o fluxo do turismo e dos novos moradores que a proposta da estrada traz. O centro, a vila em si, é um local pequeno que não comporta esse fluxo, e as ruas internas comportam menos ainda", diz Ludmila Cunha. >
O receio é compartilhado por outros moradores. Emmanuel Requião, dono da Pousada do Capão, avalia que o Vale deveria ter recebido investimentos antes da nova via. "A estrada é maravilhosa, mas não era a prioridade. O Vale do Capão precisa de infraestrutura interna para receber os turistas de fora. É urgente a necessidade de um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano [PDDU] para ordenar a região", afirma. >
Entre as reivindicações estão calçamento interno, melhorias no saneamento básico. A reportagem não conseguiu contatar a prefeitura de Palmeiras sobre as reclamações dos moradores. "O lugar não está preparado para receber tanta gente. Para o comércio, o fluxo de turistas é ótimo, mas a infraestrutura não comporta o número de veículos e pessoas", diz Josane Silva. >
A moradora observa um fluxo maior de visitantes desde o último Réveillon. "No final do ano passado, metade da estrada já estava asfaltada, o que já atraiu muita gente. Já começamos a perceber o aumento do fluxo para o São João, com muito engarrafamento, e a expectativa é de um caos ainda maior nos próximos dias", comenta apreensiva. >