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Maysa Polcri
Publicado em 10 de julho de 2024 às 05:15
Uma doença causada por fungos do gênero Sporothrix e que afeta principalmente os gatos têm causado preocupação entre tutores de pets. Os casos de esporotricose humana registraram aumento de 104,6% no último ano na Bahia. Foram 888 registros em 2023, contra 434 em 2022. A incidência neste ano também preocupa especialistas. >
De janeiro até terça-feira (9), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) registrou 380 ocorrências da doença em humanos no estado. O número é alto e já representa 87,5% de todos os casos registrados em 2022 e 42,8% do total de registros do ano passado. >
Os sintomas iniciais da infecção em seres humanos são similares aos de picadas de inseto. Depois que as pessoas são contaminadas pelo fungo, as lesões na pele ficam enrijecidas e doloridas. Outros caroços aparecem em locais próximos, como explica o infectologista Fábio Amorim, do Instituto Couto Maia. >
“O lugar da lesão fica endurecido e surgem pequenos caroços na pele. Uma característica peculiar é a disseminação da lesão pelos vasos linfáticos. Dizemos que a lesão se dá em contas de rosário porque é possível palpar, da lesão inicial, até as axilas”, caracteriza o médico. Não existe vacina para a doença. >
O contato com felinos infectados é a principal forma de transmissão para os seres humanos. Mas, as pessoas também se contaminam com o fungo através de lesões decorrentes de espinhos, palhas ou lascas de madeira. Por isso, a esporotricose também é chamada de doença de jardineiro. >
O tratamento é feito com antifúngicos e pode durar até seis meses. Em casos graves, a doença pode atingir os pulmões e articulações, podendo ser fatal para seres humanos.>
Até domingo (7), Salvador era a cidade com mais casos de esporotricose humana neste ano, com 175 ocorrências. Em seguida aparece Camaçari (54), Feira de Santana (19), Dias D’Ávila (18) e Lauro de Freitas (15). Os primeiros casos da doença apareceram em 2018 no estado. Antes disso, a esporotricose era considerada uma doença rara na Bahia. >
Marcelo Medrado, médico veterinário e técnico da Sesab, afirma que a pasta acompanha com atenção o aumento do número de casos. "Temos a esporotricose como uma das prioridades para o controle e monitoramento da vigilância epidemiológica no estado. A doença pode estar ocorrendo em todas as regiões da Bahia, e os sistemas de vigilância precisam estar atentos para os casos e encaminhar as pessoas para o tratamento", diz. >
O infectologista Fábio Amorim analisa que a doença deve ter se espalhado pela Região Metropolitana de Salvador através do solo, depois que animais infectados foram enterrados. O correto, nesses casos, é que os animais passem pelo processo de cremação. >
Os hábitos dos gatos de cavar a terra e arranhar árvores, e o posterior contato com humanos fizeram com que a doença se espalhasse rapidamente pelas cidades. Em março do ano passado, a esporotricose passou a integrar a Lista de Doenças de Notificação Compulsória de Interesse Estadual. >
“A doença não é nativa e foi introduzida no território a partir de 2018. Provavelmente, os primeiros animais infectados foram enterrados e o fungo se proliferou no solo. Por isso que toda a região está infectada. Hoje, o fungo se prolifera no solo”, detalha Fábio Amorim. Com o solo contaminado, as pessoas podem entrar em contato com os fungos através de lesões na pele pelo simples contato com a vegetação. >
Em 2018, Camaçari tornou a notificação da doença obrigatória na cidade. Brena Carneiro, coordenadora da Vigilância Epidemiológica do município, explica que o abandono de animais dificulta o controle da esporotricose. "A grande dificuldade para conter a doença é o tratamento dos animais. Muitos estão na rua sem tutor e outros são abandonados justamente por estarem doentes", relata. >
O tratamento, para humanos e animais, é feito com medicamentos antifúngicos e pode durar até seis meses. Para o infectologista Fábio Amorim, o custo dos remédios também dificulta o controle da doença. "O medicamento custa em torno de R$14 o comprido e, em alguns casos, o paciente precisa tomar até quatro comprimidos por dia", conta. Em caso de sintomas, as pessoas devem buscar ajuda médica. >
A esporotricose em animais não é silenciosa. As lesões na cabeça que demoram para cicatrizar são os principais alertas para a infecção fúngica. Cachorros também podem ser contaminados, apesar de a doença ser mais comum em gatos pelos hábitos dos animais. >
Luvas sempre devem ser utilizadas para manusear animais com lesões. A recomendação dos especialistas é que, quando a população encontrar um bicho ferido nas ruas, avise à central de zoonoses. O contato com o animal deve ser evitado. >
“Os cuidados de prevenção devem ser parecidos com a covid-19. As pessoas precisam utilizar luvas para manusear os animais e desinfectar com hipoclorito de sódio [água sanitária] os objetos utilizados por eles”, explica o veterinário Fernando Oliveira. Se não tratada nos animais, a doença pode ser fatal. >
“O tratamento demora em torno de seis a dez semanas. Mas, o animal só é considerado curado da esporotricose depois de serem feitos, pelo menos, quatro testes com resultados negativos”, completa o veterinário. O teste é feito através da cultura micológica, quando o fungo é isolado de uma biópsia da lesão. >