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Reclamações datam desde 2021; empresa foi notificada pelo Governo
Larissa Almeida
Publicado em 13 de agosto de 2024 às 05:15
O trajeto entre Rio de Janeiro e Ribeirão Preto tem o tempo de voo previsto de 1h50min. No dia 17 de março deste ano, a viagem nesse trecho, que tinha tudo para ser uma experiência tranquila e rápida para o estudante baiano Joaquim Penedo, de 19 anos, se transformou em pesadelo durante as quase duas horas em que o jovem passou a bordo de um voo operado pela Voepass, antiga Passaredo, empresa responsável pela queda da aeronave que matou 62 pessoas em Vinhedos, São Paulo, na última sexta-feira (9).
“Ao chegar no voo, a primeira coisa que eu notei foi que o ar-condicionado estava quebrado. Então, foi o voo todo no calor, ainda mais que estava na época de verão. Muitas pessoas passaram mal e ficou bem marcado para mim a imagem da mulher que teve que vomitar, foi várias vezes no banheiro, teve que deitar porque estava passando muito mal. Além disso, tinha uns sons de como se tivesse batendo algo diferente no motor”, relata o estudante.
Foi um voo bem desconfortável tanto que, depois dele, eu falei que nunca mais pegaria Voepass, porque era uma companhia que não valorizava a segurança hora nenhuma. É uma tamanha irresponsabilidade voar com ar-condicionado quebrado e no calor. Eu cheguei em Ribeirão Preto e estava 35 ºC, mais fresco do que no avião”, completa.
Um passageiro, que preferiu não se identificar, conta que passou por situação semelhante no trajeto aéreo entre Porto Seguro e Salvador, durante a pandemia. No episódio mais caótico, ele conta que o próprio piloto da Voepass sugeriu que os passageiros ficassem mais à vontade. “Várias pessoas tiraram a camisa, inclusive eu. As pessoas estavam voltando da praia, então várias meninas colocaram biquíni. Começamos a usar o cartão de embarque como leque e a única coisa gelada que tinha, que era uma cerveja patrocinada por eles, as pessoas começaram a passar no corpo para se refrescar”, conta.
A empreendedora Anne de Souza teve uma experiência ruim antes mesmo de embarcar. A passagem pela Voepass, marcada para o dia 16 de março, dia do seu aniversário, foi remarcada para o dia 26 do mesmo mês. Na hora que foi feito o check-in, o voo mudou de 7h para 12h daquele dia. Mesmo com os empecilhos, ela decolou e chegou ao destino. Na volta, o cenário foi traumático.
“Na hora da volta, em vez de o avião descer e [buscar os passageiros de Noronha], ele ficou no ar por 40 minutos e não conseguiu descer no aeroporto. Então, ele voou de volta para Recife, cancelando, assim, nosso voo. O local que eu estava hospedada lotou e eu fiquei sem lugar para ficar. Tive que dormir, nesse dia, no quarto dos donos da pousada, que cederam o lugar para mim e meu marido”, detalha.
“No dia seguinte, fiquei no aeroporto o dia todo e a Voepass não deu parecer de nada inicialmente, depois disseram que não tinham avião. Na verdade, eles estavam cancelando os voos e até tiraram passageiros de dentro de alguns deles porque estavam dando preferência para políticos. Eles disseram isso na ‘cara dura’. Foi muito constrangedor e desesperador. [...] Tenho trauma de Noronha por conta da viagem”, destacou Anne de Souza.
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) notificou a Voepass nesta segunda-feira (12) após os relatos de inúmeros passageiros sobre as condições precárias de bordo nas aeronaves da companhia virem à tona. A secretaria pediu que a empresa detalhe, em até 48 horas, os modelos, ano e a periodicidade das revisões dos aviões.
O órgão também determinou que a companhia esclareça como está sendo realizado o atendimento aos familiares das vítimas fatais do acidente em Vinhedos, bem como os canais disponibilizados e as assistências oferecidas. Ainda, exigiu que sejam informados canais de atendimento ao público os procedimentos para cancelamento e para reembolso de passagens.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo