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Moyses Suzart
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 05:00
O Sol saiu, muita gente colocou o pé na areia, mas sem caipirinha. No máximo, uma água de coco ou cervejinha. No Porto da Barra, o que era o carro chefe na praia mais famosa de Salvador, virou sinônimo de prejuízo para os barraqueiros do local. Após os casos de bebidas adulteradas com Metanol virarem notícia no país, as caipirinhas e roscas encalharam na beira mar. No último fim de semana, alguns trabalhadores contabilizaram três bebidas vendidas, sendo que em alguns períodos a venda ultrapassa os 50. “Quando ofereço, o cliente grita ‘quero morrer não’. Foi quase 100% de prejuízo”, disse Marujo, um dos vendedores de rosca do local. >
Marujo vende, em média, 30 caipirinhas por dia, antes do verão. No último fim de semana, garante que só vendeu três, todos para gringos. A dose com 700 ml custa, em média, R$ 30. Neste caso, o ambulante deixou de arrecadar cerca de R$ 1.700, somente em dois dias. Segundo os ambulantes, a segunda-feira também é um dia frenético para quem quer uma destilada com frutas. Ontem foi diferente. O povo preferiu investir na cerveja. “Eu até gosto, geralmente peço uma sirigueroska, mas não quero arriscar. Vou passar um tempo na cervejinha”, disse Renata Silva, que curtia um dia de folga do trabalho. >
Ontem fomos conferir de perto as vendas. Em todo nosso período lá, em torno de duas horas, apenas quatro pessoas pediram. Um casal holandês e um integrante de uma família chilena, todos sem saber do caso do metanol. Outro foi o gaúcho Rogério. >
“Eu tô aqui em Salvador, tomando uma caipirinha na praia, e confio na pessoa que me forneceu. Ela me explicou de onde vem o produto, e eu tô acreditando nela. É isso que a gente tem que fazer: pensar bem em quem a gente confia", disse Rogério, que está de férias com sua esposa e também trabalha com bebidas. Ele promove eventos de todo porte. >
“As pessoas têm que se preocupar, realmente. Quem trabalha com bebida, do menor ao maior, precisa conhecer o fornecedor. Tem que saber há quanto tempo ele está no mercado, se é uma pessoa de confiança. O erro é pegar qualquer um só porque é mais barato. Esse é o problema”, completa Rogério, que pegou uma roska de tangerina com a vendedora Fofinha. Ela também contabiliza prejuízos.>
“Isso é coisa de gente ruim, que tem caso com o cão. Imagine colocar isso na bebida, podendo matar as pessoas? Ele prejudica uma rede de comerciantes. Eu mesmo, comprei uma caixa de siriguela, de 300 conto, joguei metade fora porque não saiu nada no fim de semana. Não vou mais à feira esta semana. O que vende fruta também ficará no prejuízo. Acho que este que acabei de fazer (o de Rogério) foi o quarto ou o quinto entre sábado e hoje (ontem). E olhe que, neste horário, em plena segunda, já tinha vendido uns 10. Este é o primeiro”, conta Fofinha.>
Para ela, o momento é péssimo para acontecer, pois o período é o início do crescimento das vendas. “Acho que ainda vai levar 1 mês assim, até normalizar. O pior é que a caipirinha ou rosca são os carros-chefes, pois muita gente prefere trazer a cerveja no isopor e tomar uma rosca com a gente. Olha só a bomba que jogaram no nosso ganha pão”, completa. >
Outro especialista em caipirinha, Gabriel Ribeiro contabiliza um prejuízo de 70% nas vendas de bebidas destiladas. Ele faz questão de arrumar seu tabuleiro de bebidas com flores e frutas tropicais, mas não está adiantando muito. E ainda tem que ouvir piadinhas. “Quando ofereço uma rosca, o povo pergunta se é com ou sem metanol. Os que confiam, os clientes que já compram comigo, também brincam: ‘Gabriel, me dá um sem metanol, por favor’. É mole?” conta.>
Uma das mais famosas caipirinhas do local, Dinda assegura que as destiladas adulteradas passam longe do Porto da Barra. “Quem vai querer adulterar 51? As bebidas são gym, vodka mais cara como absolut, estas de rico. Os casos na Bahia já foram descartados. É só comprar com quem já conhece. Eu mesmo tenho nota fiscal de todas as bebidas que compro. Infelizmente pagamos, né? Hoje mesmo ainda não vendi nenhuma rosca. As frutas são perecíveis. Ainda bem que está saindo mais cerveja, mas a caipirinha é o nosso carro-chefe, não tem jeito”, conta Dinda.>
No Brasil, foram identificados vários casos de intoxicação por metanol decorrentes do consumo de bebidas destiladas adulteradas, como gim, vodca e uísque.O Ministério da Saúde recomenda que a população evite destilados de origem duvidosa, especialmente os incolores, enquanto segue investigação dos casos suspeitos, alguns já confirmados. As consequências do consumo de metanol são graves: além de risco de morte, ele pode causar cegueira permanente, falhas neurológicas e outros danos irreversíveis à saúde. Não há casos confirmados na Bahia. >
Venda de caipirinha no Porto da Barra é afetada com o caso do metanol