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Gil Santos
Publicado em 15 de fevereiro de 2024 às 05:30
Uma fisioterapeuta está sendo acusada de aplicar um golpe contra a SulAmérica, em Salvador. O plano afirma que Juliana Silva Andrade pedia reembolso por consultas que não foram realizadas e que usava o nome de um médico sem autorização. Em dois anos, ela emitiu 2.620 solicitações para 402 pacientes, totalizando R$ 5,2 milhões. Em apenas um dia de trabalho foram apresentados 177 recibos. Esse foi o segundo caso de fraude em pedidos de reembolso envolvendo a empresa em menos de quatro meses. >
Segundo a SulAmérica, o volume de pedidos chamou a atenção e a fraude foi descoberta através de ferramentas de tecnologia que cruzaram as informações. A empresa também consultou profissionais especializados no combate à fraude, e fez análise de login e senha dos beneficiários para o chamado reembolso assistido. >
As notas foram emitidas entre dezembro de 2020 e março de 2023, e a auditoria interna finalizou o relatório que comprovou a fraude em novembro do ano passado. Em seguida, a empresa apresentou um pedido de limitar na 7ª Vara Cível de Salvador. >
No dia 15 de janeiro, o juiz George Alves de Assis analisou a matéria. No documento a SulAmérica pediu que Juliana seja impedida de solicitar novos reembolsos, que ela seja proibida de emitir recibos ou notas fiscais direcionadas a beneficiários dos planos de saúde comercializados pela empresa e que a SulAmérica seja autorizada a negar reembolso de recibos emitido pela fisioterapeuta. >
Na liminar, o plano de saúde solicitou também que a Agência Nacional de Saúde Suplementar suspenda as Notificações de Intermediação Preliminar (NIP's) abertas, e outras que venham a ser abertas, em relação à solicitações de reembolsos que tenham por base recibos ou notas fiscais emitidos pela fisioterapeuta. O documento lembra que a profissional usou relatórios de médicos sem autorização. >
A operadora solicita uma indenização de R$ 400 mil para custas processuais e ainda vai ajuizar a ação de reparação de danos contra a profissional. O advogado e representante jurídico da SulAmérica Serviços de Saúde e SulAmérica Companhia de Seguro Saúde, Henrique Pires Arbache, explicou que há casos de pacientes que sequer conhecem os médicos que aparecem assinando as prescrições que a fisioterapeuta apresentou para solicitar os reembolsos. >
"Em algumas datas foi verificado um volume de atendimento que seria humanamente impossível de ter sido prestado. Em um determinado dia, por exemplo, havia 177 atendimentos realizados pela profissional, o que demandaria mais de 80 horas se cada sessão tivesse durado apenas 30 minutos. A partir disso a operadora decidiu comunicar os fatos a autoridade policial e ingressamos com a ação na justiça", disse. >
O CORREIO apurou que no dia 4 de junho de 2022, a fisioterapeuta emitiu notas de 146 tipos de serviços diferentes e atendeu 117 segurados. Considerando que uma sessão de fisioterapia tem duração média de 30 a 60 minutos, presumindo nesse caso a duração de 30 minutos, seriam necessárias 73 horas para realizar todas as sessões. >
Depois de analisar o caso, o juiz decidiu à favor da empresa e concedeu a liminar. Na decisão, o magistrado lembra que o médico que teve os dados usados pela fisioterapeuta nos pedidos de reembolso prestou queixa crime contra a profissional. O juiz afirma que a fraude relacionada à utilização dos dados e emissão de documentos falsos está bem evidenciada. >
"A fraude detectada é capaz de contaminar todas as solicitações de reembolso com base nos recibos emitidos pela acionada. É daí que extraio a probabilidade do direito. O perigo de dano é de fácil verificação. Afinal, uma vez procedido ao reembolso fraudulento, dificilmente a parte autora conseguirá reaver os valores despendidos. É por isso que a concessão da liminar, nos exatos termos em que foi pretendida, é medida que se impõe", afirma o juiz na decisão. >
Ele marcou uma audiência para o dia 1º de março. A fisioterapeuta terá 15 dias úteis para fazer a contestação, prazo que começa a ser contado a partir da audiência. "A ausência de contestação implicará revelia e presunção de veracidade da matéria fática apresentada na petição inicial", conclui o magistrado. >
Denúncia>
O caso da fisioterapeuta Juliana já está sendo investigado pela polícia. A delegada geral da Polícia Civil Heloísa Brito explicou que existe uma unidade em Salvador especializada em estelionato, disse que o inquérito desse caso foi aberto e que a investigação está em andamento. >
"Esse é um tipo de crime que não é usual, mas não é o primeiro, já aconteceu em outros momentos, por exemplo, falsificação de atestado médico. Fomos noticiados desse fato pela operadora de seguro, iniciamos a investigação e ela vai responder por estelionato", afirmou. >
A SulAmérica informou que vai denunciar o caso também ao Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 7º Região (Crefito7/ Bahia). O CORREIO ainda não conseguiu contato com o Conselho e nem com a fisioterapeuta Juliana Silva Andrade. >
Histórico >
O CORREIO apurou que o endereço da profissional é o mesmo informado nos relatórios de atendimento e recibo de pagamento de outros dois casos de fraude já denunciados pela SulAmérica. Um deles foi o da fisioterapeuta Emily Amorim de Araújo, denunciada em novembro de 2023. >
Emily foi proibida de realizar atendimentos pelo plano de saúde SulAmérica depois que a empresa constatou fraude nos requerimentos médicos. A profissional emitiu recibos de 97 sessões de fisioterapia realizadas por ela com beneficiários do plano em apenas um dia. A SulAmérica afirmou que os reembolsos realizados para a profissional entre 2019 e 2023 ultrapassaram a casa dos R$ 2 milhões.>
Na época, o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional informou que conduziria investigações próprias sobre o caso, disse que o recebimento dessas representações era motivo de séria preocupação e que adotaria as medidas necessárias para garantir uma investigação justa e imparcial. A entidade frisou que o objetivo da ação era salvaguardar a integridade da profissão e a segurança dos pacientes.>
O CORREIO não conseguiu contato com o Conselho para atualizar esse caso. >