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Gilberto Barbosa
Publicado em 14 de julho de 2025 às 16:32
O toque da zabumba, da sanfona, e do triângulo anunciam que é dia de festa na sede da Associação Cultural Asa Branca dos Forrozeiros da Bahia. A celebração tem um motivo mais do que especial: é dia de inauguração da primeira escola pública de forró do estado, nesta segunda-feira (14). >
A instituição funcionará na sede da associação localizada na Rua do Passo, 29, no Santo Antônio Além do Carmo. As turmas serão divididas por quatro instrumentos: sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro. Cada um terá quatro turmas com 16 alunos, com aulas nos turnos matutino e vespertino. O curso terá duração de três meses e conta com inscrições gratuitas. >
“Os saberes do forró são muito profundos e vinham sendo esquecidos com o tempo. É importante reviver isso, trazer um olhar próprio para esses conhecimentos e transmitir a força desse ritmo. Nada melhor do que fazer uma escola vinculada a esses conhecimentos e que tenha como foco passá-los para outras pessoas”, afirmou o coordenador pedagógico da unidade, José Izquierdo. >
Não há restrições quanto à idade ou à experiência dos estudantes. A cuidadora de idosos Walbia Meira, 59 anos, se matriculou nas aulas após assistir a uma matéria de televisão. “Eu quero tocar sanfona e estou disposta a aprender. Não é fácil, mas eu vou me desafiar a isso. Sou paraibana e de lá saíram muitos sanfoneiros. Estou muito feliz de fazer parte desse momento”, disse. >
Na contramão de Walbia, está o professor de engenharia Yuri Guerrieri, 45, que toca sanfona há cerca de dez anos. Autodidata no instrumento, ele contou que espera aproveitar as aulas para se aprimorar enquanto sanfoneiro. “Eu sempre gostei de forró e consegui reservar um tempo para estudar durante a pandemia, e desde então venho estudando sozinho. Espero conhecer outros forrozeiros, melhorar minha técnica e tocar de forma redondinha”, falou. >
Filho e neto de sanfoneiros, Zelito Bezerra será responsável pelas aulas de sanfona da unidade. Com 30 anos de experiência, ele ressalta a importância dos cursos na preservação do ritmo. “É uma honra fazer parte desse projeto e ensinar os alunos a tocar a sanfona com uma pegada nordestina. É importante manter as raízes do nosso ritmo. A sanfona antes era passada de pai para filho e hoje podemos espalhar esse conhecimento de uma forma ainda mais desenvolvida”, exaltou. >
Segundo a presidente da Asa Branca Marizete Nascimento, a escola tem o objetivo preservar a cultura do forró tradicional. Ela conta que a ideia surgiu em 2018, quando participou de um fórum sobre forró na Paraíba. Dois anos depois, ela alugou o espaço que é a sede da instituição, que foi reformado. >
Após conseguir um financiamento em dezembro do ano passado, Marizete comprou instrumentos e contratou os professores e a equipe necessária para tirar o projeto do papel. >
“Temos que resgatar as raízes do nosso forró. Nos últimos anos o forró tradicional perdeu espaço no São João para outros ritmos sem tanta ligação com a festa. Eu estou chorando de alegria por estar realizando esse sonho e agora não posso mais parar. Já estou vendo espaços para aumentar a escola e manter o nosso forró vivo e cada dia mais forte”, celebrou. >