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Escola pública é criada para formar forrozeiros em Salvador

Aulas, que vão começar dia 14 na Rua do Passo, serão de sanfona, zabumba, triângulo e também de pandeiro

  • Foto do(a) author(a) Fernanda Santana
  • Fernanda Santana

Publicado em 24 de junho de 2025 às 05:00

Marizete Nascimento, 77 anos, contadora aposentada, preside a Associação Cultural Asa Branca dos Forrozeiros da Bahia
Marizete Nascimento, 77 anos, contadora aposentada, preside a Associação Cultural Asa Branca dos Forrozeiros da Bahia Crédito: Sora Maia/CORREIO

Quem está à frente da iniciativa é Marizete Nascimento, 77 anos, uma contadora aposentada que preside a Associação Cultural Asa Branca dos Forrozeiros da Bahia. A entidade reúne forrozeiros e entusiastas do gênero voltados para a preservação do forró tradicional. “Como dizia o finado Fel, um sanfoneiro, o 'nosso forró é o de verdade, cara com cara, barriga do mesmo jeito’”, explica Marizete.

A escola gratuita funcionará em uma das salas do sobrado rosa de dois andares onde está sediada a Associação, a partir do dia 14 de julho. A primeira turma terá espaço para 16 alunos (as), sem restrição de idade ou nível de formação: serão bem-vindos, por exemplo, tanto sanfoneiros com experiência prática, interessados nos fundamentos técnicos do instrumento, quanto quem nunca puxou um fole na vida.

Por ora, a prioridade será daqueles que forem associados ou se associarem à associação. Mas Marizete também já mapeou as escolas públicas da vizinhança, ansiosa para atingir crianças e adolescentes. “Queremos trazê-los para a cultura. A gente quer que outras gerações deem continuidade porque tem muita gente morrendo, queremos continuar formando sanfoneiros para o forró de verdade”.

A aposentada Marizete está nas últimas etapas para abrir as portas da escola, que funcionará três dias por semana. Os professores estão definidos — serão quatro — e os instrumentos encaixotados no corredor foram comprados nos últimos três meses, financiados por uma verba pública adquirida pela associação em dezembro do ano passado. Ao todo, custaram

R$ 88 mil.

Agora, quer conseguir novos apoiadores e “circular a notícia”, que ela movimenta nas rodas de forró, em encontros culturais e ligações. “Eu vi você tocando ontem. Você já tá bem bom”, diz, em uma das chamadas, a um sanfoneiro conhecido. “Depois você vem conhecer as sanfonas daqui. Espalha a notícia que quero inaugurar com a turma fechada”.

Como surgiu

A ideia de uma escola para forrozeiros é lapidada desde 2007, quando músicos e entusiastas do forró abriram a Associação Asa Branca, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. Marizete era uma das integrantes — e uma das duas mulheres no grupo. “Só que a associação só dormia em Simões Filho”, recorda Marizete. “Eu já queria fazer isso [a escola] e vim para cá para o Centro Histórico para facilitar, para ter o apoio”.

Antes de ter o apoio, Marizete fez esforços para chegar ao novo e cobiçado endereço: “arrisquei minha aposentadoria para vir para cá, aluguei essa casa”. O sobrado estava quase em ruína, parecia um canteiro de coisas abandonadas. Algumas reformas depois, a casa ficou apresentável e ganhou a plaquinha com o nome da associação, seguida de um reforço: “Casa do Forró”.

Marizete volta e meia responde a curiosos que param ao ver o anúncio. “Vai ter forró em breve”, responde sorridente ao ser questionada sobre rodas de forró na casa. “Já fazemos algumas festas, mas quero ajeitar aqui o fundo para fazermos eventos”, conta ela, em um galpão no subsolo.

Até porque é isso que ela quer com o forró: se divertir. Nascida em Quijingue, no sertão baiano, ela não toca instrumentos, nem canta profissionalmente. “Quero que mais gente aprenda para eu poder dançar. Gosto mesmo de pinotar”, diz ela, que dançou os primeiros forrós nas festas caseiras em sua cidade natal.

Ao chegar em Salvador, o forró, por força das circunstâncias, ganhou mais espaço que apenas o da diversão. Aos finais de semana, de folga do serviço como contadora, ia ao Restaurante Uauá, em Itapuã, especializado em eventos de forró e comida típica do sertão. De tanto ir, virou quase “mobília” da decoração e referência entre os frequentadores.

“Quando o pessoal queria fazer festa nos condomínios e escolas, buscava o Uauá, e eu tinha o contato de todo mundo. Aí o povo foi me ligando, e eu andei levando as pessoas para fazer show”, conta. “E meu irmão que era cantor entrou para o forró, e eu comecei a vender ele para o São João”.

Em 2010, Marizete virou presidente da Associação Cultural Asa Branca. É reeleita desde então. Entre as obrigações burocráticas, pensa, quem sabe, em aprender a tocar um instrumento. “Eu acho que sempre me achei incapaz… Eu gosto mesmo é de dançar”.

Rodopiando ao som de um trio nordestino, ela sente como se fizesse uma oração. A sanfona é seu evangelho; a pista, o altar.

Confira vídeo com a reportagem completa no canal do CORREIO no youtube: @correio24hBahia. Se inscreva e receba conteúdos exclusivos.