Plataforma acumula 19 tiroteios e 12 mortes em 2023; relembre casos

Bairro é centro de disputa entre facções desde a última segunda-feira (16)

O bairro de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, já acumula registros de 19 tiroteios, 12 mortes e duas pessoas feridas pela violência armada em 2023, de acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado. Esses números não incluem o tiroteio registrado por volta das 9h30 dessa quarta-feira (18), quando facções voltaram a entrar em confronto e ao menos dez tiros foram ouvidos por moradores da área. A troca de tiros ocorreu na Rua dos Araçás, nas margens da Avenida Suburbana, mas afetou as aulas de seis escolas municipais e dois colégios estaduais na região.

Moradores afirmam que o motivo dos disparos é um confronto entre as facções do Bonde do Maluco (BDM) e do Comando Vermelho (CV) que existe na região há mais de um ano e, agora, volta a se acirrar. “Você pode ver nas paredes das ruas e nos postes as iniciais do BDM, que é dos meninos aqui da área. Agora, tem um pessoal do ‘Tudo 2’ [CV] que está atacando direto. Isso tem um ano já. Eles vêm, trocam tiro e acabam indo embora depois. Dessa vez, ficaram desde segunda-feira e tem rolado tiroteio todo dia”, falou um morador, que pediu para não ser identificado por medo de represália.

Antes do confronto dessa quarta-feira, traficantes dos dois grupos criminosos trocaram tiros por dois dias consecutivos, de acordo com relatos de moradores, como o de uma senhora que tem casa na área e também pede para que o seu nome seja preservado. “Chegaram na segunda e já começou o pipoco. Naquele dia, foi por volta das 22h, bem mais tarde. Ontem [terça-feira] aconteceu às 19h e todo mundo entrou em pânico porque foi muito mais cedo e ainda tinha gente na rua. Os homens que vieram de fora [CV] ficaram escondidos no mato lá de cima, perto das bananeiras para trocar tiro com quem é daqui [BDM]”, explica ela.

A Polícia Civil da Bahia (PC) foi procurada para responder se investiga algo no local, mas respondeu que não houve registro de ocorrência na unidade que cobre a área. Já a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), que também foi procurada pela reportagem para explicar se tem conhecimento dos confrontos no bairro de Plataforma e se estuda uma ação no local, não respondeu até o fechamento desta matéria.

Essa não é a primeira vez em 2023 que a violência armada provoca tensão no bairro. No início de março, um homem, que seria uma das lideranças do tráfico na localidade, foi morto em confronto com a polícia e boatos de toque de recolher começaram a circular. Como resultado, duas escolas municipais suspenderam aulas por dois dias consecutivos enquanto os colégios estaduais registraram uma presença pequena de estudantes.

No início de julho, um outro confronto entre CV e BDM causou pânico para os moradores. Ao longo da noite de 7 de julho [sexta-feira], dezenas de homens armados com fuzis, carabinas, submetralhadoras e pistolas circularam pelo bairro em confronto. Vídeos gravados por moradores no meio do tiroteio dão dimensão da intensidade da guerra promovida nas ruas do bairro na ocasião.

Acionada, a PM enviou equipes até o local e um homem foi morto pelos agentes. O homem foi identificado como Paulo Ricardo Leal da Silva. Ele teria sido baleado após atirar contra um policial civil, que estava fora de serviço. Paulo chegou a ser socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu.