'Por que tanta crueldade?', questiona mãe de jovem assassinado em ação da PM na Gamboa

Caso aconteceu na Gamboa, em 2022, e deixou três morto; MP acusa PM de plantar provas e alterar a cena do crime

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  • Gil Santos

Publicado em 16 de maio de 2024 às 16:30

Vítimas estavam em uma festa de Carnaval no bairro Crédito: Marina Silva/Arquivo CORREIO

Questionada o que diria caso estivesse diante dos policiais acusados de matar o filho dela, a vendedora ambulante Luciana Guimarães, 44 anos, não titubeou. "Não tenho nem o que dizer para eles, mas perguntaria por que tanta crueldade? Por que fizeram essa maldade?", disse. O crime ocorreu em 1º de março de 2022, deixou três mortos e quatro policiais foram denunciados pelo Ministério Público por alterar a cena do crime e plantar provas.

Luciana é mãe de Cléverson Guimarães Cruz, que tinha 22 anos na época em que foi morto. Ela contou que o filho trabalhava como barqueiro, levando os turistas e visitantes da Gamboa para as outras praias da região, e ajudando a esposa com a barraca de venda de água, cerveja e refrigerante quando o movimento estava fraco. "Eu recebi a ligação quando estava em casa, dormindo", contou a mulher.

A primeira audiência de instrução desse caso ocorreu nesta quinta-feira (16). A versão dos policiais militares é de que eles foram recebidos a tiros pelos jovens, revidaram e mataram as vítimas. Já o laudo pericial aponta que não tinha vestígio de pólvora nas mãos dos mortos, que os corpos foram arrastados de lugar e que armas foram plantadas. Para o Ministério Público houve execução e tentativa de fraude processual.

O crime aconteceu no dia 1º de março de 2022, uma terça-feira de Carnaval. Testemunhas contaram que estava sendo realizada uma festa na Gamboa quando os militares chegaram. Os cabos da PM Tárcio Oliveira Nascimento, Thiago Leon Pereira Santos, Lucas dos Anjos Bacelar Dias e Marinelson Mendes Alves da Cruz foram denunciados por participação na ação que resultou nas mortes de Alexandre Santos dos Reis, 20 anos, Cléverson Guimarães Cruz, 22 anos, e Patrick Sousa Sapucaia, 16 anos.

As mães dos outras vítimas também compareceram e foram ouvidas na audiência. Elas cobraram por justiça. O coordenador do Ideas - Assessoria Popular, entidade que representa as famílias das vítimas, Wagner Moreira, afirmou que a data da audiência é simbólica por ocorrer menos de uma semana após o Dia das Mães e disse que existe uma tentativa de rotular as vítimas como bandidos. Ele fez ainda uma crítica sobre a violência praticada contra jovens negros ser corriqueiramente tida como isolada.

"O avanço dos investigações em uma conjuntura em que a Bahia ocupa o Ranking da Letalidade Policial é uma sinalização importante rumo ao Controle Externo da Atividade Policial. Quando os dados de 2022 apontam que 1 a cada 4 Mortes Violentas Intencionais (MVI) foi cometida pelas forças policiais do estado", afirmou.