FIBROMIALGIA

‘Posso ter recaída e não conseguir sair de casa’: o drama de quem sofre com o reajuste dos remédios

Leiliane Felício, de 49 anos, toma remédios para dor e controle do humor

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  • Maysa Polcri

Publicado em 5 de abril de 2024 às 08:00

Leiliane toma medicamentos de uso contínuo para depressão e dores crônicas
Leiliane toma medicamentos de uso contínuo para depressão e dores crônicas Crédito: Paula Froes/CORREIO

A professora Leiliane Felício, de 49 anos, fica ansiosa só de lembrar das dores que as crises de fibromialgia causam. A doença não tem cura e provoca, além da fraqueza muscular, mudanças de humor. Para manter a qualidade de vida e conseguir trabalhar, Leiliane toma diversos medicamentos que regulam a dor e a depressão. Mas o reajuste de 4,5% nos preços dos medicamentos ameaça o tratamento da doença.

No início da semana, ela se assustou com o aumento dos preços da pregabalina e desvenlafaxina, remédios essenciais para o controle dos sintomas da doença. Os reajustes foram de 44% e 84%, respectivamente. “Eu preciso de duas caixas por mês e não consegui comprar por causa do preço. Tive que comprar uma caixa de cada, apenas. E, no meio do mês, vou ter que me virar para comprar”, diz a professora. Os valores chegaram a R$42 e R$90.

A preocupação não é à toa. Ficar sem tomar os remédios receitados pelo médico causa danos irreparáveis no cotidiano de Leiliane Felício. Quando está em crise, não consegue sair de casa e perde dias de trabalho. A dor é tão intensa que descer os quatro lances de escada se torna uma missão complexa.

“Ficar sem os medicamentos é terrível. Eu posso ter uma recaída de depressão e crise de fibromialgia, precisar ir à emergência e ficar sem trabalhar. Já aconteceu de eu não conseguir sair de casa porque moro no quarto andar. Com muita dor, não consigo nem descer as escadas”, conta. “Para você ver em que preço de um remédio pode impactar”, lamenta.

Muitas vezes, quando o orçamento não cobre os custos do tratamento - que chega a R$500 por mês - a saída está no grupo de amigos que também têm fibromialgia. “Participo de grupos de mensagens das associações e nos ajudamos com doações de medicamentos quando alguém passa sufoco. Nem sempre conseguimos, mas, com esse aumento, vamos precisar nos ajudar mais do que nunca”, diz a professora.

O reajuste

A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) autorizou o reajuste de 4,5% nos medicamentos, mas uma pesquisa feita pelo Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) revela que o aumento pode ser muito maior. Isso porque, na maioria das vezes, as farmácias cobram valores inferiores ao teto permitido. Como o reajuste incide sobre o preço máximo, as drogarias têm uma margem ainda maior para definir os preços.

“Como as farmácias já praticam preços muito abaixo do teto, elas podem aplicar um reajuste bem maior e estará dentro do permitido”, diz Marina Magalhães, pesquisadora do programa de saúde do Idec. Isso explica porque a desvenlafaxina, que Leiliane comprava por R$49 no mês passado, passou a custar R$90 - um aumento de 84%.

“Vamos supor que um medicamento é vendido por R$100, mas o teto permitido é R$200. Os 4,5% serão aplicados sobre o máximo. Então, a farmácia poderá reajustar tanto quanto quiser desde que não passe de R$209. A decisão fica para a varejista”, completa a pesquisadora, que critica a falta de controle sobre os preços praticados.