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Priscila Natividade
Publicado em 9 de dezembro de 2024 às 15:09
João Gomes mora na região da Chapada Diamantina, no município de Seabra. Criador de minhocas, ele sabe tudo sobre adubos naturais e tem mais de 20 mil seguidores no YouTube e também nas redes sociais (@canaldaminhoca). E uma produção de 70 toneladas é pouco para quem tem mais de 50 canteiros de minhocários das espécies vermelha da califórnia e gigante africana. João queria muito mais. E foi aí que veio a ideia de construir uma minhoca de 30 metros de comprimento e 2 metros de altura, bem no meio do sítio Monte Alverne. >
“Na verdade, a gente é quem mais se diverte. É como se fosse uma brincadeira de criança, que você começa e quer chegar até o final. Eu estou aqui realizado, satisfeitíssimo, muito feliz em transformar esse sonho em realidade. A inspiração veio a partir de uma visita que fizemos à Cidade das Abelhas, na cidade de Embu, em São Paulo. Percorri uma abelha interativa e, através dessa experiência, vi que poderíamos perfeitamente construir uma minhoca do tamanho que quisermos”, conta o minhocultor. >
Inaugurada no final do mês de novembro, a escultura deve ser aberta para a visitação pública em janeiro. Quem for conhecer a minhoca vermelha da califórnia gigante vai não só passear por dentro dela, mas também entender a importância desse bichinho para a fertilização e recuperação natural do solo com QR codes informativos sobre a anatomia da minhoca interativa, como explica João: >
“A minhoca é importante por conta da sua capacidade de recuperar o solo, regenerar e torná-lo produtivo. Cada vez mais, os solos estão degradados por conta dos impactos ambientais, desmatamentos e as práticas irregulares com os plantios, o que faz com que ele se torne mais árido e improdutivo e a minhoca tem essa função de levar os nutrientes de que o solo precisa". >
O húmus é um adubo natural. E é ela quem produz matéria orgânica nutritiva para o solo. No sítio, João produz húmus de minhocas, terra vegetal, substratos, biofertilizantes, húmus líquido, além de minhocas e casulos. Atualmente, o faturamento com a atividade chega a crescer uma média de 10% ao ano. >
“Nós começamos a dar o pontapé inicial em agosto e finalizamos a construção agora, em novembro. Eu não tenho dúvidas de que essa minhoca vai impactar o turismo na Chapada Diamantina, que, por si só, já tem um apelo ambiental extraordinário. A minhoca vem como um ciclo de recuperação e de consciência ambiental para que as pessoas, a partir dessa visitação possam levar essa mensagem”, comenta. >
João Gomes
criador de minhocasO minhocão da Chapada levou cerca de três meses para ficar pronto. João contou com a consultoria técnica do professor Alves Jair Dionísio, referência da minhocultura brasileira, para trazer detalhes sobre todo o organismo da minhoca por dentro, a fim de que estudantes e visitantes possam aprender mais sobre o animal. >
Jair é professor titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e tem Pós-Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Sevilla-Espanha. Já a concepção artística da escultura, com a representação de órgãos internos em alto-relevo, ficou por conta do artista plástico Reinildo Santos. Já os construtores Edilson Oliveira e Sérgio Almeida ficaram responsáveis por dar forma para a minhoca feita de ferro e concreto. >
“A visitação vai ser agendada e vamos fazer um trabalho todo nas redes sociais para divulgar. A experiência com a minhoca gigante tem toda uma estrutura, que a gente entrega, mostrando todo o sistema vital da minhoca mediante QRCodes que vão possibilitar ao visitante, ouvir essas informações, além de conhecer melhor os sistemas de produção de fertilizantes, húmus e outros adubos naturais que produzimos aqui no sítio”, destaca. >
A história de João e desse apego todo à minhocultura começou quando ele ainda plantava hortaliças lá mesmo na região da Chapada Diamantina. A primeira espécie do minhocário foi, não por um acaso, a vermelha da califórnia - que na real pode chegar a um tamanho de 12 cm. Com os adubos orgânicos, João atende a toda a área vizinha a Seabra e outras cidades do estado, incluindo Salvador e região metropolitana. >
“Tinha me decepcionado muito com a agricultura convencional e toda essa questão do uso de agrotóxicos. Tinha uma dificuldade muito grande com essa relação, a ponto de quebrar. E encontrei na minhocultura uma alternativa que fosse na contramão do que eu fazia antes”. >
João Gomes
criador de minhocasA minhoca de 30 metros promete também se tornar mais uma atração ecoturística da Chapada, como acrescenta João, que espera ainda levá-la para o Guinness Book como a maior escultura de minhoca do mundo. “A atividade veio para me dar um novo redirecionamento na forma de pensar e agir e fazer uma nova agricultura que, de fato, fosse sustentável. A minhoca se tornou, para mim, uma alternativa de vida e de um negócio extraordinário”, completa. >