Professor da Escola de Teatro se recusa a voltar à Ufba após protestos de alunos

Paulo Dourado se propôs a dar aulas online, mas prefere não ministrar presencialmente, já que alunos já avisaram que seguirão com manifestações

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  • Maysa Polcri

Publicado em 25 de abril de 2024 às 05:00

Alunos realizaram protesto no dia 18 de abril
Alunos realizaram protesto no dia 18 de abril Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Desde que foi alvo de protestos de alunos no dia 18 de abril por supostos casos de assédio, o professor Paulo Lauro Nascimento Dourado não tem ministrado aulas na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Na ocasião, um grupo de cerca de 40 alunos invadiu a sala em que o professor estava, em protesto, e impediu a continuidade da aula. A escola vive um impasse: enquanto não houver condições do professor trabalhar, ele não deve retornar à universidade.

Os protestos dos alunos da Escola de Teatro tornaram a continuidade das aulas presenciais do professor Paulo Dourado insustentável, segundo o docente e o departamento. O próprio docente se recusa a retornar à instituição presencialmente, pelo menos por enquanto, já que um grupo de estudantes afirma que continuará impedindo que as aulas ocorram normalmente caso ele volte à universidade. Não há processos administrativos que investiguem a conduta do professor. Ele, que nega as acusações, solicitou a abertura de um processo disciplinar contra os alunos por assédio moral.

Cláudio Cajaíba, diretor da Escola de Teatro, analisa o imbróglio que envolve universidade, professor e alunos. “O professor não foi e nem será suspenso. Não existem elementos que justifiquem a medida. O que nós temos é um impasse pela ameaça de protestos caso o professor volte a dar aulas. Na próxima semana, estão agendados encontros com a superintendência acadêmica para ver como vamos dar continuidade a essa situação”, diz.

A disciplina História do Teatro no Brasil e na Bahia, ministrada atualmente por Paulo Dourado, é obrigatória no currículo dos alunos e ofertada aos calouros. Hoje, 12 alunos estão matriculados no componente. O professor sugere ministrar aulas remotas para evitar protestos dos alunos.

“Eu não vou me expor a uma situação de insegurança. Não é questão de segurança física. Eu não vou ficar naquela situação estúpida de truculência e me expor a isso [aos protestos], sem conseguir dar aula. Os alunos disseram que se eu fosse dar aulas, iriam fazer igual e eu acredito nisso”, afirma Paulo Dourado. O docente alega ser vítima de perseguição e considera as acusações dos alunos “caluniosas e difamatórias”.

No protesto realizado na semana passada, alunos entraram na sala em que o professor estava dando aula, gritaram palavras de ordem e exigiram que o docente deixasse o local. O professor não saiu da sala, o que inflou ainda mais os alunos. A situação só foi resolvida três horas depois, às 13h30, quando Paulo Dourado foi embora.

Na ocasião, a representante do movimento estudantil Louise Ferreira falou sobre a ação dos alunos. “Esse professor está há décadas na universidade e são diversos os relatos de assédio, inclusive, alunas traumatizadas que trancaram o curso por causa disso. Decidimos organizar o protesto porque entendemos que não dá mais para os alunos deixarem de frequentar a universidade pelo medo de assédio”.

Em 2022, uma investigação interna da Universidade Federal da Bahia apurou uma denúncia de assédio feita por uma aluna. Ao fim do processo, o professor Paulo Dourado assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC), em que se comprometeu a seguir as normas da instituição. Ele não sofreu medidas punitivas. 

Em nota, a universidade informou que, no caso ocorrido em 2022, "a ouvidoria recebeu uma queixa contra este professor, instaurou o processo e concluiu pela emissão de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que foi assinado pelo docente. A partir daí, não houve registro de qualquer questionamento ou ocorrência que caracterizasse o descumprimento do TAC, nos órgãos da universidade. Ou que justificasse a interdição do exercício da atividade letiva”.