Promotora propõe administração compartilhada da Igreja do Bonfim

O objetivo seria garantir uma maior transparência quanto ao uso dos recursos financeiros da igreja através da Arquidiocese e Irmandade

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  • Gilberto Barbosa

Publicado em 13 de maio de 2024 às 18:00

Audiência de conciliação entre Arquidiocese e irmandade do Bonfim
Audiência de conciliação entre Arquidiocese e irmandade do Bonfim Crédito: Gilberto Barbosa/CORREIO

Durante a audiência de conciliação entre a Arquidiocese de Salvador e a Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim, a procuradora do Ministério Público (MP) Cleonice de Souza Lima sugeriu a realização de uma nova eleição para a mesa diretora da Irmandade e de uma administração compartilhada entre as partes.

“Essa é uma questão patrimonial, de saber para onde vai o dinheiro arrecadado pela igreja. Todos querem transparência na gestão dos recursos e os custos de manutenção da igreja e da devoção. A arrecadação seria feita pelas duas partes, que seriam responsáveis pela prestação de contas”, afirmou.

Para o advogado da Arquidiocese Otoney Alcântara, o órgão considera a legitimidade do decreto do arcebispo de Salvador, o cardeal Dom Sérgio da Rocha, que afastou o juiz da congregação Jorge Nunes Contreiras, em agosto de 2023, após meses de imbróglio com o reitor da basílica, o padre Edson Nunes. A mesa diretora também foi afastada e uma nova eleição foi convocada para o final de outubro, com a eleição do novo juiz e dos novos diretores.

“Nós consideramos o decreto legítimo, pois ele segue uma regularidade e só vai à intervenção porque a conciliação chegou a um ponto em que  foi necessário. Não há resistência quanto à questão da transparência. Pelo contrário, a gente deseja que haja o máximo de transparência possível, respeitando os trâmites e respeitando a legitimidade e a legalidade”, afirmou.

Ao final da reunião ficou decido pela criação de uma planilha com os assuntos discutidos, buscando fixar os pontos de consenso entre os dois lados, que serão apresentados para o arcebispo de Salvador em reunião no dia 28 de maio, na sede da Arquidiocese, no bairro do Garcia.

“Extremamente louvável a atitude da procuradora que vê que o caminho é uma conciliação, onde não existem vencedores. Há de haver cessões de ambos os lados para chegarmos a um denominador comum. Tudo em prol da igreja do Bonfim e da devoção”, afirmou o representante da devoção Eduardo Carrera.

Arrecadação

Os conflitos iniciaram em janeiro de 2023, quando o antigo juiz da Irmandade do Senhor do Bonfim Jorge Nunes Contreiras passou a exigir que o padre Edson Menezes fosse registrado como empregado formal da devoção e recebesse um pagamento de até quatro salários-mínimos por mês. O antigo juiz também defendeu a proibição do acesso aos valores das coletas feitas pela igreja, durante as missas das sextas-feiras e cofres laterais, além de impedir a promoção do comércio de água benta e outros itens no interior da basílica por parte do padre Edson.

“Os outros dois sacerdotes da igreja recebem salários, mas ele não aceita essa determinação e nem presta contas. Nós estimamos que ele arrecada entre 40 e 50 mil reais todo mês com essas coletas. Ele diz que é para o projeto Bom Samaritano, mas não há a contabilidade do valor. O estatuto diz que todo o dinheiro arrecadado é para a devoção. Ele assinou, o cardeal chancelou, mas nunca foi cumprido à risca”, afirma Eduardo.

A Basílica do Senhor Bonfim foi procurada pela reportagem para responder sobre a arrecadação mensal da igreja. Por meio de assessoria, as lideranças religiosass afirmaram que as informações são responsabilidade do setor financeiro e não são passadas para a comunicação.

O padre Edson foi procurado por telefone para responder as falas de Eduardo, mas não atendeu as ligações até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto para que o padre se manifeste.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro