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Priscila Natividade
Publicado em 20 de outubro de 2024 às 18:48
“Quero fazer história no profissional, assim como eu fiz no olímpico e ser a primeira mulher a também conseguir conquistar a unificação do título”. Medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e bronze nas Olimpíadas de Paris 2024. Bicampeã mundial e bicampeã pan-americana. Mal se despediu das Olimpíadas, a baiana Beatriz Iasmin Soares Ferreira, de 31 anos – ou só Bia Ferreira mesmo – quer continuar marcando sua presença no ringue e se tornar em breve a primeira mulher a unificar os cinturões no boxe profissional, assim como fez o tetracampeão mundial Acelino Popó Freitas.
“Eu tenho muito orgulho de toda a minha história e agora são novas ambições, novas metas. Estou me dedicando no final desse ano e no começo do próximo ano, a focar minha carreira totalmente no profissional. Já vou defender o título agora dia 14 em dezembro. Vai ser a minha primeira defesa e estou muito animada para isso, firme e forte”, acrescentou.
A preparação já começou para a luta marcada daqui a menos de dois meses, onde Bia vai defender o cinturão mundial da Federação Internacional (FIB) dos pesos leves, em Montecarlo, Mônaco. Até lá, a multicampeã deu uma pausa nos treinos nesse final de semana para sair de São Paulo, rever a família em Salvador e também participar da 1ª Edição do Circuito Petrobras de Corrida e Caminhada.
“Fiquei muito feliz. Eu acho que tem tudo a ver esporte com saúde. Vi criança, adulto, idoso correndo e isso é muito bom, tem todo o meu apoio, achei super lindo. Foi um 'bate-volta', na verdade, estou fazendo toda a minha preparação em São Paulo, mas tirei um tempo para vir recarregar a energia, matar a saudade da mãezona também. Para mim é uma honra está aqui em Salvador, um privilégio”, contou.
Bia Ferreira
boxeadoraO evento voltado para empregados da companhia aconteceu neste domingo (20), no Jardim de Alah. A atleta do Time Petrobras, fez fotos, recebeu o carinho dos corredores – principalmente, os mirins – além de entregar as medalhas nas provas masculinas e femininas de 5 km e 7 km, nas corridas infantis e circuito de caminhada de 3 km.
“Eu amo essa energia da criança. Eu gosto de ser essa referência porque eu tinha essa referência quando criança. A gente tem que ser um espelho positivo bom para gente poder incentivar, ter bons adultos. Eu acho que o começo é muito importante. E criança tem uma energia surreal, eu amo estar junto com as crianças. Sou uma eterna criança grande e foi maravilhoso dividir um pouquinho da minha história e da minha energia com elas”.
Após encerrar a carreira olímpica e se consagrar como a brasileira com mais medalhas na modalidade, o foco de Bia Ferreira está totalmente no boxe profissional. Filha do tricampeão baiano e bi do brasileiro nos pesos-galo e supergalo, Raimundo Oliveira Ferreira, mais conhecido como Sergipe, o pai sempre foi inspiração para a lutadora que começou a aprender boxe aos 4 anos, no bairro de Nova Brasília.
“Meu pai era minha referência quando eu era criança. Eu luto boxe porque ele era um atleta de alto rendimento, então, eu cresci vendo meu pai treinar, acompanhando meu pai nas lutas e tudo mais. Eu tinha ele como uma grande referência”, disse. Das Olimpíadas ficaram as medalhas que conquistou na categoria até 60 quilos e o orgulho de estar lá representando o Brasil:
“Na verdade, a gente vive os desafios bem antes, com toda a preparação e o fato de conseguir se classificar para ter uma boa performance durante os jogos. Mas lá? Lá estava tudo maravilhoso. Eu acho que durante os jogos, quem consegue se classificar para estar nos jogos olímpicos é uma experiência surreal. Claro que em qualquer competição tem alguns perrengues, mas nada que pudesse tirar meu foco e minha concentração naquele momento. Eu estava com uma equipe maravilhosa que filtrou tudo, facilitou tudo ali. Eu estava me sentindo muito bem”.
Mesmo preparada e conhecendo as adversárias que enfrentou, Bia afirmou que o ouro só não veio porque não era o seu momento. “A questão é que não era para ser. Eu consegui me preparar legal, conhecia as adversárias sabia que a luta com a irlandesa seria uma final antecipada, sabia o que eu poderia otimizar, mas também sabia que ela ia ter um anti-jogo e foi o que ela fez. Era o dia dela, o momento dela. Eu entreguei tudo que eu tinha para entregar naquele dia e consegui ter mais uma medalha e finalizar minha passagem no boxe olímpico com duas medalhas foi muito importante. Eu tenho muito orgulho de toda a minha história, a trajetória que eu tive”.
No profissional, Bia Ferreira acumula cinco vitórias, duas delas por nocaute. Mãe da boxeadora, Suzana Pereira Soares, contou que convive com várias ‘Bias’ antes de cada luta: “Ser mãe de Bia não é fácil. Não é fácil porque Bia antes da luta é uma, Bia depois da luta é outra. É todo um processo. Bia antes da luta é chatinha porque fica restrita a um monte de coisa. A Bia depois é maravilhosa. E a Bia filha é cuidadosa. Bia escuta, conversa, é extrovertida, a gente se dá muito bem. Eu, ela, e a irmã Samira, somos muito unidas”.
Suzana Pereira Soares
mãe de BiaSobre assistir as lutas, a mãe diz que acompanha todas e não aceita que ninguém conte como foi. “Eu tenho que assistir. Fico nervosa? Fico. Quando acaba eu grito e assim que termina eu quero logo vê o corpo, se ela saiu machucada, se está tudo bem. A minha preocupação é essa, se aconteceu alguma coisa, se está tudo bem”.
Certa vez, Suzana chegou até a assistir a luta errada, mas não deixou de torcer pela filha. “Teve uma luta mesmo que eu estava assistindo e comecei a procurar tatuagem dela e aí, eu não estava identificando. E aí, eu tirava o óculos, colocava o óculos e não vi a tatuagem, mas estava torcendo porque a pessoa era muito parecida. Depois eu tentei falar com ela, já estava acontecendo outra luta já e quando ela me atendeu, virou para mim e disse: ‘minha mãe, eu ganhei, quem a senhora viu foi minha colega’. Eu só não quero que ela demore muito nessa coisa de estar ali em cima do ringue para que ela possa aproveitar melhor os ganhos desse momento, das coisas que ela está conquistando. O que eu desejo para ela isso, mas eu sempre digo para ela fazer o que ela quer”.