O que você faria com R$ 6,7 mil? Sem trens, passageiros do Subúrbio deixaram de economizar dinheiro

Valor gasto com as tarifas de ônibus desde o fim dos trens do Subúrbio daria para comprar, por exemplo, quase 900 quilos de arroz

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  • Raquel Brito

Publicado em 17 de abril de 2024 às 05:00

Passageiros do trem gastaram mais de R$ 6 mil a mais com tarifas de ônibus
Passageiros do trem gastaram mais de R$ 6 mil a mais com tarifas de ônibus Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Há três anos, quem se deslocava de trem no Subúrbio Ferroviário de Salvador precisou se adaptar a uma realidade de mais gastos: dos R$0,50 da tarifa dos trens, passaram a pagar mais de R$ 4 diariamente nos ônibus. Entre fevereiro de 2021 e abril deste ano, os passageiros desembolsaram R$6.726 a mais do que gastariam com o veículo sobre trilhos.

Com esse valor, se os trens do Subúrbio ainda existissem, os moradores e trabalhadores que dependiam deles conseguiriam manter o armário abastecido por um bom tempo. Seria possível, por exemplo, comprar 896 quilos de arroz da marca Tio João (R$7,50), 747 quilos de feijão da marca Kicaldo (R$ 9) e 448 pacotes de 500g de pó de café Pilão. Os números têm como base os valores do aplicativo Preço da Hora.

As proteínas também estariam garantidas: considerando que o quilo do patinho custa atualmente R$36,90, os passageiros poderiam comprar 182kg da carne ou 672 dúzias de ovos (R$10).

O técnico em manutenção automotiva Jardeson Santos, de 33 anos, costumava utilizar o trem todos os dias. Com a ausência do modal ao qual estava habituado, precisou substituir pelo ônibus e agora paga R$10,40 por dia, para ir e voltar do trabalho.

Para ele, os R$6,7 mil a mais das passagens de ônibus que vem pagando fariam toda a diferença na sua conta bancária hoje. “Eu pagaria metade das minhas dívidas. [Depender dos ônibus] prejudica muito financeiramente. A esperança para o VLT é alta, mas a sensação é de incapacidade por saber que temos um governo para ricos e não para quem precisa”, declarou.

O governo estadual tem prometido construir um VLT (Veículo leve sobre trilhos) onde o trem funcionava. Segundo o governador Jerônimo Rodrigues (PT), as obras do novo modal, que estão orçadas em mais de R$3,6 bilhões, vão começar em julho deste ano. Com 36 quilômetros de extensão, o trajeto do modelo abrangerá de São João (Simões Filho) até Piatã.

Anete de Carvalho, 54, mora em Periperi e ia sempre de trem ao centro da cidade. “Hoje, eu vou de ônibus, o que aumentou muito o custo e o tempo de viagem também, porque a Suburbana sempre tem congestionamentos. Os trens fazem muita falta para nós suburbanos”, afirmou. Se tivesse economizado esses mais de R$6 mil, ela já sabe onde colocaria o dinheiro. “Eu pagaria uma dívida e guardaria o restante na poupança!”, exclamou.

Investimento

Outra possibilidade seria investir esse valor. Segundo o educador financeiro Raphael Carneiro, se o dinheiro voltado para passagens de ônibus nos últimos três anos fosse investido, renderia até o fim do ano pelo menos R$278. “Se fosse investido no Tesouro Selic, que é o título de investimento mais seguro que temos, a pessoa teria R$ 7.064,55 ao final deste ano, já descontado o imposto de renda e as taxas. O valor bruto seria R$ 7.167,63 e o mesmo valor na poupança seria de R$ 7.004,55”, explicou.

Já em três anos, mesmo período de ausência dos trens, seriam R$ 8,665,64 líquidos no Tesouro Selic, levando em conta que a taxa de juros vai continuar nesse mesmo patamar, afirmou Carneiro. Na poupança, ficaria com R$ 8.183,69.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo