ARTE-EDUCAÇÃO

Projeto promove dia de educação lúdica para alunos de escola na Mata Escura

Iniciativa vai impactar 150 crianças até o dia 24 de maio, levando técnicas artísticas e de contação de histórias para estimular a arte e criatividade

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  • Larissa Almeida

Publicado em 29 de abril de 2024 às 20:59

Projeto Chegança Atelier Cultural durante vivência na Escola Municipal São Miguel, na Mata Escura Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Um lugar fantástico onde basta fechar os olhos, seguir o som da música e, de repente, experimentar a sensação de ser teletransportado para uma floresta e se mover no ritmo das borboletas. Foi assim, no limite entre a fantasia proposta pela imaginação e a realidade de um ambiente responsável por estimular a criatividade, mas sobretudo a educação, que uma turma de alunos da Escola Municipal São Miguel, no bairro da Mata Escura, encarou a sala de aula durante uma tarde lúdica de aprendizagem nesta segunda-feira (29), promovida pelo grupo Chegança Atelier Cultural, um coletivo de criação e produção artística especializado em elaborar e coordenar projetos e produtos culturais em suas diversas linguagens.

Liderado pelas arte-educadoras Ana Mendes e Manu Santiago, a iniciativa, que tem apoio da Prefeitura de Salvador, Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e Ministério da Cultura, aconteceu através de exercícios práticos de experimentação cênica, que incluíram jogos teatrais, contação de histórias, elementos de musicalidade e técnicas de palhaçaria exercitados por cerca de 20 crianças com idades entre 7 e 10 anos. Num espaço amplo, elas puderam contar suas próprias histórias, brincar, interagir e explorar o ambiente da sala de uma forma diferente – sem cadeiras, sem fileiras e com a participação ativa nas dinâmicas propostas.

Turma de alunos da Escola Municipal São Miguel, na Mata Escura Crédito: Paula Fróes/CORREIO

“A vivência tem sido desafiadora porque percebemos um espaço de carência da expressão. Hoje, o que fizemos justamente foi explorar esse lugar, dizendo que eles podiam se expressar e liberar aquilo que precisavam com o mínimo de controle possível. [...] Esse projeto é para reafirmar o papel da arte-educação dentro da sala de aula, da importância da construção de um entendimento de leitura de mundo para além do livro e da palavra escrita. Quando proporcionamos esse espaço para eles, fazemos com que questionem o método utilizado de cadeiras e filas, que nem sempre conseguem proporcionar o aprendizado de forma positiva”, afirmou Ana Mendes.

Para a aluna Emily Vitória, de 8 anos, o dia de aula pôde ser resumido como divertido. “Foi legal, eu gostei porque foi diferente dos outros dias. Foi muito divertido. Eu gostei muito da brincadeira do bambolê. Nela, a tia colocava a mão na cabeça de cada um para rodar e, quando ela falasse para pegar uma bolinha dentro da roda, todo mundo tinha que entrar no bambolê”, descreveu.

As atividades foram aplicadas seguindo um roteiro, que inicialmente teve como principal missão acalmar os ânimos dos alunos, para só então desenvolver o estímulo à arte. “Fizemos exercícios de escuta do corpo e algumas de meditação antes do lanche, porque eles chegam cheios de energia. Desenvolvemos esse trabalho há 16 anos trazendo basicamente as técnicas que já trabalhamos em trabalhos teatrais e de educação. O objetivo é multiplicar a arte. Acreditamos que o público infanto-juvenil é a base de tudo e a acreditamos na cultura como trabalho de formação, não só de entretenimento”, frisou Manu Santiago.

Grupo Chegança Atelier Cultural Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Já na sua segunda edição, o projeto, que além da Mata Escura já marcou presença no bairro de Pernambués, ainda vai passar por escolas de Sussuarana, Doron e Narandiba até o dia 24 de maio. Ao total, deve impactar cerca de 150 crianças, fazendo uso de metodologia para integrar alunos com deficiência, com transtorno do espectro autista (TEA) e com distorção idade-série, além de promover acessibilidade com uma professora de Libras junto às práticas de vivência teatral.

Na Escola Municipal São Miguel, o ensino de Libras começou pelo básico. Com as demonstrações da intérprete de Libras Aline Suzart, os pequenos fizeram colagem com as letras do alfabeto na linguagem de sinais a fim de formarem seus próprios nomes. O aluno Vitor Carlos, de 10 anos, adorou. “Nos outros dias é bem sem graça. Hoje eu pude brincar e eu gostei porque prefiro me movimentar a ficar sentado e também porque aprendi meu nome em Libras. Eu sei falar ‘boa noite’, aprendi a falar ‘boa tarde’ e ‘bom dia, também em Libras”, comemorou.

Aline Suzart aprovou a empolgação da meninada e explicou a motivação por trás do método utilizado. “A colagem é uma dinâmica que usamos quando a pessoa está começando a aprender a língua de sinais. Então, pensamos: por que não levar para as crianças esse conhecimento? Se eles tiverem um coleguinha mudo, eles já sabem a comunicação básica. Eles ficaram muito curiosos e é importante estimular desde a tenra idade e ter esse componente nas escolas para as crianças interagirem e fazerem as trocas”, ressaltou.

Aluno Islan Lima Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Já Elis Almeida, monitora pedagógica responsável pela inclusão com crianças PCD, falou sobre a importância do acompanhamento dos alunos a fim de garantir a integração de todos. “Às vezes têm crianças que não são determinadas atípicas, mas têm um outro tempo que também precisamos prestar atenção. São crianças que não têm muita desenvoltura, habilidades corporais, comportamentais, na fala e na escuta”, apontou.

“Hoje, me chamou muito atenção porque tivemos uma criança aparentemente atípica e uma criança aparentemente típica, mas que tinha o tempo dela e era mais devagar. Meu trabalho era ver até que ponto elas compreenderam a mensagem que foi passada e, a partir disso, trabalhar com elas. Vou estimulando e dizendo ‘você consegue’, ‘é o seu tempo, respeite’, ‘eu vou junto com você’”, detalhou.

Elis Almeida e aluna durante atividade de estímulo à imaginação Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Como resultado do dia de aula diferente, lúdico e inclusivo, o retorno só poderia ser positivo. “Eu brinquei muito, relaxei e aprendi muitas coisas, como brincar e perder sem se irritar, prestar atenção na hora de jogar a bola no outro. Também aprendi um pouco de Libras e acho que vai ser legal para ajudar o próximo”, avaliou o aluno Islan Lima, de 8 anos.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro