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Ovos de 'ouro': raça de galinha baiana conquista o mundo e tem oferta de compra de até R$ 20 mil

A Galinha Balão de Baixa Grande ou Balão Sertaneja é uma raça de ave caipira de grande porte

  • N
  • Nilson Marinho

Publicado em 15 de julho de 2024 às 05:00

Raça surgiu após cruzamentos
A raça surgiu após décadas de cruzamentos entre os animais Crédito: Divulgação

Cloves Sousa, conhecido como Mestre Sousa, tem em suas mãos um frango. Uma imponente ave, de estrutura colossal, plumagem exuberante e de compridas patas. É possível notar que o animal facilmente mede cerca de um metro, se compararmos com a mediana estrutura do humano que a tem debaixo do braço. Sugestivamente, ainda que não tenha atingido a idade adulta, também é possível deduzir que ultrapassa o peso médio de outros galos e galinhas adultas que estamos acostumados a ver à mesa ou a ciscar pelos terreiros.

O dono da ave avalia cada parte do corpo do bicho enquanto se orgulha das características físicas dela. “Animal para frente, cabeçudo e barbeludo [...] Vai ficar gigante, vai ser um bicho muito forte”, diz Mestre Sousa ao mostrar o frango para a câmera.

O vídeo da apresentação da ave foi publicado na página do Instagram do criatório que pertence a Cloves. O post foi curtido por mais de meio milhão de usuários da rede e recebeu mais de 6 mil comentários de pessoas de todo o mundo. “Se eles continuarem a reproduzir para torná-los maiores e maiores a cada geração, podemos ter um tiranossauro rex de volta”, comentou um estrangeiro ao se impressionar com o tamanho do bicho.

O que o Mestre Sousa tinha em mãos é um exemplar de uma raça de galinha que se originou no semiárido baiano, no povoado de Consolo, que fica a cerca de 10 km de Baixa Grande, no centro-norte do estado. Os amantes da avicultura, colecionadores e criadores, de todo o Brasil e todo o mundo, têm voltado os olhos para o que está sendo criado naquela região.

A Galinha Balão de Baixa Grande ou Balão Sertaneja é uma raça de ave caipira de grande porte, resistente ao calor, a micro-organismos e a verminoses. Ela chega a um metro de comprimento — podendo ultrapassar essa medida no caso dos machos —, pesa três vezes mais que uma caipira comum, alcançando entre seis a oito quilos. Além disso, as galinhas colocam até 18 ovos antes do choco.

Exemplares são vendidos por em média R$ 1 mil, mas o valor pode ser superior com base nas características do animal. Já a dúzia de ovos pode ultrapassar os R$ 300. O próprio Mestre Sousa já rejeitou a proposta de R$ 20 mil por um galo considerado um exímio reprodutor.

“Há cerca de oito anos, a Galinha Balão atingiu seu auge. Começamos a vender galos por preços altos; na época, um galo foi vendido por R$ 500, o que era um valor significativo. Com o tempo, o valor das aves aumentou. Hoje, temos um reprodutor aqui no criatório que já recebeu ofertas de R$ 20 mil, mas não vendemos porque ele é um dos nossos melhores, conhecido como Fenômeno”, conta Júnior Sousa, filho de Cloves.

Mestre Sousa e seu filho Júnior com examplares da raça Crédito: Divulgação

O criatório da família Sousa atende clientes sobretudo de Rondônia, Minas Gerais e São Paulo que vão pessoalmente até Baixa Grande buscar as aves — a demanda também vem do exterior. Os envios de ovos são feitos principalmente para São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Belém. O espaço conta com cerca de duzentas galos, galinhas e pintinhos. Alguns reprodutores com características morfológicas excepcionais não são colocados à venda. “Preferimos vender seus filhos, que também têm um valor elevado”, completa Júnior.

Aos poucos, surgem criadores em todo território nacional. Na Bahia, não há criatórios apenas em Baixa Grande. Em Senhor do Bonfim, no norte do estado, Rodrigo Almeida está à frente do criatório Joia do Sertão. Ele também é presidente da Associação Brasileira de Criadores da Galinha Sertaneja Balão (ABRASB).

Rodrigo, que é advogado, já criava galinhas desde muito pequeno, por influência do pai e do avô. Nos últimos anos, passou a frequentar feiras agrícolas. Em uma delas, na cidade de Serrolândia, no centro-norte da Bahia, teve contato com a raça e se impressionou com três exemplares que viu expostos no evento.

“Quando cheguei à feira, logo na entrada me deparei com três gaiolas com galinhas dentro. Fiquei impressionado, porque era diferente de tudo que já havia visto em termos de galinhas. Elas eram enormes. Para você ter uma ideia, cada gaiola cabia no máximo três aves. Foi então que comecei minhas pesquisas e paralelamente adquiri alguns exemplares, porque percebi que havia um bom negócio ali”, comenta Almeida.

Hoje, o Joia Sertaneja conta com cerca de 800 galinhas e 200 galos reprodutores. Os clientes são de todo Brasil e também do exterior, como no criatório do Mestre Sousa. Curiosamente, os baianos são os que menos procuram pela raça, afirma Rodrigo.

 Rodrigo Almeida presidente da (ABRASB e dono
Rodrigo Almeida presidente da (ABRASB e dono Crédito: Divulgação

“Para criar a raça, é necessário ter cuidados básicos sanitários, água limpa, baias bem limpas e vacinação, especialmente por ser uma galinha caipira criada solta. Sem vacinação, é impossível criar galinhas no Brasil devido às doenças, principalmente as respiratórias”, comenta o presidente da ABRASB.

Surgimento

O médico veterinário e vice-presidente da Associação Criadores da Galinha Balão de Baixa Grande (ACGBBB), Thiago Pedreira, afirma que a raça começou a ser criada há mais de meio século com o propósito de ter animais com maior quantidade de carne, para alimentar mais pessoas. Recentemente, as aves passaram a ter a função de ornamentação, mas sem perder a funcionalidade inicial.

“A galinha balão de Baixa Grande começou a surgir através de um tronco genético denominado tronco das galinhas balões. Esse tronco está relacionado a várias aves no Nordeste e em algumas regiões do Brasil. São aves de grande porte, geralmente arredondadas e compactas, com perfil cárneo e capacidade de ganhar peso. Essas aves depositam muita gordura corporal, uma adaptação ao clima quente e à baixa disponibilidade de alimentação”, explica.

Ainda conforme Pedreira, a galinha balão de Baixa Grande é oriunda de grupos genéticos trazidos pelos europeus, especialmente pelos portugueses e espanhóis. Mas também é possível que tenha influência de aves asiáticas, africanas e do nosso próprio continente.

médico veterinário e vice-presidente da Associação Criadores da Galinha Balão de Baixa Grande (ACGBBB), Thiago Pedreira
médico veterinário e vice-presidente da Associação Criadores da Galinha Balão de Baixa Grande (ACGBBB), Thiago Pedreira Crédito: Divulgação

“Os portugueses e espanhóis eram povos cosmopolitas, com uma ideia de globalização, percorrendo grandes distâncias e adquirindo um pouco da cultura dos animais de vários países, incluindo países asiáticos e africanos. A raça pode ter DNA de grupos vindos da Península Ibérica. Isso é evidente porque são aves que têm cristas e barbelas grandes, e aurículas brancas ou esbranquiçadas”, explica.

“Existem ainda as aves pré-colombianas, que são as aves que já existiam no Brasil antes da chegada de Cristóvão Colombo. Essas aves incluem as aves dos Andes, que põem ovos azuis. As galinhas balão de Baixa Grande também põem ovos azuis, verdes e castanhos. O fato de elas porem indica que possuem o gene dos ovos azuis. As aves pré-colombianas provavelmente chegaram aqui antes mesmo de Cristóvão Colombo, trazidas pelos polinésios pelo Oceano Pacífico até a costa da América do Sul, no Chile. Essas aves formaram os ancestrais das galinhas, incluindo as famosas araucanas”, completa o médico veterinário.

O vice-presidente da ACGBBB afirma que a associação quer manter a essência da ave para que ela não perca sua função. Ele diz que, por meio do melhoramento genético, a raça pode ajudar na formação de híbridos caipiras que melhoram a agricultura familiar e o desenvolvimento de comunidades do semiárido baiano.

A associação de Baixa Grande reconhece a variedade de pescoço pelado
A associação de Baixa Grande reconhece a variedade de pescoço pelado Crédito: Divulgação

“A galinha balão de Baixa Grande tem funcionalidades que não queremos perder. Ela poderia ser uma grande auxiliadora na formação de híbridos de corte mais adaptáveis, com menos perdas e melhor rendimento de carcaça, beneficiando as comunidades com esse material genético valioso”, diz Pedreira.

A raça ainda não é patenteada, mas o vice-presidente da ACGBB garante que está lutando para o registro oficial da ave baixagrandense. Pedreira diz ainda que trabalha para tornar o animal um patrimônio da cidade. “Pode haver outras galinhas balão, mas são outras aves, com diferentes materiais genéticos. Nossa ave é distinta e possui características únicas. A própria lei do gargalo genético valida a nossa ave. Os estudos morfométricos e genéticos que estão sendo realizados comprovarão isso. Estamos lutando para que a patente da raça seja nossa, de Baixa Grande, e não de outra associação ou local”, finaliza.

Parte dos sócios de ACGBBB
Parte dos sócios de ACGBBB Crédito: Divulgação

Características

CORES: variadas cores exuberantes, sendo seis delas base: preta, azul, branca, vermelho, prata e ouro.

PENAS: firmes e harmônicas, com reflexão metálica, sobretudo nos machos. As fêmeas têm vasta penugem na região da cloaca.

CORPO: grande porte com corpo arrendondado, ossatura pesada, firme e harmônica

CABEÇA: grande, pesada, harmônica, levemente convexilínea a retilínea

OLHOS: expressivos, atentos, projetados na linha do bico de coloração amarela, amarelo-esverdeado e laranja.

BICO: médio, forte, simétrico de ambos os lados, bem encaixados entre o maxilar e a mandíbula

CRISTA: formato de serra, com um vermelho intenso e bem encaixadas na cabeça, apresentam de seis a oito torres. Os machos possuem uma crista grande, musculosa e ereta

BARBELAS: harmônicas simétricas, flexíveis de um vermelho intenso. Os machos possuem barbelas grandes e vistosas, bem maiores que as fêmeas

PESCOÇO: médio, proporcional ao corpo, flexível, conferindo estabilidade a ave ao caminhar, se alimentar, e ao copular.

ASAS: curtas, arredondadas, simétricas, fortes e bem encaixadas na cavidade celomática.

APRUMOS: simétricos, firmes, ágeis, sem desvios angulares e de raio ósseo apresentado equilíbrio ao locomover-se.

CANELAS: grossas, de tamanho médio, proporcionais ao corpo, de coloração pintada de preto e amarelo, branca, amarela, amarela esverdeada e preta.

CAUDA: inserida harmoniosamente com o corpo levemente para o alto, a reta. As penas da cauda são de comprimento médio a curto em ambos os sexos.

OVOS: Os ovos são grandes, simétricos e de várias cores. Dentre elas o beje, marrom, branco, verde, lilás e azul.

OBS: diferente da ABRASB, a ACGBBB reconhece as variações de pescoço pelado e barbuda.