Retorno das máscaras? Propagação de variantes do coronavírus pelo mundo acende alerta

No entanto, não há motivo para pânico por causa da EG.5 e da BA.6; veja o que explicam e recomendam os especialistas

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 19 de agosto de 2023 às 05:00

Vacina ganha ainda mais importância no momento Crédito: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Limpar embalagens de batata palha com álcool, sair correndo quando alguém tosse ou não conseguir reconhecer pessoas na rua por conta das máscaras podem parecer situações obsoletas, mas será que estamos mesmo livres disso para sempre? A pandemia acabou, mas variantes e subvariantes do poderoso coronavírus continuam a circular por aí. Nesta semana, alertas de especialistas quanto à presença em massa da EG.5 e da BA.6 pelo mundo deram o que falar, fazendo muita gente sentir um frio da espinha só de pensar em ter que usar máscara novamente.

As letras e os números não dizem nada aos leigos, mas os infectologistas explicam. A EG.5, também chamada de Éris, é uma variante da ômicron, enquanto a BA.6 é uma subvariante também da ômicron. Os vírus dependem dessas adaptações para sobreviver; quanto mais barreiras de proteção (pessoas que já foram infectadas ou que estão vacinadas) eles encontram, mais estratégias vão criar para encontrar um jeitinho de causar infecções.

A EG.5 já foi detectada em 51 países, incluindo o Brasil, com um caso no estado de São Paulo, em uma idosa de 71 anos que já está curada e tinha o esquema vacinal completo. A BA.6, por sua vez, foi encontrada até o momento apenas na Dinamarca e Israel. A falta de evidências em outros países, no entanto, não é uma garantia. “Deixamos de fazer um controle efetivo, com testes. Isso dificulta muito a compreensão real do cenário epidemiológico para identificar em quais países as subvariantes já chegaram e ter uma previsão de quando poderiam chegar em outros”, pondera o infectologista Carlos Roberto Brites, professor titular de infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia.

O que se sabe sobre a EG.5 e a BA.6?

Segundo a infectologista Raquel Stucchi, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, a EG.5 e a BA.6 acendem um alerta no momento por conta da grande facilidade de propagação. A OMS informou, no último dia 11, que os casos de Covid-19 detectados em todo o mundo aumentaram 80% em julho, embora a mortalidade tenha reduzido 57%.

Nova variante e nova subvariantes são mais propagáveis, mas não mais graves
Nova variante e nova subvariantes são mais propagáveis, mas não mais graves Crédito: Reprodução

A boa notícia, portanto, é que a alta taxa de transmissão não está diretamente ligada ao aumento de casos graves. Segundo Stucchi, não há indícios de aumento de internações, síndromes respiratórias agudas graves ou mortes. Além disso, “os dados indicam que, principalmente a combinação das doses das vacinas monovalente e bivalente confere proteção contra as formas graves da Covid causadas pelas variantes e subvariantes”, pontua a infectologista.

As máscaras vão voltar?

Durante a semana, cientistas de países onde a EG.5 e a BA.6 já se espalharam recomendaram o retorno do uso das máscaras, o que levantou a discussão também aqui no Brasil. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) emitiu uma nota técnica recomendando o uso de máscaras em ambientes fechados e aglomerações devido “ao aumento de casos de Covid-19 diagnosticados na instituição e à preocupação com nova onda da doença”. Para o Ministério da Saúde (MS) e para a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), no entanto, não há indicação para a volta dos equipamentos de proteção. Mas há ressalvas.

Fernanda Grassi e Raquel Stucchi reforçam o alerta do MS de que as máscaras permanecem sendo recomendadas para imunossuprimidos, gestantes, pessoas com comorbidades e idosos, assim como para aqueles que ainda não completaram seus esquemas vacinais ou estão apresentando sintomas gripais. A principal indicação é para uso em ambientes fechados e aglomerações.

"Claro que qualquer máscara é melhor do que nenhuma, mas a indicação é de que as de tecido precisam ser deixadas de lado. A mais indicada é a PFF2 ou N95, que oferecem uma barreira de proteção melhor. Elas podem ser utilizadas por até 24 horas. Caso não seja possível, a segunda indicação é a máscara cirúrgica. Essa precisa ser trocada a cada seis horas, no máximo, ou em caso de presença de sujidade ou umidade. Lembrando que elas devem cobrir o nariz e a boca, estando bem ajustadas e indo até embaixo do queixo"

Raquel Stucchi
Infectologista

A estudante Letícia Teixeira, de 20 anos, nunca deixou de usar máscara. Ela mora com os avós, que ainda se sentem inseguros por questões de saúde. “Uso em ambientes fechados ou com muita gente. No trabalho, na faculdade, no transporte público. Se eu vou na praia ou em lugares mais tranquilos, aí fico sem”, conta.

Especialistas recomendam modelos PFF2 e N95
Especialistas recomendam modelos PFF2 e N95 Crédito: iStock

A doutoranda em saúde coletiva Beatriz Klimeck, responsável pelo projeto “Qual máscara?”, também nunca deixou de usar a PFF2, mesmo relatando já ter sido alvo de piadas e até agressões na rua. Ela argumenta que o SARS-CoV-2 é um vírus que provoca uma resposta inflamatória no corpo cujos impactos ainda estão sendo descobertos pela ciência. “Como os cientistas que acompanho internacionalmente continuam fazendo uso de máscaras em ambientes internos, esta ainda é minha escolha. Usar máscaras em espaços fechados é um custo baixo para a proteção da minha saúde”, diz.

A importância da vacina

Especialistas e autoridades fazem apelo por vacinação
Especialistas e autoridades fazem apelo por vacinação Crédito: Betto Jr./Secom

Para a imunologista Fernanda Grassi, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, “não há motivo para pânico” e a explicação está na existência das vacinas que, inclusive, protegem contra variantes. 

"É preciso fazer uma vigilância para ver como essas variantes vão se comportar. Não estamos mais em uma pandemia, mas entramos agora numa fase epidêmica nos locais onde essas novas variantes provocam aumento de casos, mas não significa que entraremos em pandemia com lockdown ou nada disso porque já temos vacina e conhecimento; a situação é diferente de 2020 e 2021"

Fernanda Grassi
Imunologista

Através das redes sociais, a ministra da saúde, Nísia Trindade, e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), fizeram um apelo para que quem ainda não completou todas as doses da vacina monovalente e não tomou a dose da bivalente se vacine. De acordo com a Sesab, apenas 30% da população a partir de 12 anos tomou a vacina bivalente, que protege contra variantes. A secretária de saúde da Bahia, Roberta Santana, recomendou que pessoas com sintomas gripais procurem o serviço de saúde para atendimento e realização de teste RT-PCR para melhor controle dos casos.