Roda de samba e 'arrastão' celebram o samba junino no Centro Histórico

Ações foram em homenagem ao Dia Municipal do Samba Junino, ritmo nascido em Salvador

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  • Raquel Brito

Publicado em 19 de abril de 2024 às 22:47

Ritmo une samba e arrasta-pé
Ritmo une samba e arrasta-pé Crédito: Paula Froes/CORREIO

Nesta sexta-feira (19), o Samba Junino fez até os mais acanhados se soltarem no coração de Salvador. Em homenagem ao Dia Municipal do Samba Junino, celebrado oficialmente na última quarta-feira (17), o “arrastão” saiu do Largo do Pelourinho em direção à Praça da Sé com muito samba no pé pelos paralelepípedos do Centro Histórico.

Além do desfile, aconteceu, já na Praça da Sé, uma roda de samba apresentada pelos grupos que integram a Liga do Samba Junino. Para Vagner Shrek, atual presidente da Liga, celebrar o ritmo a partir do arrastão e das rodas de samba é uma forma de salvaguardar essa manifestação cultural.

“Esse nosso movimento mostra o resgate de uma cultura que precisa ser preservada. A contribuição do samba junino para a cidade de Salvador é muito importante para nossa cultura, por isso a gente luta para cuidar, para que ele permaneça vivo por muito mais tempo”, disse.

O gênero, que nasceu nos Terreiros de Candomblé da capital baiana, é uma mistura dos elementos do samba com letras que remetem ao São João. Em 2018, foi registrado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM) como patrimônio cultural da cidade.

A comemoração do Dia Municipal do Samba Junino dá início à temporada mais movimentada dos amantes desse ritmo. Para Renata Rodrigues, produtora da Liga, essa é a melhor época do ano. “O samba junino me acolheu em 2019 e eu nunca mais vou deixar de lado. Daqui até 12 de julho, é samba junino batendo e o coração batendo junto com o tambor”, declarou.

O samba junino representa uma expressão cultural marcada pela rítmica do samba duro, disseminada há pelo menos 40 anos em diversos bairros de Salvador. Vagner conta a origem se deu nos anos 1970, nas periferias da cidade. Sem conseguir viajar para as cidades do interior para os festejos de junho, moradores de regiões como Engenho Velho da Federação e Garcia começaram a se organizar ao seu próprio modo, cada bairro com sua manifestação, mas com algo em comum: trazendo o samba para a festa.

Rainha do movimento em Salvador há seis anos, Pokett Nery é apaixonada pelo samba junino desde seus nove anos de idade. Transexual, ela conta ter enfrentado muitos obstáculos até conquistar seu espaço num meio masculino como o do samba. “Hoje, eu sou uma trans no samba junino de Salvador. Para mim, isso é um orgulho imenso. O samba significa tudo na minha vida. Se seguir até de manhã, eu sambo”.

E até quem não é de Salvador se encanta. A paulistana Martiria Rodrigues, 64, se apaixonou pelo ritmo em outras viagens para a capital baiana e não resiste aos toques dos tambores. Ao ver a roda de samba na Praça da Sé, a educadora física se aproximou aos poucos e, quando percebeu, já havia entrado na dança. “Eu amo essa mistura cultural, que é patrimônio da nossa terra, do Brasil, e tem raízes aqui na Bahia, porque é daqui que tudo começou. No samba você tem uma conversa corporal com a outra pessoa, um diálogo sambístico”, disse, rindo.

A próxima etapa da maratona do samba junino até as festividades oficiais do São João é o pré-festival da Liga de Samba Junino, no dia 17 de maio.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela