Tutores de cães fazem protesto por regulamentação do transporte em aeronaves

Justiça por Joca: manifestações aconteceram simultaneamente tanto no Aeroporto de Salvador como também de outras grandes capitais do país

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 28 de abril de 2024 às 16:41

Kelly Perez é  tutora do border collie Gohan e da golden Athena
Kelly Perez é tutora do border collie Gohan e da golden Athena Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Há três anos, o border collie Gohan, levou 24 horas em um voo da Gol que ia sair de Minas Gerais e fazer uma escala em São Paulo até chegar a Salvador. Quando foi ao aeroporto buscar o pet, a enfermeira obstetra Kelly Perez foi informada pela companhia que o cachorro havia sumido. “Só recebi meu cachorro de volta no dia seguinte. Ele passou praticamente 24 horas numa caixa sem a gente saber onde ele estava e a companhia não deu justificativa nenhuma sobre o que tinha acontecido. Ele sobreviveu, mas chegou aqui em condições muito ruins, sem água, sem comida, sujo e sem atendimento veterinário. Depois disso, companhia área, nunca mais. Só viajo de carro”, afirma.

A enfermeira e tutora de Gohan e também da golden retriever Athena participaram na manhã deste domingo (28) de um protesto no Aeroporto de Salvador, a favor da regulamentação para transporte de pets em voos. No saguão principal, bem em frente à área de check-in da Gol, mais de 50 tutores acompanhados dos seus pets fizeram um minuto de silêncio e uma oração pelo golden retriever, Joca, após a morte do cão na última segunda-feira (22) por negligência da companhia durante o transporte.

“Cheguei a processar a companhia, mas recebi uma indenização irrisória. Na ação, pedi até a regalia de transportá-lo junto comigo, mas me negaram. Queremos uma lei que permita que o nosso pet viaje conosco na cabine, independente de raça e tamanho. Todas as viagens que faço, meus cães vão comigo. Não costumo nem deixar em hospedagem ou abrigo. A gente quer que não existam mais casos como o de Joca”, defende Kelly.

"Todas as viagens que faço, meus cães vão comigo. Não costumo nem deixar em hospedagem ou abrigo. A gente quer que não existam mais casos como o de Joca"

Kelly Perez
enfermeira

Os protestos aconteceram simultaneamente também em outros aeroportos de grandes capitais como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Joca, tinha 5 anos e deveria ter viajado de São Paulo para Sinop (MT), mas foi enviado para Fortaleza (CE). Tutor do golden, João Fantazzini alegou que o cachorro tinha permissão veterinária para viajar por quase 3 horas e não suportou 8 horas de voo após ir parar no destino errado.

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), notificou a Gol pedindo explicações. Após o episódio, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Polícia Civil de São Paulo também investigam o caso. Em nota, a Gol lamentou o ocorrido e admitiu uma falha operacional no transporte, que foi surpreendida pelo falecimento do animal e irá apurar os detalhes do ocorrido. A empresa suspendeu a venda do serviço de transporte de animais por 30 dias.

Manifestação aconteceu simultaneamente em outros aeroportos do país
Manifestação aconteceu simultaneamente em outros aeroportos do país Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Uma das organizadoras do movimento, Patruska Barreiro, do Instituto Patruska, disse que a morte de Joca não será em vão. “A gente está em comunicação com diversos outros estados para fazer essa pressão por uma regulamentação no transporte que garanta essa segurança para nossos filhos. Queremos que os pets não sejam tratados como bagagens, que exista um espaço pet friendly dentro dos aviões, veterinário para avaliar a saúde deles e uma equipe treinada para receber esses pets. Joca foi praticamente cozido dentro de uma caixa. Isso não pode mais acontecer”.

Também uma das responsáveis pela mobilização e proprietária do Hotel da Pucca, Larissa Fernandes, concorda: “Aqui em salvador conseguimos reunir 35 grupos de raça de redes sociais para participar desse protesto hoje. O que estamos pedindo é uma transformação, uma nova lei que faça esse transporte funcionar e que seja liberada a permanência do pet na cabine com o seu tutor, visto que o que pagamos é o valor de um assento, então, o cão tem que ter o mesmo direito de um humano”, reforça a tutora da pug, chiuaua e do bulldog, Pucca, Bibi e Bruce.

Insegurança

Toda e qualquer viagem que o jornalista Cesar Marques faz em família, a golden Lara vai também. De carro, eles já foram juntos até para a Argentina. “Não confio em companhia aérea. Fora ainda toda a burocracia e o custo, onde pendem até laudo psiquiátrico do cão, a gente só viaja de carro”. Lara já foi também para Curitiba, Florianópolis e conhece toda a Chapada Diamantina, aqui na Bahia.

“Quem tem cachorro sabe que ele tem medo, fome, sede. Não queremos viajar de graça, o que precisamos é que se permita o transporte de cães acima de 7 kg nas cabines com seus tutores, claro que com todos os cuidados como o uso de focinheira e coleira. Se as companhias danificam constantemente nossas bagagens imagine o que eles podem fazer com nossos cachorros?”, questiona.

Mais de 50 tutores e seus cães participaram do protesto que aconteceu em frente a Gol
Mais de 50 tutores e seus cães participaram do protesto em frente ao guichê da Gol Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Tutora do lulu da pomerânia Andy Garcia, Ana Paula Gavião está com viagem internacional marcada para o próximo mês e deve gastar R$ 3 mil para garantir a hospedagem de Andy, nos 15 dias que estiver fora de Salvador. Ana também é tutora de Florzinha e Neve, dois cães sem raça definida (SDR) de porte maior que o lulu da pomerânia.

“Sempre deixo na hospedagem. Viajo em maio para Budapeste. Prefiro fazer esse investimento e ter essa segurança e tranquilidade. O hotel é muito responsável, a gente vai tranquilo. Não tive coragem ainda de viajar com meus cães de avião. É importante ter regras bem definidas. Isso precisa mudar”.

Nas regras atuais, cães de grande porte são colocados em uma caixa de transporte e transportados em um compartimento do porão da aeronave, sem malas e cargas, segundo as companhias. Animais com até 10 quilos (kg) podem embarcar com o tutor.