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Larissa Almeida
Publicado em 13 de novembro de 2024 às 05:44
Dos 5.044 homicídios registrados na Bahia em 2022, apenas 765 (15%) foram esclarecidos em até um ano após o crime. É o que aponta o Instituto Sou da Paz no sétimo relatório da pesquisa “Onde Mora a Impunidade?”, lançado na última segunda-feira (11). Com o pior índice do país em resolução de homicídios pelo segundo ano consecutivo, as fontes ouvidas pela reportagem acreditam que o cenário da impunidade em território baiano vai desde a precarização das polícias até o aumento da criminalidade no estado.>
Beatriz Graeff, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, vê próprio crescimento do número de mortes violentas como um desafio para o estado. “As forças de segurança podem não ter tido tempo de responder e de se preparar para a proporção do crescimento, porque as estruturas de investigação ficam sobrecarregadas e, portanto, perdem capacidade de esclarecimento”, constata. >
Por sua vez, Eustácio Lopes, presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), diz que o fato de a Bahia ter a pior taxa de elucidação de mortes violentas no país é reflexo do modelo de segurança pública adotada pelo governo do PT, sobretudo entre 2014 e 2022 – período que corresponde à gestão governamental do atual ministro da Casa Civil, Rui Costa. >
“Foi buscada como política de governo do gestor anterior a estratégia de repressão com ações ostensivas e a priorização do confronto. Houve um sucateamento da Polícia Civil, quando o ex-gestor ficou oito anos sem investir no efetivo e fez com que quase 200 municípios ficassem sem investigação, elucidação ou ação qualificada. A Polícia Civil ainda perdeu o auto de resistência, que foi passada para a Polícia Militar”, aponta. >
O presidente da Sindpoc acrescenta que, enquanto os demais estados concentraram esforços na área de inteligência da Polícia Civil (PC-BA), a Bahia transferiu o setor para a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). Nesse período, Brasília – que tem taxa de 90% de resolução das mortes violentes – investiu no aumento do efetivo da Polícia Civil, na área de inteligência policial e em capacitação da ação qualificada de investigações do Departamento de Polícia Técnica (DPT), além da PC-BA. >
Para Luiz Claudio Lourenço, especialista em segurança pública, cientista social, pesquisador do Laboratório de Estudos Sobre Crime e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (Ufba), outro fator essencial para o aumento da impunidade é a dedicação quase exclusiva aos crimes relacionados ao tráfico de drogas. >
“A crença de que muitos dos homicídios se devem ao tráfico de drogas faz com que as investigações não sejam aprofundadas devidamente. Isso sem contar o déficit de investigadores da Polícia Civil e a falta de protocolos integrados bem executados entre as polícias. [Ainda, entra na conta] a falta de valorização do trabalho investigativo e a melhor integração do trabalho policial, com compartilhamento eficaz de informações”, analisa. >
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) para se posicionar sobre o índice de resolução de homicídios e informar se há estratégia de priorização de crimes por tipologia, mas a pasta sugeriu o contato da Polícia Civil. >
Procurada, a Polícia Civil disse que não comenta dados coletados fora da instituição. >
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) também foi acionado pelo CORREIO para responder quantos homicídios foram denunciados pela pasta em 2022 – ano correspondente ao período do levantamento do Instituto Sou da Paz – e em 2023 – ano dos dados consolidados mais recentes –, mas não respondeu. >
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado da Bahia (Adpeb) também foi procurado para se posicionar sobre o índice, mas não respondeu. >