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Vinagre funciona? Veja 10 dicas para se livrar (definitivamente) dos piolhos

Especialistas tanto da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)  e  da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) tiram dúvidas e pontam quais os tratamentos mais eficientes contra esse invasor incômodo

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 3 de março de 2024 às 11:00

Brasil tem hoje  29 remédios autorizados pela Anvisa para o tratamento da pediculose
Brasil tem hoje 29 remédios autorizados pela Anvisa para o tratamento da pediculose Crédito: Shutterstock

Quando a cabeça da criança começa a coçar, o alerta acende imediatamente. Não é possível, será que é piolho? Quem é pai ou mãe e não se debateu com esse problema, não tem noção da saga que é conter uma infestação do parasita Pediculus Humanus. Eles gostam de calor, se multiplicam com facilidade e deixam a casa toda em pânico ao menor sinal de infestação. Entra ano e sai ano, as aulas escolares voltaram e, infelizmente, o piolho também para o desespero geral dos pais.

Se a gente parar para pensar que no século XIX, a então princesa do Brasil, Carlota Joaquina, foi infestada por piolhos a ponto de ter de raspar a cabeça, o parasita chegou por aqui há mais tempo do que se imagina. Porém, apesar de ser um problema comum e recorrente, as tentativas de se acabar com o piolho não são poucas. Segundo informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, o primeiro medicamento registrado foi em 1983. Na década de 80 inteira, foram só dois deles, o Pediletan (Cimed) e Piosan (Belfar). Mais de 40 anos depois, de 2020 para cá, a agência já aprovou 11 novos medicamentos, a base de substâncias como Benzoato de Benzila, Deltametrina, Ivermectina e Permetrina. Atualmente, são 29 remédios autorizados pela agência para o tratamento da pediculose.

Sim, a batalha contra o piolho não é fácil. O pente-fino que o diga. Por isso, ouvimos especialistas tanto da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) quanto da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), dispostos a ajudar e tirar dúvidas que podem apontar o tratamento mais eficiente contra esse invasor incômodo e indesejável. Listamos, a seguir, 10 orientações para prevenir e combater o piolho. Confira.

TIRA-DÚVIDAS

1. Em que época do ano os surtos de piolho são mais comuns? O piolho é um agente que é transmitido, principalmente, no contato de uma pessoa com a outra, ou seja, ele não pula nem voa como muita gente pode pensar. E sim, o lugar onde as crianças acabam se aglomerando é diariamente o ambiente ideal para ele se proliferar, por isso, na volta às aulas, o surto se torna tão comum. Trocas de chapéus, bonés, acessórios de cabelo também aumentam o risco e até mesmo uma selfie mais de pertinho. “As crianças que voltam das férias costumam se abraçar mais, ficar mais próximas. É nesse momento que aumenta bastante o número de casos. Chegam muitos casos ao consultório de crianças de 3 a 4 anos e isso costuma ir até os 11 anos”, esclarece o presidente do Departamento de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Jandrei Markus. “Antigamente se falava muito que os piolhos estavam relacionados a falta de higiene e isso não é verdade. Entre os sintomas da pediculose está a coceira do couro cabeludo, sobretudo, na região atrás da cabeça”, complementa.

2. O que é mito sobre a infestação de piolhos? Quem tira essa dúvida também é Jandrei: “Tem muita receita caseira que é mito. Era muito comum ver gente chegar a usar querosene, gasolina e álcool no cabelo. Ainda existem, no entanto, algumas pessoas que usam maionese, óleo de oliva, óleo de soja, óleo de cozinha usado, por exemplo. Porém, é preferível optar pelas medicações que já existem. Hoje o mercado dispõe de várias opções”. E sobre as verdades, a medicação não mata as lêndeas, só os piolhos. “Aí não tem jeito: é olho atento, paciência e um pente-fino na mão para eliminar todos os ovos mesmo após o uso da medicação”.

3. E o que é verdade? E sobre as verdades, a medicação não mata as lêndeas, só os piolhos. “Aí não tem jeito: é olho atento, paciência e um pente-fino na mão para eliminar todos os ovos mesmo após o uso da medicação”, acrescenta Markus.

4. Existe mesmo pessoas com mais tendência de ser infestadas do que outras? O piolho é um inseto, um agente externo que se alimenta exclusivamente de sangue, prefere ambientes quentes e costuma depositar seus ovos bem próximo da região da raiz dos cabelos, principalmente na parte de trás da cabeça. “Não só crianças, mas os adultos também podem passar por uma infestação. Não é a pessoa que cria resistência. É o piolho que está respondendo menos ao tratamento”, ressalta Jandrei Markus. E se alguém pode estar se perguntando se o piolho tem preferência por algum tipo sanguíneo ou coisa assim, o pediatra diz que não: “É mito. O mais importante é o contato”.

5. Quais os riscos da pediculose? A pediculose é uma doença, porém, não oferece risco de morte. A dermatologista membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Fabianne Brenner, alerta, entretanto, que a ferida que se forma com a coceira excessiva causada pelo piolho pode ser uma porta para infecções, principalmente bacterianas. Casos mais graves de infestação podem causar anemia. “A gente precisa manter o tratamento, mas fazer o mesmo em todas as crianças que estão em contato, além de tratar toda a família simultaneamente”.

6. Quanto tempo vive o piolho? Um piolho incomoda muita gente, mas três tipos incomodam muito mais. Existe o piolho da cabeça (Pediculus humanus capitis), o do corpo (Pediculus humanus corporis) e o da região pubiana (Phthirus pubis), que é mais conhecido como ‘chato’. No geral, o inseto passa por três estágios de desenvolvimento. O primeiro são os ovos ou as lêndeas, que se prendem ao fio com uma espécie de ‘cola’ que é produzida pelo próprio parasita. De 7 a 10 dias, os ovos se transformam em ninfas, estágio do piolho assim que ele deixa de ser lêndea. Entre 9 e 12 dias, ele chega a fase adulta, onde costuma viver uma média de 30 dias. Nesse tempo, uma fêmea produz entre 150 a 300 ovos.

7. Quais os tratamentos atualmente disponíveis? O que, de fato, é eficaz? A dermatologista membro da diretoria da SBD, Fabianne Brenner, destaca que existem hoje formas de tratamento: “um, é o tratamento tópico que inibe a proliferação do piolho no couro cabeludo. Normalmente, os tópicos envolvem dois ciclos. O paciente precisa tratar por três dias, esperar sete dias e retratar para que a gente consiga eliminar os piolhos adultos e os ovos”. É importante repetir esse tratamento para sanar a infestação por completo. “O segundo tratamento é a base de ivermectina, que é um produto via oral. A gente também precisa fazer dois ciclos para combater as formas de crescimento desse piolho. Após o processo, é fundamental remover as lêndeas manualmente com o uso do pente-fino”.

8. O vinagre funciona mesmo? O vinagre, na verdade, ajuda na remoção dos ovos, como recomenda Fabianne Brenner. “A gente precisa tratar primeiro para diminuir a infestação dos piolhos adultos, remover os ovos do fio de cabelo com vinagre e um pente fino e, em seguida, repetir o processo em uma semana porque aí eu consigo atingir as lêndeas que se tornaram novos piolhos”. Ainda que não tenham estudos científicos sobre a sua eficácia, o presidente do Departamento de Dermatologia da SBP, Jandrei Markus, também concorda que o vinagre ajuda muito na remoção dos ovos. “Usamos o vinagre, de preferência, misturado com condicionador nos casos com muitas lêndeas. Apesar de não ter pesquisas sobre isso, é visível que facilita a retirada dos ovos. Evite levar aos olhos e fique atento se houver alguma irritação na pele, mas, no geral, não há perigo”.

9. Que cuidados os adultos devem ter enquanto a criança está em tratamento? O tratamento precisa ser repetido sete dias depois, reforça, mais uma vez, a dermatologista membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Fabianne Brenner. “É importante comunicar a escola, não de maneira que cause desconforto, mas como uma forma de evitar surtos e reinfestações. Manter a vigilância, fazer sempre uma inspeção na cabeça da criança e tratar quanto antes”.

10. Por que o piolho é tão difícil de tratar? Ainda que exista inúmeros medicamentos disponíveis para combater o piolho, a questão da dificuldade de acabar com ele de uma vez está na sua alta capacidade de transmissão, conforme aponta Fabianne Brenner. “Quando o piolho sai da cabeça, ele têm uma sobrevida de 24 horas em um ambiente externo ao couro cabeludo. Então, o problema maior não é só tratar, mas a alta transmissibilidade do piolho. Se você trata em uma criança agora, antes ela passou para todas as outras que estão ali no convívio direto com ela. Por isso, esses surtos são tão difíceis de conter, eles têm uma alta transmissividade.