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Estadão
Publicado em 4 de março de 2024 às 16:18
A França se tornou nesta segunda-feira, 4, o primeiro país do mundo a incluir o direito ao aborto na Constituição depois de uma histórica sessão conjunta do Parlamento no Palácio de Versalhes. O projeto de lei foi aprovado por uma esmagadora votação de 780 votos a 72, dos 512 votos necessários. >
A medida havia sido prometida pelo presidente Emmanuel Macron após uma revisão da jurisdição sobre o direito ao aborto nos Estados Unidos. "Estamos enviando a mensagem a todas as mulheres: seu corpo pertence a você e ninguém tem o direito de controlá-lo em seu lugar", disse o primeiro-ministro Gabriel Attal durante discurso antes de os legisladores votarem a emenda>
Centenas de parisienses reuniram-se num dia frio de inverno para assistir a votação ao vivo em um telão gigante instalado na Le Parvis des Droits de l’Homme - ou "Praça dos Direitos Humanos" - no centro de Paris, perto da Torre Eiffel.>
A França descriminalizou o aborto em 1975 e a votação de hoje não muda as regras, mas impede modificações no futuro.>
A alteração declara que o aborto é uma "liberdade garantida", supervisionada pelas leis do Parlamento. Isso significa que os futuros governos não serão capazes de modificar drasticamente as atuais leis que financiam o aborto para as mulheres que o procuram, até às 14 semanas de gravidez, de acordo com o ministro da Justiça francês, Éric Dupond-Moretti.>
Alterar a Constituição não é algo inédito na França; a atual Constituição foi modificada mais de 20 vezes desde que foi adotada em 1958. Mas é raro. A última alteração havia sido em 2008.>
O impulso para a última mudança foi a decisão da Suprema Corte dos EUA de anular a jurisdição de Roe versus Wade em 2022. Mas a medida reflete também o apoio generalizado ao aborto na França e uma campanha bem-sucedida levada a cabo por uma coligação de ativistas feministas e legisladoras de vários partidos.>
"A França está mostrando que o direito ao aborto já não é uma opção, é uma condição da nossa democracia", disse Mélanie Vogel, senadora do Partido Verde que tem sido um dos principais nomes por trás do projeto de lei>
A Conferência dos Bispos, representando a Igreja Católica na França, se opôs à alteração. Mas na França, um país onde os apelos ao protesto levam regularmente centenas de milhares de pessoas às ruas, a oposição era tímida.>
Ambas as câmaras do parlamento, a Assembleia Nacional e o Senado, já tinham adotado um projeto de lei para alterar o Artigo 34 da Constituição Francesa para especificar que "a lei determina as condições pelas quais é exercida a liberdade das mulheres de recorrer ao aborto, o que é garantido.">
A câmara baixa aprovou a proposta por maioria esmagadora em janeiro. O Senado aprovou o projeto de lei na quarta-feira, eliminando um obstáculo importante para a legislação prometida pelo governo de Macron. Foi necessária uma maioria de três quintos na sessão conjunta para que a medida fosse aprovada.>
Nenhum dos principais partidos políticos franceses representados no parlamento questionou o direito ao aborto, incluindo o partido de extrema direita Reunião Nacional de Marine Le Pen e os republicanos conservadores. No entanto, alguns legisladores votaram contra a inscrição do direito ao aborto na constituição em votações anteriores em ambas as casas.>
Le Pen, que conquistou um número recorde de assentos na Assembleia Nacional há dois anos, disse nesta segunda que o seu partido votaria a favor do projeto de lei, mas acrescentou que "não há necessidade de fazer deste um dia histórico".>
O direito ao aborto tem amplo apoio entre o público francês. Uma sondagem recente mostrou um apoio superior a 80%, consistente com sondagens anteriores. A mesma sondagem também mostrou que uma sólida maioria de pessoas era a favor da sua consagração na Constituição.(Com agências internacionais)>