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Donaldson Gomes
Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 17:51
Centenas de clientes desesperados se reuniram em frente à agência do banco Sparkasse, na cidade alemã de Gelsenkirchen. O tumulto, que demandou uma intervenção da polícia local, se deu por conta de um roubo que envolveu mais de 3,2 mil cofres que pertenciam a 2,5 mil pessoas. O prejuízo é estimado em 30 milhões de euros – algo equivalente a quase R$ 195 milhões. O roubo vem sendo apontado como o maior da história criminal alemã, de acordo com informações divulgadas nesta terça-feira (dia 30) pelo jornal Der Westen. >
Os investigadores concluíram que criminosos entraram no banco Sparkasse a partir de uma sala de arquivos subterrânea situada em um prédio-garagem adjacente, após atravessarem diversas portas, de acordo com o portal da emissora alemã Deutsche Welle (DW). Em seguida, perfuraram, com uma furadeira de grande porte, uma parede para acessar a câmara forte da agência.>
Um porta-voz da polícia descreveu o assalto como altamente profissional, e que provavelmente demandou planejamento extenso, conhecimento interno e determinação para ser realizado. A operação foi comparada à do filme de Onze Homens e Um Segredo, trama estreada em 2001 em que uma gangue planeja roubar três cassinos em Las Vegas ao mesmo tempo.>
Os investigadores suspeitam que os criminosos passaram grande parte do fim de semana dentro da câmara forte do banco, arrombando os cofres alugados pelos clientes da instituição. O método empregado no roubo desconcertou os investigadores, pois os ladrões fizeram um buraco na sala dos cofres usando uma furadeira gigante.>
Uma foto divulgada pela polícia mostra arquivos espalhados pelo chão e um buraco circular na parede que dava acesso ao cofre, disse a RFI.>
“Deve ter sido necessário muito conhecimento prévio e/ou muita energia criminosa para planejar e executar isso”, disse o porta-voz da corporação à agência de notícias AFP.>
Os ladrões “aproveitaram a tranquilidade do Natal”, assinalou um comunicado da polícia, visto que o banco permanece fechado nesta época. A investigação está em curso, enquanto a identidade dos autores do roubo e o momento exato do crime não tenham sido revelados.>
Há um ano, um caso semelhante ocorreu em Lübeck, no norte do país, quando 300 cofres foram arrombados, causando prejuízo superior a 10 milhões de euros em dinheiro, jóias e outros objetos de valor.>
O banco permaneceu fechado nesta terça-feira “por motivos de segurança”, pois vários clientes, preocupados com seus bens, se reuniram esta manhã em frente ao banco e fizeram “ameaças” aos funcionários. Imagens de emissoras de TV alemã mostram centenas de pessoas aglomeradas em frente à agência. Algumas aparecem chorando.>
Em um vídeo publicado pelo jornal Bild é possível ver dezenas de pessoas tentando forçar a entrada no edifício, apesar da presença da polícia.>
O que se sabe>
O roubo veio à tona na madrugada de segunda-feira, depois que um alarme de incêndio foi acionado e alertou os serviços de emergência.>
Testemunhas disseram à polícia que viram vários homens carregando grandes sacos na escadaria do prédio-garagem durante a noite de sábado para domingo. Os investigadores já analisaram as imagens iniciais das câmeras de vigilância, que supostamente mostram um Audi RS 6 preto saindo da garagem na madrugada de segunda-feira com pessoas mascaradas dentro do automóvel.>
A placa do veículo havia sido roubada anteriormente na cidade de Hannover , no norte da Alemanha, informou a polícia.>
A polícia disse que os cofres tinham um valor médio de seguro de 10 mil euros e, portanto, estimou os danos totais em cerca de 30 milhões de euros. Várias vítimas, contudo, disseram aos policiais que suas perdas excederam em muito o valor segurado de seus cofres.>
O jornal Kölner Stadt-Anzeiger, da cidade vizinha de Colônia , informou que muitas das pessoas afetadas eram clientes de origem turca que guardavam ouro ou jóias de ouro em seus cofres.>
A polícia pediu aos clientes afetados que entrassem em contato diretamente com o banco, em vez de registrarem queixas criminais individuais. O banco Sparkasse informou que está coletando dados pessoais e relatórios de danos e os encaminhando aos investigadores.>
Cidade pobre>
Gelsenkirchen foi descrita numa reportagem recente da Deutsche Welle como a “cidade mais pobre da Alemanha”, o que se traduz em ruas e parques tomados por lixo e na proliferação de apartamentos vazios. Sua taxa de desemprego é de 14%, muito acima da média nacional, em torno de 6,4%. A renda média anual de seus habitantes é a mais baixa do país europeu, inferior a 18 mil euros (R$ 108 mil). Mesmo entre os que têm uma ocupação, a renda é insuficiente: uma em cada quatro que trabalham na cidade vive da previdência social.>
“Gelsenkirchen tem uma história diferente de qualquer outra cidade alemã. Ela se tornou rica e próspera com uma rapidez impressionante. E então veio o colapso estrutural extremamente brutal”, contou a prefeita Karin Welge na época. A cidade integra a região do Ruhr, polo da indústria pesada alemã e maior área metropolitana do país.>
Durante a era do “milagre econômico” da República Federal da Alemanha (RFA), entre as décadas de 1950 e 1970, a cidade prosperou. Ela atraiu “trabalhadores convidados” (gastarbeiter) da Polônia, Itália e Turquia e chegou a se tornar a mais importante produtora de carvão da Europa.>
Em 2008, a última mina de carvão da cidade, Westerholt, encerrou suas operações, após meio século de declínio gradual dessa indústria.>
Enquanto o carvão ficou para trás, os setores de serviços e educação seriam o futuro. Mas Gelsenkirchen enfrenta o mesmo impasse que muitas outras localidades alemãs: não há dinheiro para bancar essa transição.>
De acordo com Welge, governo estadual da Renânia do Norte-Vestfália, que estipula quanto a cidade pode gastar, não tem autorizado novas contratações na administração pública nem liberado os investimentos necessários. “Não construímos uma escola aqui desde a década de 1970”, lamentou a prefeita.>