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Rede Nordeste, O Povo
Publicado em 4 de abril de 2024 às 18:54
A biblioteca de Harvard anunciou no final de março a remoção da pele humana que fazia parte da encadernação de um exemplar do livro “Des destinées de l'âme” (“Os Destinos da Alma”, em português), publicado por Arsène Houssaye em 1879.>
A decisão foi motivada pelas recomendações do “Relatório do Comitê Diretor da Universidade de Harvard sobre Restos Humanos em Coleções de Museus Universitários”, realizado em 2022. A revisão concluiu que os restos mortais não deveriam permanecer no espaço.>
O conteúdo do livro é descrito pela universidade como “uma meditação sobre a alma e a vida após a morte”. Acredita-se que seu primeiro proprietário, o médico e bibliófilo francês Ludovic Bouland, encadernou o livro com a pele que retirou sem consentimento do corpo de uma paciente falecida em um hospital onde trabalhou como estudante de medicina.>
A biblioteca agora realiza pesquisas biográficas e de proveniência adicionais sobre a paciente anônima, Bouland, e o livro. O local também consulta autoridades da Universidade da França para determinar uma disposição final respeitosa dos restos mortais.>
Entenda origem da história>
Em 2014, a Universidade Harvard realizou testes para confirmar as afirmações do dono original no século XIX, o médico Bouland, sobre a procedência da encadernação com pele humana.>
“Um livro sobre a alma humana merecia ter uma cobertura humana: eu guardei este pedaço de pele humana retirado das costas de uma mulher”, escreveu o francês em nota incluída na obra.>
Na época, a instituição de ensino chamou a confirmação de “boas notícias para os fãs da bibliopegia antropodérmica, bibliomaníacos e canibais”. Em nova declaração, Harvard lamenta o “tom sensacionalista, mórbido e bem-humorado” usado no momento da descoberta, anos atrás.>
A bibliopegia antropodérmica se relaciona com a prática de utilizar pele humana para a encadernação de livros.>
“A nossa análise também deixou claro que temos ficado aquém de uma ética de cuidado na administração ao longo dos anos”, revelou a bibliotecária associada da Biblioteca Houghton, Anne-Marie Eze, em sessão de perguntas e respostas emitida por Harvard.>
“Quando a encadernação do livro foi originalmente confirmada como humana em 2014, a Biblioteca de Harvard anunciou a notícia em duas postagens sensacionalistas de blog focadas na natureza mórbida do objeto, e não na pessoa cuja pele foi usada sem consentimento ou em suas implicações morais”, completa Eze.>
O livro, sem a sua encadernação de pele humana, foi digitalizado e está disponível ao público. A obra física, desmontada, estará à disposição dos pesquisadores, mas sem a capa.>