Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Estadão
Publicado em 9 de junho de 2024 às 11:14
Em meio à onda de calor e seca no México, aves em sofrimento estão recebendo ar-condicionado e macacos com insolação estão sendo resgatados por organizações não governamentais.>
O governo, por sua vez, tem se preocupado mais em resfriar os animais nos zoológicos estatais, dando aos leões picolés de carne congelada. Não é o único tratamento gelado: um grupo de resgate está alimentando corujas em apuros com carcaças de ratos enviadas congeladas da Cidade do México. >
Uma onda de calor, com uma área de alta pressão sobre o sul do Golfo do México e o norte da América Central, bloqueou a formação de nuvens e causou um extenso período de sol e altas temperaturas em todo o México, assim como nos Estados Unidos.>
Grande parte do impacto na vida selvagem está sendo sentida no centro e no sul do México, porque, embora as temperaturas também sejam altas no norte, essa região é principalmente desértica, e os animais ali têm alguns mecanismos de enfrentamento para o calor extremo e a seca.>
Na úmida costa do Golfo, um parque de animais montou salas com ar-condicionado para águias, corujas e outras aves de rapina. No sul, macacos bugios continuam a cair mortos das árvores devido à insolação. As mortes provavelmente já passam de 250.>
No Estado sulista de Tabasco, os poucos macacos que podem ser salvos da desidratação e insolação estão sendo resgatados principalmente por ONGs como o grupo Conservação da Biodiversidade do Usumacinta. Conhecido como Cobius, por suas iniciais, o grupo resgatou e estabilizou 18 macacos.>
O biólogo de vida selvagem Gilberto Pozo, chefe do grupo, tem acompanhado equipes de biólogos e veterinários na selva em busca de macacos doentes.>
Muitas vezes, eles chegam tarde demais.>
"Ontem perdemos três dos animais", disse Pozo enquanto se sacudia em um caminhão ao longo de uma estrada rural no Estado costeiro sulista de Tabasco, a área mais atingida. "Saímos para resgatá-los. Não conseguimos estabilizá-los." Os macacos estavam muito desidratados devido a uma espécie de grave perda de fluidos.>
Até 31 de maio, o Departamento de Meio Ambiente reconheceu que um total de 204 macacos bugios haviam morrido, 157 deles em Tabasco. Pozo disse que o número apenas em Tabasco aumentou para 198, sugerindo que o total nacional agora está próximo de 250.>
"O único plano ou programa de resgate é o que nossa organização está fazendo", disse Pozo. Em meio a cortes orçamentários para muitas agências ambientais, o governo agora tem de depender de ONGs.>
Em um comunicado, o Departamento de Meio Ambiente disse que as "autoridades ambientais federais atenderam aos relatos desses eventos, em uma abordagem coordenada com grupos cívicos e acadêmicos". O governo forneceu alimentos, alojamento e água para equipes das ONGs e animais doentes.>
Segundo o departamento, os testes indicam que os primatas estão morrendo de insolação, mas acrescenta que a seca causou uma "falta de água nos riachos e nascentes nas áreas onde os macacos vivem" e isso também parece ter influenciado.>
Algumas ONGs estão lutando para pagar pelo cuidado e estão pedindo doações, como a Selva Teenek, um parque de vida selvagem sem fins lucrativos na região de La Huasteca, mais ao norte.>
Em 9 de maio, as temperaturas naquela área subiram para cerca de 50ºC, e os socorristas e funcionários trouxeram 15 aves de várias espécies encontradas deitadas no chão.>
"Isso nunca havia acontecido antes", disse Laura Rodríguez, veterinária do parque. "100% dos animais precisavam de reidratação. Alguns estavam tão desidratados que não pudemos dar-lhes água por via oral.">
Ena Mildred Buenfil, líder do grupo de resgate de animais Selva Teneek, disse que as aves - assim como os macacos bugios - estão simplesmente caindo mortas.>
"As aves começaram a ter problemas, e algumas literalmente começaram a cair mortas em pleno voo", disse Buenfil. "Alguns dos mais afetados foram os recém-nascidos. As pessoas nos enviaram fotos de dezenas de papagaios mortos no chão.">
As aves estavam sofrendo de estresse por calor, desidratação e desnutrição, simultaneamente. Os resgatistas tiveram de tirá-las do calor, dar-lhes água e alimentá-las.>
Isso incluiu um envio de ratos mortos congelados da Cidade do México. "Os adultos (corujas) precisam de ratos. Felizmente, temos ratos", disse Buenfil, mas observou que a equipe tem de descongelá-los um pouco para esfolá-los e remover suas entranhas antes de poderem ser dados às aves.>
Desde então, dezenas de outras aves - e alguns morcegos, linces e coiotes - foram encontradas vivas, mas sofrendo, e também foram levadas ao parque Teneek.>
A situação ficou tão lotada nas três salas com ar-condicionado no parque que a equipe teve que colocar lençóis ou cortinas para separar as aves de rapina das outras aves que são suas presas.>
Várias aves morreram, mas algumas espécies - como os kinkajous que vagam pelo parque - só precisam do ar-condicionado durante o dia e são soltas à noite. Outros, como os tamanduás, conseguem se virar com a brisa de um ventilador.>
Os leões no zoológico de Chapultepec na Cidade do México receberam uma guloseima congelada de sangue e ossos de animais misturados com água. Alberto Olascoaga, chefe do zoológico da capital, disse que os animais gostam disso - e isso ajuda a hidratá-los.>
"Eles brincam com o picolé. Eles lambem, quebram, mordem, e estão se refrescando e bebendo essa água fria enquanto ela derrete", disse Olascoaga.>
Claudia Sheinbaum, a cientista ambiental que venceu a eleição presidencial de 2 de junho para suceder Andrés Manuel López Obrador, ofereceu alguma esperança de que as relações tensas sobre como lidar com a difícil situação da vida selvagem possam mudar quando ela assumir o cargo em 1º de outubro.>
"Passei toda a minha vida estudando o meio ambiente, é parte da minha causa", escreveu ela em uma rede social na quarta-feira.>