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Carol Neves
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 05:58
Mais de meio século depois dos assassinatos que aterrorizam a Toscana, a Netflix lançou nessa semana “O Monstro de Florença”, minissérie que reabre o mistério em torno de um dos casos criminais mais perturbadores da Itália - e que, até hoje, segue sem uma conclusão definitiva. >
Dirigida por Stefano Sollima, a produção chegou ao catálogo nesta quarta-feira (22) e se divide em quatro episódios. Cada um deles acompanha de maneira dramatizada a história de um homem diferente que, em determinado momento, foi considerado o principal suspeito. Sollima explica que a ideia foi retratar o emaranhado de versões e erros que marcaram o caso: “Não sei se o ‘monstro’ foi capturado ou se os investigadores chegaram perto dele, mas não sabiam. Acho que nossa abordagem nos salvou - não abraçar uma teoria, mas narrar todas.”>
O Monstro de Florença, da Netflix
Série de crimes>
Entre 1968 e 1985, oito casais foram mortos nas zonas rurais de Florença, sempre em circunstâncias semelhantes: ataques noturnos a jovens que buscavam privacidade em carros, mutilações e a repetição dos mesmos cartuchos de uma pistola calibre .22 série H. A brutalidade dos crimes, especialmente o caráter ritualístico, levou a polícia a concluir que se tratava de um serial killer metódico e sádico.>
O primeiro ataque ocorreu em 1974, quando um casal foi assassinado dentro de um carro em Sagginale. O corpo da mulher apresentava 97 golpes de faca. Depois disso, o padrão se repetiu nos anos seguintes, espalhando pânico pela região e rendendo ao criminoso o apelido de “Monstro de Florença”.>
Nova linha de investigação>
As investigações tomaram um novo rumo em 1982, quando uma denúncia anônima levou os investigadores a relacionar os crimes à mesma arma usada em um homicídio de 1968. Nesse caso, Stefano Mele, um operário sardo, havia matado a esposa, Barbara Locci, e o amante dela. Condenado, Mele passou a ser visto como possível peça de um enigma maior.>
A partir daí, as autoridades seguiram a chamada “linha sarda”, investigando familiares e conhecidos de Mele, entre eles os irmãos Francesco e Salvatore Vinci, e Giovanni Mele. Todos foram, em algum momento, apontados como o “monstro”. Nenhuma acusação, porém, resultou em uma condenação definitiva.>
Conforme lembra o pesquisador Francesco Cappelletti, consultor da série, o caso teve “mais vítimas do sistema de justiça do que do próprio Monstro de Florença”, tamanha a quantidade de inocentes presos, julgados ou expostos pela imprensa ao longo das décadas.>
Na década de 1990, o estuprador Pietro Pacciani chegou a ser condenado, mas acabou absolvido. Anos depois, Mario Vanni e Giancarlo Lotti, também acusados, receberam penas pesadas - ainda assim, sem que se comprovasse que fossem de fato os autores dos crimes.>
Nova série>
“O Monstro de Florença” mistura fatos, testemunhos e contradições para revelar não apenas o horror dos assassinatos, mas também as falhas de um sistema policial e judicial que, como admite Sollima, “é sentido com muita força na Itália”.>
Hoje, Stefano Mele vive em uma casa de recuperação e forneceu novas informações sobre a noite do crime de 1968, o que reacendeu o interesse da Justiça. Recentemente, promotores ordenaram a exumação de um dos irmãos Vinci para testes de DNA, e familiares de antigos suspeitos pedem reabertura dos processos.>
A série resume esse impasse com a própria sinopse da Netflix: “Por anos, um serial killer aterrorizou casais na Itália. Agora, as autoridades exploram um caso de 1968 que pode ser a chave para encontrar o Monstro de Florença.”>