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Larissa Almeida
Publicado em 9 de junho de 2025 às 11:48
Crianças que crescem em contextos socioeconômicos desfavorecidos têm maior probabilidade de envelhecer mais rapidamente do que aquelas de famílias ricas. A conclusão é de um estudo conduzido por cientistas do Imperial College de Londres, que identificou impactos biológicos precoces da desigualdade social. >
A pesquisa analisou dados de saúde de 1.160 crianças europeias, com idades entre 6 e 11 anos, de diferentes classes sociais. Os resultados, publicados na revista científica britânica eBioMedicine, reforçam que a desigualdade de renda não é uma questão puramente econômica, e pode ter impactos na saúde pública. >
Os pesquisadores utilizaram amostras de sangue e urina para mensurar dois indicadores importantes: o comprimento dos telômeros – estruturas que protegem os cromossomos do desgaste e vão encurtando com o tempo, servindo como marcador do envelhecimento – e os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. >
Crianças de famílias mais ricas apresentaram, em média, telômeros 5% mais longos do que aquelas de famílias mais pobres. Embora a diferença pareça modesta, os cientistas consideram os dados significativos, uma vez que telômeros mais curtos estão associados a envelhecimento precoce e maior risco de doenças crônicas ao longo da vida. >
O estudo também constatou que meninas tendem a ter telômeros mais longos do que meninos, e que crianças com índice de massa corporal (IMC) mais elevado apresentaram encurtamento dessas estruturas. >
Em relação ao cortisol, os níveis do hormônio eram entre 15,2% e 22,8% menores em crianças de famílias de classe média e alta, em comparação às de menor renda. O dado sugere que o estresse contínuo vivenciado por crianças em situação de vulnerabilidade impacta negativamente o equilíbrio hormonal. >
A classificação socioeconômica adotada no estudo não se baseou apenas na renda, mas também considerou fatores como número de carros por residência e se a criança possuía um quarto próprio. >
Embora nenhuma das famílias participantes vivesse abaixo da linha da pobreza, os autores do estudo alertam que os efeitos da desigualdade já são detectáveis mesmo em níveis intermediários de renda. Eles destacam ainda a necessidade de ampliar as pesquisas, incluindo populações mais diversas e de regiões fora da Europa. >