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Carol Neves
Publicado em 21 de julho de 2025 às 10:50
As promessas de transparência sobre o caso Jeffrey Epstein feitas pelo governo Trump sofreram um revés nos últimos dias, acentuando um desgaste político que já se desenhava. O ponto de ruptura veio após a recusa em divulgar documentos relacionados à investigação, contrariando o discurso anterior de que esses arquivos revelariam nomes poderosos envolvidos com o financista. Epstein foi preso acusado por tráfico sexual, em Nova York, e tirou a própria vida na cadeia enquanto aguardava julgamento. >
Em meio à polêmica, o Departamento de Justiça solicitou que parte dos registros, especificamente, o depoimento do grande júri que levou à acusação de Epstein, fosse tornado público. A medida foi autorizada por Trump e representa uma tentativa de conter a insatisfação de aliados que viram na mudança de posição um sinal de acobertamento.>
O caso, que voltou ao noticiário após uma declaração de Elon Musk de que Trump teria sido citado em arquivos do FBI sobre Epstein, ganhou ainda mais repercussão diante da pressão pública por respostas. Trump reagiu minimizando a relevância do assunto, chegando a classificá-lo como "chato", e pediu que seus apoiadores seguissem em frente e esquecessem o tema.>
Conspiração>
A decisão de preservar parte do conteúdo alimentou desconfiança até mesmo entre apoiadores do ex-presidente. Teóricos da conspiração, que antes viam em Trump o líder que finalmente revelaria crimes cometidos por elites, agora expressam frustração. Parte da base conservadora passou a considerar que há algo a esconder.>
A figura de Epstein, morto em 2019 em uma cela enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual, continua mobilizando teorias. Sua proximidade com figuras públicas como Bill Clinton e o próprio Trump contribuiu para isso. Em 2002, Trump disse à revista New York que Epstein era "um cara incrível" e mencionou sua preferência por mulheres mais jovens. Os dois se afastaram em 2004, após disputarem a compra de uma propriedade na Flórida, segundo o The New York Times. >
Embora documentos do FBI contenham citações a diversas pessoas, inclusive Trump, especialistas alertam que menções em arquivos desse tipo não indicam necessariamente envolvimento em crimes. Muitas vezes, os dossiês incluem informações desencontradas, boatos e material não verificado.>
A divulgação de um vídeo que mostram imagens do exterior da cela de Epstein antes do suicídio também contribuiu para conspiração. Segundo a revista Wired, a cena, que tinha o propósito de mostrar que ninguém entrou ou saiu da cela dele antes da morte, foi editada. A publicação fez uma análise forense do material. Segundo a Wired, as quase 11 horas de arquivo não estão no formato original, ao contrário do que informou a FBI. A conclusão da revista é de que o arquivo provavelmente foi criado a partir da junção de duas filmagens diferentes, usando o software Adobe Premiere Pro. Uma discrepância de 2 minutos e 53 segundos entre os arquivos originais e o material divulgado pelo FBI sugeria uma exclusão de parte da filmagem. >
Agora, o governo busca se reposicionar. Em documento apresentado à Justiça na sexta-feira, a procuradora Pam Bondi e seu vice afirmaram que há um interesse legítimo e contínuo da sociedade sobre o caso. “O tempo para o público descobrir o que eles contêm deve acabar”, escreveram.>
Apesar disso, o conteúdo do depoimento do grande júri pode frustrar expectativas. Por se tratar de uma parte mais técnica da investigação, costuma conter menos elementos explosivos do que outros tipos de documento. Além disso, a liberação depende de autorização judicial, o que costuma ser raro, devido à proteção de testemunhas e vítimas.>