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Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 14:30
- Atualizado há 2 anos
Era sábado de uma data cívica (7 de setembro), em um país que resistia ao regime militar (1968), quando meu pai comemorava os cinquenta anos da capoeira regional. Nessa época, talvez ele não soubesse a dimensão e nem a velocidade com a qual sua obra se espalharia pelo mundo e eu, com apenas 8 anos, saberia menos ainda que cinquenta anos depois estaria vivo para celebrar o centenário de seu legado.>
Não sou a única pessoa que reconhece Manoel dos Reis Machado, mais conhecido como o Mestre Bimba, como o homem negro, soteropolitano, que, além de ter realizado um grande sonho ao ver acCapoeira ganhar o mundo, transformou uma manifestação, que era pisoteada pela sociedade e perseguida pelas autoridades, em um veículo de educação e principalmente de cidadania.>
Em 1968, eu não saberia descrever o que meu pai estava sentindo ao celebrar os 50 anos da capoeira regional, mas agora que estamos comemorando os 100 anos eu percebo essa data como um grito de vitória. É uma conquista muita grande ver a capoeira sempre associada ao bem-estar das pessoas, à socialização de crianças e jovens, especialmente, aquelas que residem em bairros periféricos.>
Em 2018, a prática da capoeira regional é recomendada por médicos, contribui com o reconhecimento identitário de milhares de pessoas e sua amplitude serve como linguagem entre pessoas de origem diversas, inclusive para a quebra de barreiras fronteiriças. Atualmente, a capoeira também é utilizada como recurso metodológico para a inclusão de pessoas com Síndrome de Down, deficientes visuais, auditivos, entre outros.>
É muito forte a presença da capoeira na vida das pessoas. Meu pai falava que havia criado a capoeira regional para o mundo e as pessoas subestimavam esse feito. Elas não acreditavam porque não tinham como imaginar que, há 50 anos, uma pessoa que nem sabia ler e escrever poderia espalhar pelo mundo a prática da capoeira também como atividade física, reunindo aspectos artísticos e musicais, de modo que se tornasse parte da vida cotidiana. Essa é mais uma razão para que comemorar toda a trajetória.>
Como forma de celebrar e preservar o legado do Mestre Bimba, entre os dias 18 e 22 de dezembro, vamos reunir toda a comunidade para comemorar um século de resistência da capoeira regional com uma série de atividades, entre elas, a publicação do meu primeiro livro, no qual faço um ponto de reflexão sobre essa figura fantástica que foi meu pai.>
Que nestes dias possamos unir toda a diversidade da capoeira que tem no mundo, assim como todas as suas vertentes, e que possa servir também de estudo e pesquisa para que as pessoas cada vez mais consigam se aprofundar no verdadeiro sentido de ser Regional e de ser admirador do Bimba.>
Manoel Nascimento Machado, o Mestre Nenel , é filho do Mestre Bimba>
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