12ª lavagem da estátua de Zumbi faz ato contra o genocídio de pessoas negras

Durante o evento, na Praça da Sé, houve protesto por João Alberto Silveira, assassinado por seguranças do Carrefour, no Rio Grande do Sul

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  • Wendel de Novais

Publicado em 26 de novembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Um dia de luta, de resistência. É assim que as pessoas pretas encaram o Dia da Consciência Negra e é por isso que, há 12 anos, existe a lavagem da estátua de Zumbi dos Palmares, localizada na Praça da Sé, no Centro Histórico. Para lembrar da necessidade da luta por uma sociedade igualitária, sem racismo. Este ano, a lavagem, que, normalmente, acontece todo dia 20 de novembro, precisou ser adiada para esta quarta-feira e teve o número de participantes limitado por conta da pandemia do novo coronavírus. 

O que não mudou foi o empenho em usar o mês da consciência negra como meio de amplificar o discurso antirracista e reafirmar a agenda contra o racismo estrutural no Brasil e na Bahia. O ato, que foi iniciado com a concentração dos participantes na sede da União dos Negros pela Igualdade (Unegro), que organiza o evento, seguiu em cortejo composto por militantes da Unegro, baianas acarajé e pela Banda Voz dos Tambores. Ialorixás lavando estátua de Zumbi (Arisson Marinho/CORREIO) Um dia de luta

 Além da lavagem da estátua, os presentes aproveitaram a reunião para dialogar sobre a luta antirracista e as ações que devem ser desenvolvidas pelo povo preto contra o racismo. Para Girlene Santana, 61, militante da Unegro, fazer da lavagem é reafirmar, através do diálogo, a necessidade de continuar com a luta antirracista: “Quando a gente resgata a memória de Zumbi, traz de volta a luta que ele travou pela liberdade do povo preto. O que é significativo para nós, que estamos diariamente na luta por uma sociedade de cunho justo, expurgando o racismo”.Ângela Guimarães, presidente nacional da Unegro,  reforça que o Dia da Consciência Negra precisa ser tratado mais como um dia de resistência do que de celebração: “É muito importante manter viva a representação da resistência e da contribuição civilizatória da população negra em um país que tenta apagar, século após século, uma história de luta do povo preto”. Ângela lembrou histórico de luta da população negra (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Entre os participantes do ato e do diálogo promovido durante a lavagem, estavam as ialorixás. Uma delas era a Graziela Paiva, 40, que falou da importância sobre a luta contra o racismo religioso: “Para nós, povo de axé, é um momento de resistência. Mais uma oportunidade de mostrar que estamos de pé, que vamos combater o racismo estrutural e também o racismo religioso”.

A ialorixá Maisa Bahia, 42, fez questão de dizer que o Dia da Consciência Negra se trata de um momento de consolidação da resistência: “A importância da lavagem para o povo negro, que é um povo de axé, é a resistência do nosso povo, é o marco da resiliência do povo preto. Dia 20 de novembro não é dia de comemoração e sim de reafirmar a nossa luta e o compromisso com o movimento antirracista.” Ialorixá Maisa Bahia joga água em estátua de Zumbi (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Os presentes também realizaram um protesto por conta do assassinato do João Alberto Silveira, morto por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre. Elton Neves, presidente estadual da Unegro falou sobre o porquê de inserir o caso no diálogo: “A gente precisa sempre evidenciar e registrar que os movimento negro não vão se calar diante de um caso como esse, em que um homem negro é espancado e asfixiado até a morte. Vamos denunciar o racismo estrutural presente nesta e em outras tantas mortes. Porque há racismo no Brasil e ele mata diariamente pessoas pretas”. Ato também teve momento de protesto (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A presidente nacional da Unegro completa: “Nós não nascemos para o silêncio, não podemos nos conformar diante de uma brutalidade que nos chocou e que, infelizmente, repete o receituário das elites brancas para lidar com pessoas negras. Historicamente, nos degolam, nos matam. Há uma fixação dessas elites em não permitir que a gente respire para impedir que continuemos a ser resistência. E esse brado de hoje tem a intenção de dizer que, diante de do tombamento de qualquer pessoa negra, haverá protesto, barulho e resistência”.

*Com orientação da subchefe Monique Lôbo