1989: Lavagem de Itapuã começou com ijexá, terminou em lambada

Moradores organizaram a lavagem e fizeram abaixo-assinado pela realização da Festa da Baleia

Publicado em 7 de fevereiro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Baianas na Lavagem de Itapuã em 1989 (Foto: Francisco Galvão/Arquivo CORREIO) Quinta-feira, 19 de janeiro de 1989. Eram 11h quando o cortejo com os Filhos de Gandhy e uma procissão de baianas saiu do Coqueiro de Piatã em direção ao pátio da Igreja de Itapuã, em Salvador. Há 32 anos, a Lavagem de Itapuã começou ao som do ijexá, mas terminou em lambada. O fotógrafo Francisco Galvão registrou a multidão que aproveitou a festa, mas também os detalhes.

As baianas que participaram da Lavagem naquele ano tinham um motivo a mais para torná-la contagiante: foi a própria comunidade quem organizou tudo, num tempo recorde. A mobilização começou na segunda-feira e na quinta, a festa estava pronta.“O cortejo contou com presenças famosas, como as baianas Mãe Deja, com suas longas unhas e colares coloridos, e Mãe Francisquinha, de 72 anos e que participa da lavagem desde menina”, diz um trecho da reportagem publicada pelo CORREIO no dia 20 de janeiro de 1989.Foi no início daquela mesma semana que a comunidade se deu conta de que teria que organizar a festa. Um grupo de moradores, então, foi até a sede da antiga Emtursa pedir apoio. Só conseguiram algumas flores. Coube aos ‘itapuanzeiros’ garantir os elementos básicos para a realização da festa: as Baianas, os Filhos de Gandhy e o trio elétrico. Ainda teve apoio policial do 6º Batalhão e banho de mangueira de um caminhão-pipa da Limpurb para aliviar o calor.

A caminhada entre o Coqueiro de Piatã e o pátio da Igreja de Itapuã durou uma hora: ao meio-dia, as baianas distribuíram flores, banho de cheiro e lavaram as escadarias da igreja. “O banho de cheiro significa o desejo de muita paz, prosperidade e saúde, com as bênçãos de Oxalá, Nosso Senhor do Bonfim”, disse a baiana Mãe Geral, que tinha 60 anos na época e participava da festa desde os 18. Depois do banho de cheiro e lavagem das escadarias, trio elétrico tocou lambada na orla (Foto: Francisco Galvão/Arquivo CORREIO) Terminada a apresentação do afoxé Filhos de Gandhy e entoado o Hino ao Senhor do Bonfim, o Trio Karamelo entrou em cena com muita lambada por toda a orla de Itapuã. A mobilização popular deu tão certo que a comissão de moradores garantiu, naquele ano, que a Festa da Baleia, uma espécie de Carnaval no bairro, sairia de qualquer jeito. Uma baleia inflável, inclusive, já estava pronta para o desfile. Naquele ano, a festa já parecia ameaçada. Moradores entregaram um abaixo-assinado na prefeitura e espalharam faixas pelo bairro na tentativa de manter viva a tradição da Festa de Itapuã.“Ela tem que sair por dois motivos: o primeiro é que a baleia é um símbolo tradicional do nosso bairro e o segundo é o seu significado ecológico, pela sua preservação, pois o nosso bairro é um dos que mais sofrem todo tipo de depredação”, disse ao CORREIO, naquele dia, Raimundo Gonçalves, integrante da comissão de moradores do bairro.Em 2021, a Festa de Itapuã aconteceria na última quinta-feira (4), mas a pandemia também suspendeu os festejos. Nada de lavagem, multidão na rua nem bebidas – tudo para evitar aglomerações.