2021 com caras de 2020? 295 cidades baianas têm candidatos à reeleição

Campanha curta por conta da pandemia favorece quem está no poder

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  • Vitor Villar

Publicado em 18 de outubro de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

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A Bahia tem a chance de acordar em 1º de janeiro de 2021 com um cenário político muito parecido ao de 2020. Isso porque em 295 dos 417 municípios baianos o atual prefeito é candidato à reeleição.

Esse número equivale a mais de 70% das prefeituras. Somando a população desses locais, verifica-se que mais de 9,2 milhões baianos podem ter o mesmo gestor municipal no ano que vem – o equivalente a 62,4% da população, com base em dados do IBGE.

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A possibilidade de continuidade é alta, mesmo sem o município mais populoso do estado na conta. O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), não pode disputar a prefeitura. Ele venceu em 2012 com 53% dos votos e reeleito em 2016 com 73%.

No entanto, o cenário nos outros municípios com grandes colégios eleitorais é totalmente oposto. Das 20 maiores cidades baianas, apenas três não têm candidato à reeleição. Centros regionais como Feira de Santana, Vitória da Conquista, Juazeiro, Itabuna e Barreiras podem manter o prefeito (veja a tabela ao final da matéria).

Na visão de cientistas políticos, o contexto de pandemia atropelou as eleições. Além do debate mais consistente só ter começado há um mês, ainda assim as campanhas têm que dividir espaço com outros temas, o que tende a favorecer quem está no poder.“O espaço para a campanha – não apenas físico, mas também na atenção da sociedade – está reduzido nas condições atuais. Então, em tese, isso favorece quem está no exercício”, avalia Paulo Fábio Dantas Neto, professor de Ciências Políticas da Ufba.A campanha atropelada se soma a uma vantagem que já é natural ao candidato à reeleição. Historicamente, no Brasil, o mandatário leva vantagem sobre os adversários.

Prós e contras

Assim como beneficia, a pandemia pode ser um risco. Os erros e acertos na gestão da crise ainda estão muito vivos na memória do eleitorado.  “É verdade, quem está no governo tem vantagem em qualquer eleição. Numa campanha curta, mais ainda. Mas não podemos tornar isso uma profecia”, diz Paulo Fábio.“A pandemia expôs os governos a riscos muito altos. Fechamento de comércios, conflitos sobre o que podia ou não funcionar”, lembra Paulo Fábio. “Não tem campanha curta que salve uma gestão rejeitada”, completa o analista.Depois de Salvador, a maior cidade em que haverá troca do prefeito é Jequié. Sérgio da Gameleira (PSB) poderia se candidatar, mas foi afastado do cargo pela Justiça há um mês. Ele é investigado em um esquema de fraude de licitação e desvio de verbas.

Em Porto Seguro, 13ª maior cidade, Cláudia Oliveira (PSD) já está em seu segundo mandato. Ela foi eleita em 2012, com 36% dos votos, e em 2016 ganhou com 47%.

O crescimento de ACM Neto e Cláudia Oliveira de uma eleição para a outra mostram a força da reeleição. “O candidato vem de quatro anos de visibilidade constante. Se ele chega ao pleito com avaliação positiva, isso se transforma num trunfo difícil de ser desconstruído pelos adversários”, diz o cientista político e professor da Ufba Cloves Oliveira.

Para ele, o prefeito que já tinha um trabalho bem avaliado e manteve-se firme na pandemia, terá um caminho teoricamente tranquilo:“Se ele mostrou liderança, controlou a doença e atendeu às expectativas de saúde, então a pandemia e a campanha curta criaram uma combinação que, de fato, favorece o mandatário. Mas, se ele geriu mal, pode ser duramente punido”, avalia Cloves.Segundo turno

Segundo a legislação eleitoral, o 2º turno é realizado em cidades com mais de 200 mil eleitores. Na Bahia, além de Salvador, ele só é possível em Feira de Santana e Vitória da Conquista. 

Em Feira, o atual prefeito é Colbert Martins (MDB). Em 2016, ele foi eleito como vice de Zé Ronaldo (DEM), que deixou o cargo em 2018 para concorrer ao Governo do Estado. 

Colbert é portanto o caso do candidato à reeleição que nunca passou pelo crivo das urnas. Segundo os cientistas, dependerá da boa avaliação de Zé Ronaldo.

“O mandatário, a depender de como foi sua aprovação, pode ser um grande apoiador e usar seu prestígio para endossar candidaturas. De qualquer forma, a avaliação de quem está ou esteve no cargo é chave para qualquer disputa”, avalia Cloves Oliveira.

Colbert tem como principal adversário, segundo pesquisas divulgadas na região, o deputado federal Zé Neto (PT), que também nunca venceu nas urnas.Para o jornalista e analista Joilton Freitas, da Rádio Sociedade News de Feira, Colbert tem grandes chances de reeleição: “Feira terá a eleição mais disputada dos últimos 20 anos. Colbert Filho é muito conhecido, herdou capital político do pai, ex-prefeito da cidade, e faz uma gestão que é continuação da de Zé Ronaldo, maior liderança política da cidade nas últimas décadas”.Polarização

Em Conquista, a polarização também é entre MDB e PT. O atual prefeito Herzem Gusmão (MDB) foi eleito em 2016 no segundo turno, derrotando Zé Raimundo (PT), ex-prefeito por dois mandatos, com 57% dos votos. Mais uma vez, a disputa é encabeçada por eles.“Herzem interrompeu a experiência mais longeva de prefeitura do PT no Brasil. Foram cinco mandatos seguidos em Conquista”, diz Matheus Silveira Lima, cientista político e professor da Uesb.“O cenário que se desenha é de outro segundo turno, no qual o eleitor terá que escolher entre duas gestões que já ocorreram. A de Herzem, há quatro anos, e a do PT, de 20 anos”, completa.

Cloves Oliveira lembra que nem sempre a reeleição é uma barbada. “A reeleição torna-se mais difícil se o desafiante traz na biografia experiência administrativa e reconhecimento de competência, algo que inspire o eleitor a virar o jogo político sem correr riscos”, avalia o cientista político.

PSD e PP lideram

Mais da metade dos prefeitos candidatos à reeleição na Bahia pertencem a apenas três partidos políticos. O PSD, dos senadores Otto Alencar e Ângelo Coronel, é o que tem o maior número de mandatários em condições de permanecer nos cargos, se o eleitor quiser. São 75 nessa situação.

Na sequência aparece o PP, legenda do vice-governador João Leão, com 66. O PT do governador Rui Costa só aparece em terceiro, com 29. O primeiro partido de oposição na lista é o DEM, do prefeito de Salvador, ACM Neto, com 26.

O detalhe é que o PSD e o PP foram os partidos com mais prefeitos eleitos no último pleito municipal, em 2016, quando conquistaram 83 e 55 cidades, respectivamente.

Nos últimos quatro anos, as legendas de Otto e Coronel e de Leão aglutinaram mais prefeituras convencendo os mandatários a mudarem de partido. O PSD iniciou 2020 com 109 cidades sob seu comando. O PP, com 80.

Ou seja: a Bahia pode iniciar 2021 não só com os mesmos nomes nas prefeituras, mas também com as mesmas legendas.“Que esses partidos, mas principalmente o PSD, vêm se fortalecendo na política do estado, isso é realidade há quase uma década. E na política municipal isso tem sido visto nas sucessivas eleições”, analisa o cientista político Paulo Fábio Dantas Neto.Segundo ele, os prefeitos no poder geralmente migram para esses partidos justamente por conta da reeleição. Donos de fatias grandes dos fundos partidários e eleitoral, PSD, PP e afins podem oferecer estrutura melhor para o candidato.

Um caso notório é o de Oziel Oliveira, candidato à reeleição em Luís Eduardo Magalhães, 19º maior cidade baiana. Eleito pelo PDT, ele migrou para o PSD em março desse ano. Joaquim Neto, que disputa reeleição em Alagoinhas, 12ª maior cidade, foi eleito pelo DEM e foi para o PSD em 2019.“A influência do Governo do Estado é muito grande sobre os rumos da política municipal da Bahia. E à medida em que esses partidos ganham força junto a Rui Costa, acabam ganhando força para aglutinar novas prefeituras, também”, analisa Paulo Fábio.Entre os 20 maiores colégios eleitorais do estado, o DEM terá candidatos à reeleição nos municípios de Camaçari, Teixeira de Freitas e Barreiras. Já o PT disputa posições em Juazeiro e Lauro de Freitas. A maior cidade em que o PP luta por reeleição é Candeias, a 20ª.