40 anos passam rápido: bom fazer parte da história do CORREIO

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  • Jolivaldo Freitas

Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Fui o primeiro chefe de reportagem do Correio da Bahia e ajudei a riscar, pensar e colocar nas ruas o primeiro exemplar, que saiu com uma manchete que estava guardada a sete chaves, que foi a descoberta de uma jazida de ouro no sertão baiano, coisa que a Companhia Brasileira de Pesquisa Mineral - CBPM queria porque queria divulgar para todo mundo, pois o ouro era a grande esperança do Brasil sair da sua crise econômica naquele período.

A gente na redação ainda formando repórteres, adaptando a equipe aos novos conceitos e equipamentos, brigando e convencendo que seria mais impactante dar o “furo” – naquele tempo ainda se brigava pela primazia em dar a notícia – para um jornal novo que nascia forte e que estava chamando a atenção para o seu lançamento, principalmente por ser um veículo de propriedade do governador Antonio Carlos Magalhães, icônico personagem da história política baiana, ele próprio notícia forte. A CBPM entendeu e já saímos com tudo, esgotando a edição.

Foram meses de concentração no antigo prédio da Avenida Paralela, num frisson incessante em que ler os outros jornais dando notícias importantes só fazia criar mais expectativa. Enquanto isso, fizemos vários números zeros já com a cara daquilo que seria o Correio da Bahia. Um jornal de modus moderno, que teria a coragem de abrir fotos em página inteira para valorizar a imagem – dentro do conceito em uma foto vale mais que mil palavras – e assim conjugar, dando mais expressão e dramaticidade à reportagem.

Lembro que passamos o ano laboratorial de 1978 vendo correr por nossos olhos (enquanto as páginas, hoje templates, eram desenhadas a lápis e Bic nos diagramas), grandes notícias que só demos nos números zeros para uso interno. Veja só: tivemos três papas num ano. Em agosto morre o papa Paulo VI. No mesmo mês, depois de conclave, foi escolhido o italiano Albino Luciani para ser o papa João Paulo I. Seu pontificado durou 33 dias. Morreu em 28 de setembro. Um novo papa foi escolhido: o polonês Karol Wojtyla, que veio a ser João Paulo II.

Na Inglaterra nascia Louise Brown, o primeiro bebê de proveta da história. Um milagre da Medicina. No Brasil, o ano virava com a extinção do AI-5 e o abrandamento da ditadura militar. Lula aparecia no cenário político comandando a primeira greve dos metalúrgicos em São Paulo. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro pegou fogo e destruiu um acervo inigualável. No futebol, a Argentina, sob uma ditadura militar, realizou a Copa do Mundo, comprou jogadores peruanos e se tornou campeã. O Brasil saiu invicto, mas não levou.

Na economia, os trabalhadores, face às greves, conseguiram aumentos reais de 10%  nos salários, mas, em contrapartida, a economia estava numa situação ruim, com inflação crescente, mais de 40%  ao ano. A dívida do Brasil com outros países bateu nos inacreditáveis US$ 40 bilhões. Vivíamos a desorganização monetária, desequilíbrio financeiro decorrente e os preços dos produtos subindo todos os dias.

Lembro que, às sextas-feiras, o editor Sérgio Toniello me mandava ao Rio de Janeiro, para, na redação do antigo Jornal do Brasil, o respeitadíssimo jornalista Alberto Dines olhar as páginas desenhadas para dar um parecer. Nunca desaprovou nenhuma. Era tenso. E lembro, feliz,  que convidei alguns jornalistas para fazer parte da redação, a exemplo de Gutemberg Cruz, que fez um caderno de cultura memorável e trouxe também Demóstenes Teixeira, que tempos depois virava editor-chefe do Correio. Bom fazer parte desta história. Projeto permanente em direção aos 50 anos. Aos 100. Ao infinito.

Jolivaldo Freitas é escritor e  jornalista

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