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Tailane Muniz
Publicado em 27 de setembro de 2019 às 10:00
- Atualizado há 2 anos
Pelo menos 70% dos contratados em obras da Construção Civil, na Bahia, não são baianos. A informação é do Sindicato da Construção Civil Pesada e Montagem do Estado (Sintepav-Ba), que reúne cerca de 300 trabalhadores, na manhã desta sexta-feira (27), na Rótula do Abacaxi, em Salvador.>
Presidente do grupo, o Irailson Warneaux argumenta que tanto as obras da iniciativa privadas quanto as públicas optam, na maioria das vezes, por contratar profissionais de fora sob a afirmação de que não existe mão de obra qualificada na Bahia. “Absurdo”, afirma o presidente.>
Segundo o levantamento é do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), contudo, Salvador foi a capital nordestina que mais gerou emprego no último ano. >
“Nós temos 360 mil desempregados aqui, segundo o IBGE, e eles preferem contratar quem vem de fora. É inaceitável e é por isso que estamos aqui, juntos, dispostos a lutar por nossos direitos”, diz, ao considerar que a falta de contratação da mão de obra local reflete um estado onde “as famílias e a economia ficam enfraquecidas”.>
Junto aos trabalhadores, o Sintepav pretende caminhar até a Governadoria, no Centro Administrativo (CAB), onde pretendem propor uma “mesa de negociações”, explica Irailson. “Nós temos qualificação em todas as áreas da construção e montagem, de quem serve café a engenheiros, então não dá pra aceitar qualquer coisa, eles precisam garantir que ao menos 70% de nós sejamos a primeira opção”.>
Mesa Irailson explica que a proposta do Sintepav, ao Estado, tem como base uma espécie de grupo, formado pelo próprio sindicato, uma comissão de trabalhadores, além de representantes do Governo.>
Assim, segundo ele, seriam estabelecidos critérios para a contratação, operacionalização e realização das obras. “O principal deles é a preferência a quem mora aqui, já que os que eles contratam retornam aos seus lugares de origem, onde aplicam a renda. Que deem 30% das vagas a quem vem de outros lugares, mas a maioria é injusto”, reitera.>
A situação é ainda pior, acrescenta, no caso das mulheres. Às pintoras, pedreiras, serventes, armadoras, eletricista, entre outros cargos ocupados por mulheres, as vagas são ainda mais reduzidas. >
“Há uma política discriminatória e essa é uma de nossas principais causas, porque já está mais do que claro que elas têm a mesma capacidade que qualquer homem”, complementa o presidente do Sintepav.>
'Podemos, sim' Faz cinco anos que a pintora Maria Cremilda dos Santos, 48 anos, ajudou a botar nos trilhos o metrô de Salvador. Naquela época, quando assumiu um cargo na primeira grande obra da vida, entrou como servente. Ajudava a arrumar, transportar e misturar materiais, mas não mais que isso."Foi um caminho muito difícil até acreditarem no meu potencial, me qualificarem e me possibilitarem fazer outra coisa. As pessoas, nessa área, acreditam pouco nas mulheres", disse, ao relatar o processo de um ano para a qualificação de pintora.Desempregada, Maria Cremilda comenta a dificuldade, que considera ainda maior, também pela idade. "É a questão do gênero, e é, no meu caso, a coisa da idade, pega muito. Mas é isso, estamos na luta", diz ela, ao lado dos colegas.>
A dificuldade é parecida para o soldador e capinteiro Benedito das Neves, 60. No ramo há 33 anos, ele comenta que o fato de haver apenas 5% de cota direcionada às Pessoas Com Deficiência (PCD), quem é como ele acaba rejeitado.>
"Nós temos a mesma capacidade que qualquer pessoa, claro que podemos fazer tudo da melhor maneira, o negócio é acreditarem nisso. Acredito que nós [PCDs] precisamos de mais espaço, não só nesse mas também em outros ramos", diz Benedito, que foi um dos responsáveis pelas obras da Avenida 29 de Março, que liga a orla da capital ao bairro de Águas Claras.>