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Paula Theotonio
Publicado em 28 de maio de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Um traz energia para enfrentar o dia. O outro, o relaxamento necessário para encerrar a noite. O primeiro pede um serviço com temperaturas amenas a geladas; enquanto o segundo se bebe bem quente ou bem gelado, sem meio termo. Vinho vai bem na taça cristal; e o café, onde você quiser. Eu poderia listar uma série de características únicas dessas duas bebidas complexas e apaixonantes, mas o que pouco sabem é das similaridades que elas compartilham: 1- Variedades consideradas nobres>
Bons vinhos finos se fazem com castas da espécie Vitis vinifera, como Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Merlot; enquanto vinhos de mesa, mais rústicos, são elaborados com Vitis labrusca, como Bordô, Isabel etc.>
Uma divisão muito parecida acontece no mundo do café. As bebidas elaboradas com variedades da espécie Coffea arabica, como Catuaí, Bourbon e Mundo Novo, apresentam sabor e aroma mais suaves. Uma boa seleção destes grãos resultam nos famosos cafés especiais. Já as que são elaboradas com a variedade Conilon, pertencente à espécie Coffea canephora, são mais encorpadas, cafeinadas, rústicas e apresentam maior amargor.>
A diferença, aqui, é que há regiões produtoras se dedicando a fazer cafés de altíssima qualidade com variedades Coffea Canephora.>
2- A importância do terroir e do processamento>
Assim como nos vinhos, a identidade territorial - ou terroir - é determinante nos sabores, aromas e corpo que aquela variedade de café irá expressar. Em Piatã (BA), por exemplo, onde a altitude chega a 1500 metros acima do nível do mar, as bebidas apresentam notas de melaço, frutas cítricas, frutas vermelhas, acidez elegante, aroma intenso e alta complexidade. Com menor altitude, verões quentes e úmidos e invernos secos, o Cerrado Mineiro produz cafés com notas de nozes e caramelo; além de sabor que lembra chocolate.>
A escolha dos melhores frutos também é determinante para que tanto o vinho quanto o café sejam mais saborosos. Porém, na elaboração da bebida alcoólica, a seleção já ocorre na colheita; enquanto naquele caso, é na etapa de processamento e secagem que os grãos chochos, atacados por pragas ou verdes, são retirados.>
3- Maturação>
Uma boa maturação é essencial para vinhos e cafés de qualidade. Frutos bem maturados produzem bebidas complexas, ricas e equilibradas em sabores e aromas, nos dois casos. Quando processados imaturos, os grãos cafeinados geram uma bebida áspera, amarga e adstringente. Uvas colhidas cedo demais, por sua vez, resultarão em vinhos com muita acidez, pouco álcool e açúcar.>
Uma sobrematuração de uvas, no entanto, pode gerar vinhos excelentes e adocicados; e os grãos sobremaduros de café também. 4- Aromas e fragrâncias>
Ambas são bebidas que podem apresentar aromas de frutas vermelhas, amarelas e negras frescas ou maduras; frutas cítricas; secas; mel; caramelo; chocolate; nozes; baunilha, especiarias, pimentas... Além de fragrâncias como madeira.>
Cafés ganham diferentes “cheiros” dependendo da variedade, do terroir, do estilo de torrefação (clara, média ou escura) e oxidação após o preparo. Entre os vinhos, isso vai variar de acordo com a casta, o terroir, estilos de fermentação, uso ou não de barricas ou chips de carvalho e o envelhecimento em garrafa.>
5- Podem ser baratinhos ou premium>
Dependendo do esmero com que você colhe a fruta e faz o processamento, tanto vinho quanto café podem ter diferentes faixas de preço e níveis de qualidade. A produção em massa costuma baratear ambos os produtos, enquanto protocolos mais cuidadosos geram bebidas com preços mais altos. 6- Serviço é essencial>
O modo de servir pode alterar a percepção de sabor nos dois casos. Um método de extração minimamente cuidadoso, com a água quase fervente e um filtro já escaldado antes de coar o pó, é essencial para se fazer um café saboroso no dia-a-dia. A granulação mais grossa, por sua vez, é a ideal para a cafeteira italiana; enquanto um pó muito fino na Hario V60 pode alongar a extração, fazendo um café mais denso.>
O serviço do vinho também muda toda a experiência. Conhecer a temperatura correta para o rótulo garante uma experiência mais prazerosa; bem como o estilo mais adequado de taça.>
A única diferença é que o vinho, quase sempre, está pronto para ser bebido – com exceção dos mais encorpados ou antigos, que precisam ser aerados ou decantados, respectivamente. Já o café ainda precisa ser preparado.>
7- Oxidação>
Servidos, ambos oxidam quando em contato prolongado com o ar. A diferença é que para vinhos mais encorpados, uma exposição controlada ao ar revela aromas e sabores. Para o café pronto e rótulos jovens, o oxigênio é fatal. Bebê-los não faz bem ao paladar e sequer ao seu estômago!>
8- São saudáveis na dose certa>
Ambos são repletos de antioxidantes, compostos excelentes no combate ao envelhecimento e de células cancerígenas, que ajudam a manter a saúde do coração e melhoram a imunidade. Mas é preciso ter parcimônia ao consumi-los! Em excesso, assim como qualquer coisa na vida, viram veneno!>