9 dias antes de depor, estudante envolvido em pirâmide tinha mais de R$ 3 milhões  

Vídeo põe em xeque depoimento que ele deu à Polícia, negando esquema ilegal

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  • Marcela Vilar

Publicado em 2 de setembro de 2021 às 17:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Redes Sociais

O suposto esquema de pirâmide financeira de Jequié, cidade no Sudoeste da Bahia, acaba de ganhar mais um capítulo. Em vídeo que circula pelas redes sociais, o estudante de Medicina Henrique Sepúlveda, apontado como o comandante do crime através de sua empresa Safe Intermediações, mostra que tinha mais de R$ 3 milhões na conta bancária no dia 23 de agosto. Em depoimento à Polícia Civil, nesta quarta-feira (1), ele disse que teria perdido todo o dinheiro. Vítimas ouvidas pelo CORREIO dizem que não há registro de movimentações na plataforma desde a referida data.  

“No dia 23, perguntaram se ele poderia mostrar o dinheiro que tinha na conta, e ele mostrou, em vídeo, mais de R$ 3,3 milhões. No dia 26, quando começaram a jogar nas redes sociais, ele já não tinha mais movimentado nada. E, ontem, no depoimento, ele tinha dito que não tinha dinheiro nenhum. Então ou ele mentiu para o delegado ou ele inventou essa plataforma”, relata uma das vítimas, que pediu para não se identificar.  

Ela chegou a investir quase R$ 1 milhão com o estudante. Ao todo, 150 pessoas foram lesadas e o montante que Henrique Sepúlveda acumulou chega a quase R$ 7 milhões. Ele deixou de pagar aos investidores os rendimentos, prometidos em até 20% ao mês, sem perdas. No caso dessa vítima, o lucro seria entre 4,5% e 9% por mês.  

Contudo, nunca chegou a ser isso. O rapaz passou a atrasar os pagamentos depois do segundo mês de contrato, além de parcelar os dividendos. No mês de agosto, nada entrou na conta dela.  

“Para uma pessoa que não entende de bolsa de valores, é melhor dar o dinheiro para outra pessoa que diz saber aplicar. Ele era conhecido como 'o mago' em Jequié, tinha gente que investia com ele há mais de três anos. Hoje, tenho vergonha de ter sido idiota, mas vejo que fui só mais uma. Fico espantada de ele dizer que não tem mais nada”, desabafa a vítima.  

Henrique Sepúlveda é investigado pela Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR) de Jequié e outras pessoas estão sendo ouvidas no inquérito. A conta da namorada dele, Catiele Mota, teria sido usada para movimentar algumas das operações, segundo vítimas, mas, essa informação não foi confirmada pela Polícia ainda. Nas redes sociais, o casal esbanjava viagens em Morro de São Paulo, Porto Seguro e Barra Grande, além de passeios de lancha. 

O delegado Nadson Pelegrini, da DRFR, explicou que o abalo resultante do esquema vai muito além do aspecto econômico. "A sociedade jequieense foi duramente impactada pela atuação desse senhor. O impacto não foi apenas financeiro, mas também de ordem moral. Vários dos lesados são pessoas conhecidas da sociedade: empresários, políticos, policiais... Ele não escolhia as vítimas. Acabou lesando uma imensa gama de investidores", declarou. 

Algumas das pessoas que caíram no golpe já tinham conhecido no mercado financeiro. "Muitos desses investidores já tinham conhecimento prévio acerca do mercado financeiro, mas acreditavam que esse cidadão, por possuir conhecimento superior, iria proporcionar maiores lucros e ganhos. Mas o resultado é que toda essa clientela, que se estima, de início, ser de 150 pessoas, está amargando um prejuízo que beira os R$ 7 milhões, podendo ser descobertos mais valores no decorrer da investigação", acrescentou o delegado. 

Procurado, Henrique Sepúlveda não respondeu à matéria antes da publicação.  

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro