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Ivan Dias Marques
Publicado em 12 de fevereiro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
A morte de dez jovens no Centro de Treinamento do Flamengo gerou uma comoção enorme no país. Dez garotos em busca do sonho de poder viver do futebol e sustentar suas famílias com esse sonho. Dez famílias que veem a lei da vida andar ao contrário, com pais enterrando seus filhos. Para os clubes, a tragédia serve como alerta. Não existe acidente. O que aconteceu no Ninho do Urubu conta com explicações e a maior delas se chama negligência. Por mais que o alojamento tivesse com os dias contados, ele seguia lá há bastante tempo, com instalações longe do ideal e sob risco de fatalidades. Tudo isso se torna pior quando falamos do Flamengo, maior clube do país, que teve superávit de mais de R$ 150 milhões em 2016 e 2017 (os números de 2018 ainda não foram divulgados). Ou seja, há bastante tempo, o rubro-negro tem uma ótima relação entre receita e despesa, mas a diferença de atenção entre o futebol profissional e o da base parece ser abissal, dadas as instalações dos jovens em contêineres. Há um preceito no futebol de base que precisa ser desfeito, de que o jovem jogador tem que sofrer para chegar ao profissional calejado. Não, o jovem precisa de instrução, de educação, de desenvolvimento mental, intelectual e cognitivo para aprender a ter senso crítico e ter consciência do lugar onde está e das cores que representa. A pedagogia à base do medo é tão ultrapassada quanto a tentativa de curar doenças mentais com tratamentos de lobotomia ou eletrochoque. Os clubes precisam evoluir e esquecer essa ideia preconcebida que tratar seus jovens atletas bem significa mimá-los. Dar estrutura e educação só vai ensiná-los a valorizar o clube que representam. A base, para um futebol produtor de talentos e não comprador, como o brasileiro - sobretudo o nordestino - ainda é, concentra a riqueza futura dos clubes. É preciso cuidar. Sempre.
Anderson Silva Ao fim dos três rounds de luta contra Israel Adesanya, tive a forte impressão de que Anderson Silva não se importa mais tanto em ganhar ou perder no MMA. Aos 43 anos, sua luta é para se manter competitivo, para dar trabalho aos mais novos e apagar a imagem ruim que ficou por conta dos exames antidopings positivos. O Spider fez uma luta interessante, contando com a inibição de Adesanya também. Para mim, até venceu o 2º round, mas entendo que, se quisesse levar a peleja à vera, teria tentado levar o nigeriano para o chão alguma vez, onde sua vantagem era maior e a diferença de 14 anos na idade teria um efeito muito menor. Anderson preferiu o show e não dá para dizer que não deu certo.
Boechat Entre as muitas lições de jornalismo que Ricardo Boechat deixa, uma é bem atual: “Não dê palanque para otário”. Por mais que pareça uma frase baixa, ela significa muito. Não dar espaço a quem o quer simplesmente para aparecer, não dar trela para quem só quer causar, não usar o jornalismo como palco para gente que não vale a pena. A informação é preciosa e o ato de informar precisa ser feito com responsabilidade. O Brasil sentirá falta de Boechat.
*Ivan Dias Marques é subeditor do Esporte e escreve às terças-feiras