A bola é delas na Copa das mulheres

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  • Paulo Leandro

Publicado em 9 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A invisibilidade das mulheres que fazem a história do futebol se pode verificar no esquecimento de referenciais de lideranças na mobilização de recursos para realização de sua Copa do Mundo, uma vitória sobre o patriarcado. 

Para nós, o Mundial começa hoje, com nossa Seleção de Formiga e Marta enfrentando a Jamaica, país presente nas misturas culturais baianas, desde a invenção do reggae do I-Trees, com Rita Marley, mulher de Bob, Judy... 

Tão presente é a Jamaica que o time atual campeão lençoense de homens tem seu nome e o padrão em homenagem ao país do doce som de Peter Tosh e do movimento Legalize. 

Por falar em Legalize, que tal pedir às nove musas, filhas de Zeus e Mnemosyne, para nos alegrar com a lembrança das lideranças femininas? Verdade, em grego, é a-lethea (não-esquecimento), poder das musas olimpíades. 

Para ajudar as musas, vamos recorrer ao trabalho de conclusão de curso da jornalista Alessandra Ferreira, por mim orientada em 2008. São entrevistas com mulheres que desafiaram o preconceito e fizeram história como protagonistas. 

A produção do conhecimento de gênero na Bahia tem forte presença do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher (Neim). Vou trair minha categoria e, com as revelações das musas e do TCC de Alessandra, lembrar de algumas de nossas ativistas. 

A primeira delas é Dilma Mendes, treinadora que revelou Formiga. Ela destacou-se nos anos 1980, quando a Bahia teve campeonatos femininos de primeira e segunda divisões, pode acreditar, com 40 times organizados. Não se pode apagar um registro desse! 

Referência fundamental também é Maria Helena Nova, principal jogadora deste período em que havia partidas de mulheres transmitidas pela tevê e a Fonte Nova pegava até 30 mil torcedores para aplaudir os bons times femininos. Tem mercado!

Outros registros são as comunicadoras: Suleima Senna, primeira mulher a ter programa de rádio de futebol, e Clara Albuquerque, autora de um guia de futebol voltado para as torcedoras e primeira a ter coluna de futebol em jornal, na reinvenção do Correio*. 

A pioneira a apitar jogo de futebol profissional de homens na Bahia foi Rosana Vigas. Um ardil da CBF impediu Rosana de ir em frente, quando a entidade determinou que árbitros e árbitras teriam de alcançar os mesmos índices nos treinos físicos. 

A artilheira Fabiana Simões, a Fabigol de Periperi, entra nesta história de superação como titular da seleção (embora tenha sido cortada desta Copa por lesão), assim como jamais podem cair no esquecimento as grandes craques Sissi, daqui de Esplanada, Flor de Liz e Soró, de Feira de Santana. 

Telma foi a desbravadora, ao jogar nos Estados Unidos, onde as mulheres construíram seu espaço, organizando-se em ligas para ampliar o relacionamento com o mercado e a presença na imprensa, entre outras táticas. 

Falta lembrar muita gente, entre copeiras, lavadeiras, faxineiras, psicólogas e mulheres de diversas profissões, que têm dado sangue pelo futebol feminino, proibido no Brasil por decreto presidencial por 38 anos, entre 1941 e 1979. 

Entre as equipes históricas, temos o São Francisco, nossa maior campeã, além do Flamengo de Feira, Bahiano de Tênis, Galícia, Euroexport e tantas outras, que já demonstraram serem as mulheres talentosas e boas de bola. O jogo e a luta continuam.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.