A caminho da canonização, beata Lindalva Justo de Oliveira recebe homenagens em Salvador

Religiosa foi assassinada em 1993 por um interno do abrigo Dom Pedro II

  • D
  • Da Redação

Publicado em 8 de janeiro de 2022 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Fróes/CORREIO

“Alguns anos se passaram, a lembrança permanece. O teu martírio, Lindalva, não podemos esquecer.” Esses foram os versos iniciais do canto de abertura da missa na Capela das Relíquias, nessa sexta-feira (7), em homenagem à beata Lindalva Justo de Oliveira, que está no caminho para a canonização. A celebração contou com a presença de duas dezenas de fiéis. A religiosa, que cuidava dos idosos com muito amor, dedicação e alegria, sempre cantando e rezando o Terço com eles, foi assassinada em 1993 após decidir não renunciar à sua fé.

O local onde foi realizada a missa, que fica no Instituto Nossa Senhora da Salette, em Salvador, é onde estão sepultados os restos mortais de Lindalva. A irmã foi assassinada com 44 facadas, no Abrigo Dom Pedro II. O assassino, Augusto da Silva Peixoto, também interno do abrigo, teria cometido o crime porque estava apaixonado pela religiosa e não foi correspondido. Por conta do martírio, não foi necessária a comprovação dos três milagres para que se tornasse beata, por isso, o processo foi considerado um dos mais rápidos da história. Mas, para a canonização, é necessária a comprovação de um milagre que tenha acontecido após a beatificação. No caso da beata Lindalva, já existe um episódio sendo analisado pelo Vaticano. 

Lindalva participava de atividades na igreja na adolescência, mas ainda não havia decidido pela vida religiosa até receber o convite de uma amiga chamada Conceição. A irmã Conceição diz que, quando conheceu a beata, ela era uma moça feliz, animada e que tinha muita fé, por isso, a convidou para a igreja. Além disso, ela afirma que já há alguns depoimentos, mas que ainda procura relatos de milagres para que seja feita a canonização de Lindalva. A irmã conta que um dos testemunhos é de um jovem do Rio Grande do Norte, estado de origem da devota. “O rapaz afirma que conseguiu entrar em processo de recuperação de uma doença, considerada pelos médicos como incurável, graças à intercessão da beata”, relata.  Irmã Conceição convidou a beata para a vida religiosa (Foto: Paula Fróes/CORREIO) O arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Sérgio da Rocha, que realizou a missa, destaca que Lindalva é um exemplo de caridade e serviço aos pobres, aos enfermos e aos idosos. “No mundo de hoje, em meio à pandemia de covid-19 que já matou e deixou sofrimento para tantas pessoas, nós precisamos seguir o exemplo da irmã Lindalva. Ela morreu servindo”, destaca o religioso. Lindalva já é intercessora de todas as pessoas, de modo especial das mulheres que ainda hoje sofrem agressões, uma vez que ela também foi vítima deste tipo de violência. Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Sérgio da Rocha (Foto: Paula Fróes/Correio) Dentre as homenagens à beata, foi realizada uma missa na Capela do Martírio, localizada no Abrigo Dom Pedro II, no dia 4 de janeiro. No dia 5, foi feita uma missa na Capela das Relíquias, localizada no Instituto Nossa Senhora da Salette, nos Barris. No dia 6 ocorreu uma missa no Santuário Santa Dulce dos Pobres e, nessa sexta, ocorreram duas missas, uma na Capela das Relíquias e outra na Capela do Martírio, no Abrigo Dom Pedro II. 

Sobre Lindalva  Nascida no dia 20 de outubro de 1953, no Sítio Malhada da Areia, na cidade de Açu, no Rio Grande do Norte, Lindalva Justo de Oliveira era a sexta filha de uma família com 13 irmãos. Os pais, João e Maria Lúcia Justo de Oliveira, batizaram a menina no ano seguinte ao nascimento, em 7 de janeiro, data em que todos os meses ela é homenageada. Aos 12 anos, Lindalva fez a Primeira Eucaristia. De origem pobre, aprendeu ainda na infância o valor da fé cristã, da família e do trabalho. Ao finalizar o Ensino Fundamental, trabalhou como babá, mudando-se para Natal em 1971, para morar com a família de um de seus irmãos.

Irmã Lindalva foi admitida à Congregação no dia 16 de julho de 1989, em uma Missa celebrada por Dom Hélder Câmara. Um mês depois, ela escreveu uma carta para a amiga Conceição com as seguintes palavras: “Eu estou muito feliz, é como se eu tivesse sempre morado aqui. O meu destino está nas mãos de Deus, mas desejo de todo coração servir sempre com humildade, no amor de Cristo”. Após concluir a segunda etapa do Postulado, ingressou no Noviciado.

A conclusão do Noviciado foi em 26 de janeiro de 1991. Como de costume, ao término deste período, as Irmãs são enviadas para missão: Irmã Lindalva foi enviada para o Abrigo Dom Pedro II, em Salvador, na Bahia, onde assumiu o ofício de coordenadora do pavilhão de idosos.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo