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A censura no fim do mundo

  • Foto do(a) author(a) Jolivaldo Freitas
  • Jolivaldo Freitas

Publicado em 23 de abril de 2019 às 16:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Foi uma vergonha para o STF o desempenho do seu presidente Dias Tofolli e seu colega ministro Alexandre de Moraes, que colocaram para o fundo do poço a já tão desgastada imagem do Supremo Tribunal Federal. Uma corte que vinha com uma história de extremo cuidado com a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, graças à atuação de doutos ministros que passaram pela instituição desde a Constituição de 1988. O ato dos ministros de virem a censurar a revista Crusoé e o site O Antagonista foi um dos maiores retrocessos na história do Brasil e serviu apenas para destacar os seguintes itens: fez o país perder posição no ranking de liberdade de imprensa no mundo, indo para a posição de número 105 entre todos os países; desmoralizou o STF, uma vez que neste país realmente polarizado e onde os juízes vêm sofrendo pressão e tentativas de desmoralização, conseguiu unir esquerda e direita numa revolta barulhenta; manchou a história da casa.

Para Alexandre de Moraes restou entrar na história como o primeiro ministro censor do STF após a redemocratização do país e que teve de ceder à pressão dos organismos e instituições democráticas e à crítica popular. Para Dias Tofolli ficou a sensação de ter dado um tiro no pé que só serviu para chamar mais a atenção, ampliando o interesse e as buscas pelo assunto que ele tanto queria esconder (a reportagem que revela depoimento de Marcelo Odebrecht dando conta que na lista da sua empresa Tofolli seria “o amigo, do amigo do meu pai”. Com todas as implicações que possam advir).

Censura é algo que até hoje se encontra de forma negativa no imaginário popular e se vem do STF causa mais estranheza e revolta pois todos se sentem desamparados. Os argumentos dos ministros de que a reportagem se tratava de fake News não perdurou, vez que o que estava sendo exposto realmente tinha sido revelado e estava nos documentos. Fake News, portanto, foi a argumentação sem nexo e sem cabimento dos autores dos atos de censura.

Mas, pelo que se pressente o STF anda numa imensa crise de identidade e até confunde o que ofende seus ministros ciom aquilo que ofende a mais alta corte de direito do país, de forma imperial e como se viu, em alguns momentos destemperados. Além da questão da censura o STF também se mostra em franca esquizofrenia, a partir do momento em que vê inimigos por todos os lados, como os procuradores que estariam promovendo suspeições contra ele, ou movimentos sociais que poderiam estar concretizando ações difamatórias, empresas que veem financiando agentes contra o Supremo e até uso de robôs via redes sociais num amplo processo de incentivar o ódio contra os ministros.

Esse negócio de censura seria engraçado se não fosse trágico. Enquanto o STF censurava a Crusoé e o Antagonista, milhares de sites e blogs passaram a publicar a reportagem que Toffoli tanto temia ser revelada. É difícil hoje censurar com o advento da internet e de outros mecanismos de disseminação de ideias e informações. Já nos anos 1970 no auge da ditadura militar os censores se enrolavam, imagine agora. Naqueles tempos a questão era tão louca que muitas das vezes um censor chegava numa redação e dizia que não se podia publicar certo assunto. Ocorre que ele estava revelando um assunto que até aquele momento ninguém sabia, mas então passava a saber e mais cedo ou mais tarde vinha à baila na imprensa. Censurar é ter medo, é enganar é ser boçal. Como no caso dos dois ministros do STF.

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores