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Waldeck Ornelas
Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
No Brasil, por definição legal, são cidades apenas as sedes municipais. E os municípios carregam o nome de sua sede. A realidade socioeconômica e físico-territorial nos mostra, contudo, que existem cidades que não são sedes municipais e que não precisam disso para serem cidades. Assim, terminam, de fato, ocorrendo municípios com mais de uma cidade.
É o caso de Camaçari. Tipicamente urbano, o município tem 210 mil habitantes na sede e outros 90 mil habitantes na costa. Isso cria uma situação singular, em que a prefeitura administra, na prática, duas cidades, e mais: com perfis e vocações urbanas distintas e específicas.
A cidade de Camaçari é um aglomerado urbano tradicional que, ao longo dos anos 1970, recebeu a implantação do Polo Petroquímico do Nordeste – o maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul – e tornou-se hoje um diversificado polo industrial, formado por mais de 90 empresas químicas e petroquímicas, setor matriz inicial, a que se agregou recentemente um complexo acrílico, mas também, ao longo do tempo, fábricas de automóveis, pneus, energia eólica, fármacos, bebidas, celulose, metalurgia do cobre, entre outras.
A costa de Camaçari, situada entre a foz dos rios Joanes e Pojuca, conta com 42km de praias e desenvolveu espontaneamente um modelo de urbanização linear servida pela Estrada do Coco (BA-099), onde se destacam as localidades de Busca Vida, Abrantes, Jauá, Arembepe, Barra do Jacuípe, Genipabu, Guarajuba, Itacimirim, Barra do Pojuca, Monte Gordo e Areias, entre outras, apresentando grande importância turística. Faltava, no entanto, vê-las e tratá-las em conjunto, como uma única aglomeração urbana, para dar-lhe identidade e visibilidade.
É certo que o forte predomínio da imagem de município industrial ainda esconde a percepção de que há uma segunda cidade no mesmo território, caracterizada esta pela função turístico-residencial, exercendo o mais importante papel como área de veraneio da população soteropolitana, mas não só dela. No Verão, ultrapassa a 100 mil o número de habitantes temporários da Costa de Camaçari, mais do que duplicando sua população, além dos turistas propriamente ditos.
Cerca de 14km separam a cidade e a costa, interligadas por duas rodovias estaduais: as Vias Atlântica (BA-530) e Cascalheira (BA-531), ambas pavimentadas e, inclusive, parcialmente duplicadas. Segundo o plano local, a mobilidade estará a cargo de um sistema de transporte coletivo com terminais de integração na cidade-sede e nas interseções das vias Atlântica e Cascalheira com a Estrada do Coco.
O reconhecimento de que o município conta com duas importantes aglomerações urbanas, com funções e características próprias e diferenciadas, aliado ao fato de não serem conurbadas, longe de ser um problema, constitui-se em grande diferencial e uma vantagem para o processo de desenvolvimento local. É que a especialização funcional urbana – aprofundando suas características, acentuando suas diferenças e valorizando os seus perfis – com o estímulo à complementaridade entre as duas cidades, dá suporte a uma estratégia municipal de desenvolvimento integrado que visa diversificar a economia e ampliar as possibilidades do município. O resultado esperado é um desenvolvimento harmônico, capaz de assegurar boa qualidade de vida aos habitantes de cada uma delas.
Assim, a Cidade de Camaçari continua a sua saga como Capital Industrial do Nordeste, desenvolvendo agora comércio e serviços, buscando tornar-se uma cidade sustentável, em padrão compatível com o parque industrial que hospeda, enquanto a Costa de Camaçari torna-se um destino turístico privilegiado, situado a apenas 9km de um aeroporto internacional, incrustado em uma região metropolitana de grande porte, com oferta de sol e praia, cultura, esportes, diversão, gastronomia e atrativos naturais, que começa a ser reconhecido nacional e internacionalmente.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da BA
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores