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Paulo Leandro
Publicado em 26 de maio de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Provavelmente foi mentira que o Brasil, estarrecido, ouviu a ministra de Estado dizer que no Nordeste se ensina bruxaria a criança de seis anos. Não sei se ela diz estas coisas para descontrair o ambiente, mas sabe que nesta ela pode ter sua razão?>
Esta parte do país de cangaceiros, conselheiros e #lulaslivres tem mesmo este carrego. Quando nossos times derrubam os deles, é bruxaria. Agora, se nos permite a doutora ministra, temos o acréscimo das rezas do empreendedorismo dizimista neopentecostal.>
Então, o campeão do dendê bateu o São Paulo lá dentro? É feitiço! Lembrar que o São Paulo é freguês, ninguém lembra. VTNC, seus “paulista”: ao surrar de 7x2 o São Paulo, o Bahia inspirou o jornalista Aristóteles Gomes a criar o termo Esquadrão de Aço em 1947.>
O aço, para uma Salvador que crescia verticalmente, é necessário na construção civil: naqueles anos 1940, os arranha-céus orgulhavam os soteropolitanos e o Bahia traduziu este sentimento.>
E hoje, será que arriamos oferendas suficientes para amarrar os fluminenses? É preciso demonstrar a tese da ministra PhD orientanda de Nosso Senhor Jesus Cristo e aprovada em banca de bispos – riquíssimos... em sabedoria.>
Sem bruxaria, não teríamos vencido este mesmo Flu, no dia que deu mais gente na Fonte Nova, muito antes de virar esta bela arena que nem é bom escrever sobre ela, pois a perseguição pode vir em forma de mais um, mais um afastamento deste cronista.>
Na era da Bahia arcaica, quando a Fonte era nossa, Lourinho, o macumbeiro da galera, adorava espetar bonecos nas cores do adversário e sair desfilando com eles amarrados pela pista de atletismo que ficava entre o gramado e a plateia. Feitiçaria da zorra!>
Mas na semifinal do Bi de 1988, Lourinho mudou o trabalho: arriou um agdá gigante cheio de farofa e galo sem cabeça, bem na porta do vestiário cheirando a lavanda do Fluminense.>
Meus amigos laranjeiras não-homofóbicos (Paulo César Gomes, Xô, Tê, Kazé e Nelson Rodrigues) concordam que o Flu tem este jeitinho mais educado desde o berço aristocrata.>
O ebó-fraude de Lourinho pode não ter alcançado a dimensão ministerial das bruxarias nordestinas, mas deu dano moral naquelas fardas lavadas a Omo total. Cada jogador, ao chegar, chutava com vontade, misturando a “farofa” à água do vestiário.>
A farda de um clube é a manifestação de sua alma: quando é um Fluminense, então, a meleira deve ter sopesado. O resto todos sabem: Bahia 110 milx1, de virada, gols de Bobô, Gil, Lourinho e mais 110 mil e tantos bruxos, sem contar os que não entraram no borderô.>
Hoje, com a torcida mais parecendo plateia bonsai de clientes (lá vem criticar a arena de novo, não pode!), o campo fica meio neutro, mas aqui é terra de bruxo ou não é, a ministra disse ou não disse que desde criancinhas, aprendemos a fazer bons feitiços?>
Hoje estamos bonitos, branquinhos e riquinhos, pois excluímos os feios, pretos e pedintes; não tem mais a parada do Orgulho Bozó de Pai Lourinho, nem o xaréu da inclusão quando faltava meia hora pro fim do jogo.>
Sem querer perturbar nossa PhD, pois quem é inteligente assim não se deve contrariar, o Bahia confia hoje na sua própria força para obter uma nova vitória (ops, fica chato escrever Vitória em texto do Bahia). Mas que arriar um ebó ajuda, isso sempre ajuda!>
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.>