A cultura do medo e o medo da Cultura

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  • Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2022 às 05:09

- Atualizado há um ano

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Em 1935, Luís Carlos Prestes, junto a Olga Benário e mais alguns, organizaram uma Intentona Comunista, com o objetivo de derrubar o governo de Getúlio Vargas. Eles esperavam mobilizar as massas, contavam com o engajamento dos trabalhadores, mas nada disso aconteceu. O resultado foi a prisão de Prestes, Olga deportada aos nazistas para morrer num campo de concentração, e Getúlio aproveitou o clima tenso para endurecer medidas de perseguição, censura, dar um golpe de estado e, em 1937, começava a ditadura do Estado Novo.

Lendo alguns livros e artigos sobre a intentona, parece um consenso que houve um grande erro de estratégia – a derrota acachapante não deixa dúvidas – e, também, que pela última vez o Brasil esteve sob uma (leve) “ameaça” comunista.

Mas outra coisa chama a atenção. Uma fake news. O Governo Vargas inventou um tal Plano Cohen, de comunistas que pretendiam dar um golpe no país, para poder dar seu próprio golpe. Ali, ficava claro que a cultura do medo era a melhor forma de cooptar a sociedade.

Mas essa cultura foi refinada. Quando Getúlio voltou, pelos braços do povo, sua política nacionalista que buscava cobrar um valor justo sobre os lucros estrangeiros, e a campanha O petróleo é nosso, para além das reformas trabalhistas, fizeram de seu governo, a partir de 1950, algo desagradável aos EUA e às elites financeiras do país.

Juntou-se, então, à ameaça comunista, o problema da corrupção. Falava-se num mar de lama, roubalheira na Petrobras. Getúlio quase provou do próprio veneno, sofrendo um golpe; e pagou com a vida. Não fosse seu suicídio, e o golpe militar, adiado 10 anos, teria sido consumado.

A renúncia de Jânio Quadros, em 1961, ligou novamente o sinal de alerta dos EUA e das elites financeiras. João Goulart, vice de Jânio, que fora ministro do trabalho de Getúlio, iria ser empossado, e prontamente tentaram impedi-lo de assumir a presidência. Não deu certo, mas a partir de 1962 os EUA começaram a financiar campanha de deputados e a fundação de dois institutos, o Ibad e o Ipês, com o intuito de plantar fake news e a cultura do medo na população brasileira.

A fórmula era fácil: desestabilizar os pilares: Deus, tradição, família e propriedade. Prontamente, começou-se uma campanha mentirosa e suja, dizendo que João Goulart e seu governo iam transformar o país numa Cuba, comunista, que era um governo corrupto, que era contra Deus e a família.

Boa parte da população, amedrontada, caiu nessa, ajudando, assim, a se sedimentar o golpe que viria a acontecer em 1964.

Li, recentemente, uma postagem do professor Wilson Gomes, dizendo que estava estudando a Igreja Universal do Reino de Deus em 1989. Nos cultos, os pastores diziam que Lula era o capeta, que era comunista, e que aquela eleição era uma luta do bem contra o mal.

Facilmente cooptados, e já doutrinados contra os malvados comunistas ateus abortistas depravados corruptos, muitos fiéis, soldados, familiares, pequenos empresários, todos estes acabam por facilmente cair em mentiras e numa cultura do medo. Como consequência natural, a cegueira quanto à realidade. Não importa que, num período específico, onde quase nada o salário aumentou, quase tudo tenha triplicado de preço, por exemplo. Educação, saúde, meio-ambiente, cultura, economia, todos os setores estratégicos estejam em crise total. Será sempre a luta do bem contra o mal, baseada na cultura do medo, trazendo fantasmas feitos do lençol mais vagabundo que se pode comprar.

Soa como loucura, um despropósito, mas a maioria das pessoas parece se sentir melhor sob trevas, vivendo um obscurantismo, e ouvindo a voz de alguém que ela elegeu para seu guia; seja espiritual, seja social, político, mas um guia. E a única forma de sair dessa caverna é através da cultura. É lendo, ouvindo, assistindo, interpretando, estudando, abrindo a mente para uma outra sensibilização e informação; e não se deixando enganar por falsos profetas.

Um povo com acesso a uma diversidade e riqueza cultural não cai em mentiras como as que, vira e mexe, grupos políticos soltam estrategicamente para amedrontar. Um povo culto saber ler a Bíblia, sabe que Jesus pregava o amor ao próximo e que ele ficava ao lado dos marginais e contra um governo opressor. E foi preso, torturado e crucificado por isso. Um povo culto sabe que nenhuma religião é demoníaca, demoníacos são os que incitam a intolerância com o diferente. Um povo culto sabe que não existe ameaça comunista desde 1935. Sabe que nem Deus, nem a família e nem a propriedade estarão nunca ameaçadas no Brasil.

É por isso que a Cultura, também, é demonizada. A Arte, a Universidade, lugares de produção de conhecimento e crítica são atacados porque é sempre melhor viver nas sombras. Os mentirosos têm medo da cultura, e, para isso, se utilizam da cultura do medo.

O medo, o preconceito e a intolerância são alimentados pela ignorância e nos levam ao ódio, às trevas.

E o conhecimento e a cultura nos salvam, nos dão luz. Fiat lux.